Porcaria de Século 21
Hoje está muito difícil saber qual é a expressão que aparece no rosto da pessoa quanto você faz aquela piada. Está muito difícil saber as diferenças de significado entre os tons de voz. Hoje a gente não consegue saber, tão confiantemente, que a mensagem foi bem transmitida (irônico isso). Não temos a conclusão da conversa no fim das contas. Isso mesmo! Não sabemos o resultado, o humor que ficou, o clima deixado, a quantidade de lágrimas nos olhos, o ângulo do sorriso, a velocidade dos movimentos das mãos...
É duro, muito duro não ter mais tantos códigos silenciosos baseados em olhares como antes. É duro não ter uma lista de reações certas e seguras da pessoa decoradas com o tempo tão grande quanto se tinha antes. É muito chato não estar presente na hora de dar uma livrada na cabeça, de chutar o pé por baixo da mesa, de puxar pelo braço pra mudar de direção... Ou pior: não se sentir a vontade para fazer tudo isso, por falta de proximidade verdadeira.
De quantos amigos seus você sabe qual é a comida favorita? Achou demais saber isso? A cor favorita? Ok. Vamos pular o monte de coisas que você não sabe sobre eles. De quantos você sabe a data de aniversário?
Estamos muito mais propícios a ofender sem querer e a não sentir quanto alguém próximo foi ofendido. Estamos despreparados para elogiar também, porque pelo celular isso é muito fácil! Isso enjoa muito mais fácil também.
Ninguém se toca mais para tirar o casaco e cobrir a moça que treme. Não é mais normal carregar a mochila do amigo sem ele pedir. Não se tem mais coragem de sentar do lado do cabisbaixo para colocar a mão no ombro ou... Sei lá, suspirar alto o suficiente para dar o recado de compreensão.
Ensinar o novo companheiro a apreciar algo estranho no lanche da tarde parece algo extinto, isso porque, agora, o mais razoável parece ser mandar a mãe fazer alguma outra coisa para ele comer.
Onde está aquela rotina de ligar o som que ambos gostamos e dançar ridiculamente juntos? Por que querer criar um toque de membros demorado e engraçado para comemorar as coisas hoje é algo tão ridiculamente bobo? Alguém ainda consegue guardar um segredo do tipo “Eu tenho medo do escuro ainda, sério, muito medo!”, sem acrescentar uma igreja inteira ao grupo de confidentes?!
É horrível mandar quem disse algo “nada a ver” no Whatzapp calar a boca e só descobrir se ela ou ele ainda ama a gente uma semana depois.
As encrencas hoje em dia estão muito individuais. Coisa muito difícil é encontrar aquela dupla ou trio que se ferra junto e ri junto depois. Os intervalos entre os micos estão muito grandes. Todo mundo é capaz de consolar pela internet, mas pessoalmente... Todo mundo é capaz de matar um urso por alguém no facebook, mas pessoalmente...
Até para sermos sedentários, gordos! Nós estamos deixando de contar com companhia fiel.
Vamos lá, sociedade, não precisa abrir mão da tecnologia! Só lembre-se que precisamos de pouco para ser feliz!
Quem escreveu esse texto não é um carente, um pobre coitado, um perdido, atrasado ou bobinho. Não sozinho!!! Porque a grande verdade é que todo o mundo está carente! Pelo menos nessa estamos todos juntos!
Para finalizar: Não continue fazendo do Século 21 uma porcaria, viva os clichês.