DEPUTADO LAGARTIXA

Francisco de Paula Melo Aguiar

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Pequena lagartixa – vinda

para quê? – pousa em mim teus olhos.

Quero contemplar tua vida,

a repetição dos teus mortos

[...]

Cecília Meireles

O sistema eleitoral brasileiro é por demais fragmentado e o eleitorado em todas as regiões do país não sabe claramente quem é da situação e ou da oposição, levando-se em conta o embrulho das coligações partidárias, isso acontece ao contrário em uma parcela muito pequena dentre todos os partidos até então existentes, pois, “o voto uninominal, as coligações eleitorais interpartidárias e, sobretudo, a combinação entre esses dois mecanismos, são inconsistentes com a lógica da representação proporcional, que busca a integração e o consenso precisamente como resultado da diferenciação, da especificidade e da nitidez da representação de cada um dos partidos no parlamento”, segundo Tavares (1994, p. 24). E assim fica o eleitor por mais esclarecido que seja, embrulhado pelas coligações interpartidárias e termina votando em quem jamais votaria de sã consciência. E na Paraíba e de modo específico em Santa Rita não é diferente, o jogo é o mesmo em todo território nacional. Assim sendo, a profissão política na Paraíba vem mantendo o coronelismo da República Velha, existente antes da Revolução de 1930 até os nossos dias. As oligarquias econômicas e regionalizadas são representadas na Câmara Federal, apenas mudam de nomes em substituição aos que já não estão mais entre nós. É esse o ciclo da democracia que temos.

O único candidato a deputado federal com base política em Santa Rita que concorreu em 01 de outubro de 2006 foi o empresário, ex-vereador e professor José Bernardino, pela coligação: PPS/PV/PRTB/PHS/PDT/PSC, obteve em toda a Paraíba apenas 0,22% dos votos válidos na Paraíba e não foi eleito, segundo o TRE/PB (2006). Isso vem mais uma vez corroborar com a tese de que o eleitorado santaritense não gosta de votar na prata de casa, apesar das coligações partidárias expressivas e que seus filiados não acompanham tais siglas quando se tratam de partidos nanicos e sem grandes potencialidades socioeconômicas, em termos de investimentos em campanhas eleitorais para seus candidatos, que ficam a ver navios, nadam, nadam e morrem na praia como afirma o ditado popular. O chamado candidato popular nascido do povo que não é originado das oligarquias não são os preferidos pelo eleitorado humilde de nossa terra. Isso nos leva a crer, ainda que por analogia que “o nível de votação de legenda de um partido é um indicador operacional da extensão em que ele promove sua sigla partidária”, segundo nos informa Samuels (1997, p. 527). Sem recursos materiais e financeiros para promover um partido e ou uma coligação formada de partidos assim identificados com a classe pobre, torna-se num verdadeiro milagre, diante das dificuldades operacionais no decorrer da campanha. No dia seguinte a votação o eleitorado amanhece com a cabeça baixa, não sabe mais em que votou para deputado federal e Santa Rita mais uma vez fica no esquecimento do cenário estadual e nacional, por falta de representantes no Poder Legislativo Estadual e na Câmara dos Deputados em Brasília.

O cenário para escolha de deputado estadual em Santa Rita também não é muito diferente daquele apresentado para deputado federal, o perfil do eleitorado é o mesmo, mais de 70% dos válidos em cada pleito de quatro em quatro anos, vai para os candidatos fantasmas que procuram freqüentar enterros, missas, procissões, partidas de futebol, casamentos, bailes, portas de cadeias, etc., tudo isso nas vésperas das eleições, depois que compram os votos com tais grandes serviços junto a eleitores que se deixam alienar, vão embora e chutam na bunda dessa gente que não tem amor verdadeiro pela causa da ordem e do progresso de Santa Rita. É esse o motivo do terceiro maior colégio eleitoral da Paraíba não ter um só secretário de Estado na administração pública estadual. Tudo por falta de representação política de qualidade, gente que saiba ler e escrever, para não ter que ouvir besteira e comer pelas mãos do favor e ou da ajuda, porque quem não sabe onde quer chegar, aí fica humilhado dentro e fora do poder federal e ou estadual paraibano. Essa história de deputado federal e ou estadual lagartixa, que sabe apenas balançar a cabeça as normas ditadas pelo governo federal e ou estadual em troca de contrato temporário de prestador de serviços para seus parentes e ou poucas pessoas suas amigas que não passaram em um só concurso público. Isso representa alienação cega pelo poder que não tem.

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Referências

SAMUELS, D. Determinantes do voto partidário em sistemas eleitorais centrados no candidato: evidências sobre o Brasil. Dados, vol. 40, nº 3, p. 465-492. 1997.

TAVARES, J. A. G. Sistemas eleitorais nas democracias contemporâneas: teoria, instituições, estratégia. Rio de Janeiro: Relume-Dumará. 1994.

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 14/11/2015
Reeditado em 14/11/2015
Código do texto: T5448538
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