Colonizadores Portugueses
INTRODUÇÃO
Na busca da compreensão sobre nós brasileiros, não poderíamos fugir ao entendimento sobre o colonizador português. Para tal buscamos as influências sofridas para a formação do povo português, até quando deram início à formação do povo brasileiro, com a implantação da colônia portuguesa Brasil.
Para esse entendimento, resolvemos buscar desde os nativos iberos e as mais representativas influências, para a formação do povo português que, na construção de seu império, por meio de domínio da tecnologia de navegação e expansões territoriais, aqui chegaram com Cabral e suas caravelas, em 1500.
Como num único texto, esse entendimento ficaria muito extenso, resolvemos dividi-lo em:
Os Nativos da Península Ibérica, os Iberos; já realizado;
Os Celtas na Península Ibérica; já realizado;
Os Romanos na Península Ibérica; já realizado;
Os Mouros na Península Ibérica; já realizado; e
Colonizadores Portugueses; que é o objeto deste artigo.
Com base nos quatro artigos anteriores tentaremos traçar esboço de perfil daquele colonizador português.
ERAM BRANCOS OS COLONIZADORES PORTUGUESES?
Apesar de, com a evolução da genética, bem como com o desprestígio do conceito tradicional de raça, a pergunta perder muito de seu sentido, servirá para demonstrar quão miscigenada era a construção daquela etnia portuguesa.
A origem do nativo, matriz do povo português, tem entre algumas das proposições existentes o norte da África. Além disso, a própria posição geográfica de Portugal deixa aquela região sob certa insegurança, se europeia ou africana.
Mas, muito mais do que tudo, as invasões moura e árabe, quer quanto no papel de senhor e, após a reconquista cristã, quanto na condição de dominados, deixaram presença bem representativa na etnia portuguesa.
Além disso, celtas e romanos, estes em menor intensidade, participaram da miscigenação, para a formação daquela gente, que aportaria em porto seguro na Bahia, para criar a empresa mercantil, a colônia portuguesa Brasil e, com poucos portugueses e muitas índias, criar as protocélulas mamelucas do povo brasileiro.
QUAL O PRECONCEITO MAIS PRESENTE NOS COLONIZADORES PORTUGUESES?
Se observarmos: o quanto de moçarabes participou da formação étnica portuguesa; e quanto de fúria para desaparecer a presença dos mouros, no arder de cidades inteiras em imensas fogueiras, durante as lutas para a reconquista cristã, poder-se-ia afirmar que o preconceito racial era mínimo em relação ao religioso.
Era tão forte o preconceito religioso que, ao encontrarem aqui os nativos, muito distantes e bem separados da fé cristã, não os consideraram humanos. E assim passaram a tratá-los, até que documento papal restabeleceu a humanidade do indígena.
Outro fato ilustra a força da solidariedade entre praticantes da religião católica. Mas tarde na implantação da colônia, com o processo da concessão de sesmarias, uma das restrições era que o colono praticasse a religião católica.
ESTAVAM AQUELES PORTUGUESES PRONTOS PARA IMPLANTAR A COLÔNIA?
Com a reconquista cristã, os portugueses, com a utilização daquele vigor físico mouro, realizaram processo de colonização agrária do próprio Portugal, caracterizado pela grande propriedade e pelo trabalho escravo. Experiência adaptada e aperfeiçoada por essas terras, mais tarde.
As invasões, durante esse período de formação da etnia portuguesa, a maioria delas, até certo ponto, aceita e bem assimilada pelo português, devem ter construído características, para relacionamento flexível com os povos colonizados.
A convivência pacífica com os mouros e sua poligamia deve ter amolecido a rigidez da monogamia cristã dos portugueses que, somado às prováveis características instintivas ibéricas, permitiu a estratégia para povoar a colônia.
As invasões romana e moura contribuíram, decisivamente, para grande desenvolvimento tecnológico o que permitiu, naqueles tempos, o domínio da navegação marítima e a implantação do império português. Somente para ilustrar, foram os mouros que levaram a cultura da cana aos portugueses que, mais tarde representaria um dos ciclos da empresa mercantil colonial portuguesa, Brasil.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para reforçar o esboço de perfil do colonizador português, encerramos com: alguns trechos extraído do livro Casa Grande e Senzala, no qual, Gilberto Freire, no capítulo III, “O Colonizador Português: antecedentes e predisposições”, trata o assunto com exuberante argumentação.
“O colonizador português assemelha-se ao espanhol, entretanto sem a flama guerreira nem a ortodoxia dramática do conquistador do México e do Peru, e ao inglês sem as duras linhas puritanas. O tipo do contemporizador. Nem ideias absolutas nem preconceitos inflexíveis”.
“O escravocrata terrível que só faltou transportar a África para a América, foi também o colonizador europeu que melhor confraternizou com as raças chamadas inferiores. O menos cruel nas relações com os escravos. A tendência para o cruzamento e miscigenação parece resultar da plasticidade social, maior no português que em qualquer outro colonizador europeu”.
“Nenhum antecedente social mais importante a considerar no colonizador português que a sua extraordinária riqueza e variedade de antagonismos étnicos e de cultura que o seu cosmopolitismo. Cosmopolitismo favorecido, este sim, em grande parte, pela situação geográfica do reino: a de país largamente marítimo, desde remotos tempos variando de contatos humanos”.
E, trechos do livro “O Povo Brasileiro” de Darcy Ribeiro para, independentemente do perfil, indicar o propósito a que os colonizadores serviam.
Fazendo referência ao Conselho Ultramarino, que tudo previa, planificava, ordenava, provia e ao Santo Ofício da Igreja Católica, afirma: “Esse complexo do poderio português vinha sendo ativado, nas últimas décadas, pelas energias transformadoras da revolução mercantil, fundada especialmente na nova tecnologia, concentrada na nau oceânica, com suas novas velas de mar alto, seu leme fixo, sua bússola, seu astrolábio e, sobretudo, seus canhões de guerra”.
“Suas ciências eram um esforço para descobrir qualquer terra achável, a fim de a todo mundo estruturar um mundo só, regido pela Europa. Tudo isso com o fim de carrear para lá toda riqueza saqueável e, depois o produto da capacidade dos povos conscritos”.
FONTES:
Livros:
Casa Grande e Senzala - Gilberto Freyre; e
O Povo Brasileiro - Darcy Ribeiro.
Artigos:
Os Nativos da Península Ibérica, os Iberos;
Os Celtas na Península Ibérica;
Os Romanos na Península Ibérica; e
Os Mouros na Península Ibérica.