O FENÔMENO SÉRVIO

“Tênis é um jogo de burgueses”. Foi isso que um menino ouviu do ex-presidente Lula, quando pediu a construção de uma quadra na sua favela. Felizes são aqueles que podem assistir esses “burgueses” suando a camisa e fazendo jogadas geniais.

Quando o suíço Roger Federer acendeu ao topo do ranking fazendo mágicas com a bolinha amarela foi comparado a um extraterrestre. Para os especialistas jamais apareceria um fenômeno igual ou parecido na História do tênis profissional.

Concordo com os especialistas quanto ao igual. Toda a ciência da igualdade é burra. Parecido, ainda na “era Federer” mesmo que no seu fim, estamos diante de um novo fenômeno. O que o sérvio número um do mundo Novak Djokovic vem fazendo nos últimos anos, e fez em 2015 será difícil de ser repetindo.

Em 2015, Djokovic chegou a final de todos os torneios que disputou incluindo os quatros do “Grand Slam”. Perdeu apenas três. A derrota para Stan Wawrinka em Roland Garros impediu que seu ano fosse ainda mais fenomenal.

Quando criança, Djokovic também não tinha quadras para jogar. Numa das passagens mais emocionantes da sua biografia, o sérvio conta que junto com sua amiga Ana Ivanovic jogavam tênis dentro de piscinas das casas abandonadas, quando as bombas inimigas davam uma trégua na Guerra da Bósnia.

Duas coisas na carreira de Novak Djokovic me colocam para pensar. A primeira é surpreendente. Como um jogador de tênis profissional descobre ser alérgico ao glúten só aos vinte e quatro anos de idade. E como a História do tênis seria diferente, se a descoberta fosse antes.

Agora não podendo mais tapar o sol com uma peneira, dois dos comentaristas de tênis do canal Sportv acharam uma saída pouco original. Decidiram apelar para o carisma. De Dácio Campos eu até entendo. Ele é um frustrado. Agora Maria Esther Bueno deveria saber a diferença entre ter carisma e ser um “queridinho”.

Para exemplificar isso temos um exemplo dentro do Brasil. O jogador Neymar tem carisma, ou é apenas um queridinho das fãs? Quando na primeira intervenção comentando uma decisão entre Novak Djokovic e Andy Murray, Maria Esther Bueno cita o carisma de Roger Federer e Rafael Nadal, muita coisa fica explicada.

Se a torcida sempre está ao lado de Federer e Nadal não significa que falte carisma a Novak Djokovic. E entre vender carisma e ser culto, Djokovic está certíssimo em escolher a segunda opção. Mesmo porque, nem sempre suspiros, aplausos e desmaios têm haver com carisma. Isto também é conhecido por bajulação.