VERGONHA NACIONAL

VERGONHA NACIONAL

Houve uma época na história dessa república chamada Brasil, que uma frase de impacto ecoava pelos quatro ventos: “BRASIL, AME-O OU DEIXE-O!

Nesse tempo, eu era universitário e confesso que, talvez, dominado pelos ímpetos da juventude, não me apercebi do alerta. Preferi amar o meu país.

Hoje, passados trinta e sete anos, encurralado por bandidos que me obrigam a andar olhando pros lados; pressionado pelo governo que me impõe uma das mais altas cargas tributária do planeta; ameaçado por alunos que se julgam merecedores de boas notas, porque pagam a universidade que freqüentam; obrigado a ouvir de nossos políticos a frase – foi você quem me elegeu; enganado pelo sistema financeiro nacional, que além de cobrar uma das mais altas taxas de juros do mundo, surrupia-me a reposição de perdas provocadas pelos Planos Bresser, Collor I e Collor II; massacrado pela Previdência Social para aceitar uma aposentadoria, reduzida pelo fator previdenciário; cansado de ouvir falar, durante muitos e muitos anos, do déficit da previdência; estarrecido por ter que pagar pelos grandes sonegadores da previdência que vilipendia, dribla, faz chicana jurídica para não pagar o que sonegou, distribuindo mimos e propinas para autoridades; revoltado por ver tantos bandidos algemados pela Polícia Federal, que faz alarde pela televisão, como se fosse algo inusitado e que não seja sua obrigação fazê-lo; impotente diante da apologia governamental quando faz propaganda de bolsa isso, bolsa aquilo e que na verdade, contribui e muito para aumentar os bolsões de miséria na periferia das médias e grandes cidades.

Meus olhos, atrás de um par de óculos tentam fugir do espelho, envergonhados por fazer parte de uma geração, cuja formação se pautou na ética, no trabalho e nos princípios que nortearam a cidadania. Melhor não ver! Melhor não recordar os tempos onde os sonhos eram marcados por desafios, que, felizmente, foram todos superados sem máculas.

Para aumentar minha tristeza, dois fatos provocaram mais ainda a minha indignação.

O primeiro deles, foi saber que o parlamento brasileiro é um dos mais caros do mundo e que, queira ou não, eu sou um dos responsáveis pelo sustento da vergonhosa estrutura parlamentar que nos enoja.

O prezado leitor pode até discordar, mas se quiser mudar de opinião, acesse à TV Senado. Constate como nossos senadores se esforçam para transformar em circo, o palácio da democracia, com raríssimas exceções. Se o acesso não lhe convencer a mudar de opinião, pergunte-se: o que é o conselho de ética do senado? É ou não é um circo? Se mesmo assim, você ainda não se convenceu de que o nosso Senado é um circo, pergunte ao proprietário de um dos poucos circos ainda existentes no Brasil, se ele gostaria de mudar o nome de seu circo para CIRCO SENADO? Ele não mudaria, porque não teria platéia, pois o povo, mesmo incauto, sabe escolher um bom espetáculo para assistir, quando dinheiro lhe sobra.

O segundo mais triste ainda, foi assistir a um familiar bem próximo, de quem gosto muito, exibir-me um passaporte dizendo que vai deixar o Brasil. Perguntei-lhe por quê? Ele me respondeu: o Brasil não é mais um bom lugar para se viver. É um Iraque disfarçado de paraíso latino. Prefiro sair fora dele.

Quedei-me a pensar e na linguagem dos jovens, “caiu a ficha”. Lembrei-me da frase da década de 70 e disse, pro jovem: AME-O, MAS DEIXE-O e não vá para o Iraque.

Rui Azevedo

Economista e professor

www.ruiazevedo.com

Rui Azevedo
Enviado por Rui Azevedo em 28/06/2007
Código do texto: T545053