Tráfico de Africanos para o Brasil

INTRODUÇÃO

A base da etnia brasileira, ainda em formação, foi o nativo, o indígena, o considerado descobridor e colonizador, o português, e o escravo africano.

O trabalho realizado em 2013, “Matriz Brasil” discorreu sobre a matriz indígena e o de 2014 e 2015, titulado “Mestiçagem em Preto e Branco”, tem a pretensão de abordar as duas outras matrizes.

Nos artigos: “Os Nativos da Península Ibérica, os Iberos”; “Os Celtas na Península Ibérica”; “Os Romanos na Península Ibérica”; “Os Germânicos na Península Ibérica”; “Os Mouros na Península Ibérica”; e “Colonizadores Portugueses” discorremos sobre a matriz portuguesa e, nesse artigo, e no próximo - “A Matriz Africana do Brasileiro”- a intenção é levar algum entendimento sobre nossa matriz africana.

Achamos por bem nesse artigo, discorrermos sobre escravismo, pois foi na condição de escravo, que o africano participou da construção da base do povo brasileiro, jovem povo ainda em formação. E, a seguir: as causas; a mudança da rota; e o processo do tráfico de escravos africanos para o Brasil.

ESCRAVISMO

O que é

Também denominado escravagismo, escravatura, é sistema econômico e social, construído por meio da força, no qual o estado, ou o indivíduo assume direitos de propriedade sobre outros indivíduos, designados escravo.

Assim, o escravo, como um bem, pode: no caso do Estado, ser concedido para uso por outros; e, no caso de indivíduos proprietários, vendê-los, trocá-los, usá-los como pagamento de dívidas, dá-los e, até mesmo torná-los livres, alforriá-los.

Em todas essas ações arbitrárias e autoritárias, o escravo não tem qualquer direito, assim como não tem qualquer bem ou mercadoria.

Nas transações comerciais e financeiras, os preços dos escravos variavam conforme as condições físicas, habilidades profissionais, a idade, a procedência e o destino.

O modo de produção na economia escravista se assenta na exploração do trabalho forçado da mão de obra escrava. Os senhores alimentam os seus escravos e apropriam-se do produto resultante de seu trabalho.

Nas civilizações escravagistas, não existia preocupação dos senhores em aperfeiçoar métodos de produção para aumentar a sua riqueza. A preocupação maior era com a força de trabalho, com o contingente de mão de obra.

Cabe aqui o registro da diferença entre a servidão, no feudalismo e a escravidão, no escravismo.

Os servos no feudalismo não eram propriedade dos senhores que tinham o direito à propriedade das terras. A servidão implicava no trabalho forçado dos servos nos campos dos senhores de terras, em troca de proteção e do direito arrendar terras para subsistência.

Ilustrações históricas

A escravidão foi praticada por muitos povos, em diferentes regiões, desde as épocas mais remotas.

Pesquisas arqueológicas mostram que a escravidão foi praticada na Europa, pelo menos, desde o Neolítico (10.000 a 3000 a.C). A partir do V milênio a. C., com o início da revolução urbana, os prisioneiros de guerra, no lugar de serem sacrificados em cerimônias antropofágicas, passaram a ser usados como trabalhadores cativos.

O sistema escravista alcançou seu auge entre os europeus nas civilizações grega e romana, época em que milhares de pessoas foram traficadas como escravas no Mar Negro e no Mediterrâneo. A maioria desses escravos tinha origem europeia, embora também viessem das colônias africanas e asiáticas.

Na Grécia, os escravos de Esparta, os hilotas, eram propriedade do Estado.

Em 1580 a.C., navios já partiam do Egito para a Somalilândia (contido na Somália)com o único objetivo de capturar escravos.

Com o avanço do islamismo na Península Arábica, o tráfico de escravos negros se intensificou, com a formação de postos comerciais na África oriental por comerciantes árabes.

Nos séculos V e VI, traficantes árabes chegaram até a África ocidental e iniciaram o tráfico de escravos, que culminou na escravização de milhões de africanos negros, que foram mandados para as regiões islamizadas do norte da África e para os países árabes.

No final do século XV e início do XVI os europeus chegam ao continente africano e o tráfico, que já era intenso há vários séculos, cresceu mais ainda.

No que viria a ser o Brasil, a escravidão já era praticada pelos índios, na sua forma mais primitiva, bem antes da chegada dos europeus. Nessa prática, os escravos raramente tinham um valor econômico, sendo símbolo de prestígio.

Entre os tupinambás, os cativos serviam para serem exibidos como troféus de valor militar e honra, ou como carne a ser devorada em rituais canibalescos, que poderiam acontecer até quinze anos após a captura.

TRÁFICO DE AFRICANOS PARA O BRASIL

CAUSAS

Para entendermos os porquês do tráfico de africanos para o Brasil, temos que recapitular o momento econômico e tecnológico da época.

