_ CASCA GROSSA _
Ali está ele. Agressivo, desafiante, cara de poucos-amigos. Seus mil olhos me encaram. Pontiagudas espadas serrilhadas ele ostenta. Fere só dele aproximar-se ou tocá-lo. Porém, intuo que ali se oculta um misterioso segredo e que tal aparência seja apenas defesa e receio. Lanço-lhe meu olhar e observo. Decido: não recuarei, opto pelo enfrentamento. Mas, como? Tal tarefa exige cuidados e paciência.
Com dificuldade, arranco-lhe as espadas. Lentamente, vou retirando-lhe a áspera e dura armadura com que se reveste e que me fere os dedos. Insisto na empreitada de desvendá-lo. Paulatinamente, a armadura vai se destacando. Está agora quase totalmente desnudado. Surpreso, vejo surgir uma amarelada massa de seu interior. Decido mordê-la. Qual não é minha surpresa! Uma infinita doçura, que me impele a devorar mais um naco. Como pode algo tão repelente conter tão inebriante sabor! Enfim, saboreio avidamente o quase inexpugnável abacaxi!
Assim penso serem também certas pessoas, que, de maneira tosca e agressiva, afastam quem delas tenta se aproximar. Como erramos em nossos pré-julgamentos! Sempre há uma história por trás das pessoas. Certamente, bastam algumas palavras de aceitação, persistência na oferta de atenção e compreensão, uma certa paciência e... delas brota uma personalidade de inimaginável delicadeza e temperamento afável. Jamais podemos tão facilmente desistir das pessoas, pois podemos estar perdendo a oportunidade de um bom relacionamento e até de uma rica amizade. Além do mais, estaremos em pleno exercício de "amor ao próximo" .
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