A Curiosidade e o Interesse
A palavra interesse tem sua origem no latim e significa estar entre. Podemos dizer que é uma postura mental ativa diante de algo que nos chama a atenção. Leva-nos a aprofundar no objeto que estamos vendo ou analisando com os olhos mentais, a observação e o entendimento. Quando existe o interesse, os fatos, as sensações, as experiências fixam-se fortemente nos arquivos da vida, os da mente e da sensibilidade, sendo jamais são esquecidos. Podemos nos interessar por uma pessoa, um animal, um objeto, uma paisagem, um conhecimento. Deveríamos, antes de tudo, interessar-nos por nós mesmos; pelo que somos e poderemos ser. O interesse implica sempre numa responsabilidade, profundidade, e nunca na superficialidade, como no caso da curiosidade, que pôde ter sua utilidade nas primeiras etapas da vida do homem na Terra, como o tem para as crianças, que reproduzem aquela fase da evolução da espécie, mas que quando adultas deverão substituir a curiosidade pelo interesse, a superficialidade pela profundidade.
Existe um tempo para a curiosidade e um para o interesse, como um para infância e outro para a maturidade, embora devamos procurar manter em nossas mentes e corações a criança que fomos um dia, como um tributo de gratidão àquela fase iluminada e feliz.
No livro Deficiências e Propensões do Ser Humano, o educador Carlos Bernardo González Pecotche caracteriza a curiosidade como um pensamento com origem num impulso instintivo, adequado ao rude homem primitivo e aceitável também nas crianças. E que no adulto este impulso natural pode se transformar num grave defeito, que leve a pessoa a bisbilhotar a vida alheia, sempre ávida de informação, ocupando-se do que não deveria e causando muitos problemas para si mesmo e os outros. Grave defeito que tem distanciado tantas pessoas, pois o intrometido e indiscreto está sempre a vigiar os outros se esquecendo de si, que é quem mais deveria lhe interessar.
Para que a pessoa mude e se torne circunspecta, explica o educador, será necessário mudar esta postura curiosa e passar “do superficial ao profundo das coisas, do que não é transcendente ao importante e transcendente, da curiosidade ao interesse, que se justifica no fim perseguido”.
A tarefa não é fácil e nem difícil. Exigirá a vontade e o empenho de quem pretenda deixar de ser curioso e superficial para interessar-se por motivos e assuntos que transcendam a vulgaridade enfeitiçadora e hipnotizadora.
No mesmo livro o autor descreve o interesse como antípoda da indiferença, outro pensamento negativo, que provoca ausência mental e sensível da pessoa em relação ao que lhe rodeia. Uma indiferença que pode surgir de fracassos, derrotas e levar uma pessoa a ficar doente pelo desleixo com a saúde, ou até ao suicídio, em casos extremos.
E conclui o autor exortando a quem padeça do mal da indiferença para que lute contra esta tendência negativa: “A vida não deve ser indiferente a nada. A morte, sim, é indiferente a tudo, e a frieza da indiferença assemelha-se, eloquentemente, ao mutismo da tumba”.
Tais palavras nos trazem à recordação a Comédia de Dante onde o poeta diz que “o pior dos suplícios é sentir-se morto sem acabar de morrer, é sentir-se quase vivo estando morto, e, ansiando morrer, seguir vivendo”.
Nagib Anderáos Neto
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