Implantara-se um “sistema mercantil internacional”, que exigira das nações concorrentes na construção de seus impérios: a expansão marítima e as consequentes descobertas; pilhagens; saques; e a colonização como meio para formação de empresas mercantis.

A metrópole portuguesa decretara o monopólio do comércio e o controle de preços, que exigia produção em escala a baixo custo, pois, caso contrário, não compensaria os altos investimentos feitos pelos que aqui chegaram, para implantar a empresa mercantil colonial.

O trabalho assalariado ficou totalmente incompatível aos desejos da metrópole e dos novos senhores da colônia.

A exaustão, a inaptidão e inadequação da mão de obra indígena, somada com a ausência de grande contingente de mão de obra em terras brasileiras levaram a utilização do trabalho de africanos escravizados, já utilizado com sucesso por Portugal nas ilhas da Madeira e Cabo Verde, onde se cultivava a cana de açúcar.

A captura e o tráfico de escravos africanos geravam grandes lucros.

MUDANÇA DE ROTA DO TRÁFICO

Inicialmente, com o objetivo de encontrar ouro os portugueses ocuparam o litoral oeste do continente africano. Entretanto, registros indicam que, por volta de 1470, o comércio de escravos africanos tinha se tornado o maior produto de exploração.

Ou seja, o tráfico de escravos substituía com lucratividade competitiva os saques ao ouro. No século XV, Portugal e algumas outras regiões da Europa eram os principais destinos para a mão de obra escrava apreendida no continente africano.

Foi a colonização no Novo Mundo, que mudou a rota do mercado consumidor de escravos e fez com que o comércio fosse praticado em grande escala.

PROCESSO

A maioria dos escravos africanos chegou ao Brasil por meio de raptos, ou em guerras capturados e feitos prisioneiros.

Os raptos, em sua maioria, realizados por intermediários africanos. Apanhados por armadilhas, como se fossem caças e arrastados para as praias, pelo mercador africano, o “pombeiro”, onde eram trocados por mercadorias, como aguardente, tabaco, bijuterias e bugigangas.

A captura em guerras, apesar de o propósito não ser a escravidão, muitos prisioneiros tiveram o mesmo destino.

Submetidos à escravidão, partiam em comboios com seus pescoços ligados por corda até o porto, onde os navios negreiros os aguardavam para o transporte.

Navios negreiros, ou tumbeiros tinham porões largos, onde era despejado enorme contingente, que viajaria em condições insalubres e desumanas. Africanos de todas as idades, sexo e origens estavam presentes nestes escuros porões.

Para evitar rebeliões, eram separados propositalmente de suas famílias e membros de seus grupos. O alimento, sobras do que os tripulantes do navio haviam consumido, era despejado de cima da embarcação. A tripulação do navio não se importava se todos recebiam ou não a sua cota.

Nessas condições, os 70% em média que escapavam vivo dessa travessia, aportavam na outra ponta do processo. Os 30% mortos eram jogados ao mar, quase sempre depois de tempo considerável, contribuindo para piorar as terríveis condições de higiene.

Ao chegarem ao Brasil, eram examinados e avaliados pelos dentes, pela grossura dos tornozelos e dos punhos, pela aparência física e eram arrematados. Substituídas as cordas por correntes, outro comboio os levava aos seus novos senhores onde, com seu trabalho escravo, garantia o êxito da empresa mercantil do império Português, a Colônia Brasil.

CONSIDERAÇÕES

De posse das informações acima, torna-se fácil concluir:

- submeter à escravidão não foi característica de povo atrasado em seu desenvolvimento econômico e social, nem tão pouco em algum povo específico, ou muito menos característica de algum grupo religioso;

- fica claro o entendimento que o escravismo foi praticado desde grupos considerados mais atrasados como o nosso indígena (politeístas) até povos considerados como exemplos na época de civilização como: egípcios (politeístas na antiguidade, depois henoteistas e finalmente islâmicos), gregos (politeístas, depois cristãos ortodoxos orientais), romanos (politeistas, depois cristãos) e árabes (politeístas, depois islâmicos);

- apesar de muitos povos africanos, em especial os islamizados, estarem, na época, em estágio civilizatório superior ao nosso indígena, lá os conflitos entre impérios implicavam na escravização dos vencidos. Surgiram estados africanos fortemente dependente da venda de escravos;

- o tráfico sistemático de escravos esteve sempre relacionado ao sistema econômico, no caso brasileiro, o sucesso em ternos de lucratividade do “comércio de escravos” e a necessidade da implantação da empresa mercantil, Colônia Brasil; e

- mais profundamente, podemos intuir e afirmar, que existe algum atributo oculto da natureza humana que, desde os primórdios, arrasta o homem ao domínio, à acumulação e a criação e expansão de impérios com imposição cultural, ideológica e religiosa.

J Coelho
Enviado por J Coelho em 01/12/2015
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