A Trilha Sonora de O Senhor dos Anéis

Sou um grande apreciador de trilhas orquestradas de filmes. Entre as minhas preferidas, está a trilogia sonora de O Senhor dos Anéis (A Sociedade do Anel, As Duas Torres e O Retorno do Rei). Este pequeno artigo fala sobre ela.

A importância da trilha sonora nos filmes é ímpar. Experimente assistir uma emocionante cena de um filme qualquer de sua preferência com o som desativado. Não é a mesma coisa. O caminho das emoções para o coração vem pela música. Sãos os sons que nos cativam, nos fazem apaixonar, nos deixam com medo, nos dão sustos. É a música que dita a temática emotiva das produções cinematográficas modernas.

O trabalho do maestro Howard Shore foi fantástico, brilhante, estupendo. Teço estes elogios porque, para mim, ele conseguiu alcançar níveis de vinculação entre a história contada nos livros e filmes e a trilha jamais vistos. É comum vermos canções que emocionam, que de certa forma remetem ao momento de um determinado personagem, mas o Howard Shore conseguiu vincular não só emoções, como raças, lugares, histórias, etc. Vejamos alguns exemplos:

- Concerning Hobbits: A faixa 2 da trilha sonora de A Sociedade do Anel, como a própria tradução do título diz, nos remete exatamente a respeito de hobbits. Não é uma canção sobre os hobbits que aparecem na trama, mas sobre toda a raça deles. Até mais, sobre o lugar, o Condado. É impossível ouvir essa canção e não lembrar das peculiaridades dos hobbits enquanto raça, do Condado enquanto lugar. Você não lembra de um ou outro, mas de hobbits no lugar onde vivem os hobbits;

- Many Meetings: A faixa 9 da trilha sonora de A Sociedade do Anel é a perfeita faixa de introdução à Valfenda, o maravilhoso Vale de Imladris. Valfenda é um lugar de paz, sabedoria e descanso. É justamente essa atmosfera que a canção nos passa. Ela é simples, e ao mesmo tempo profunda. É suave, embora séria e antiga. Eu sempre levo um sorriso ao rosto quando escuto essa canção;

- The Bridge of Khazad Dum: A faixa 13 da trilha sonora de A Sociedade do Anel remete-se os Anões e seu mais antigo e poderoso reino. Khazad Dûm está caído, mas ainda assim, sua majestade e imponência transcendem as eras. O gutural canto empregado na canção é traço impossível de não ser associado aos anões enquanto raça. Para mim, está canção muito mais canta os anões, do que mesmo canta as Minas de Moria;

- Lothlórien: Imagine que um portão antigo no recanto final de um jardim lhe levasse para as profundezas de uma floresta antiga, mágica, com uma aura de leveza, paz, e ao mesmo tempo sabedoria e tristeza. Algo profundo e sereno como o semblante de antigos senhores esculpidos em mármore frio, um lugar onde até mesmo o passar do tempo parece lento e sem importância. Essa é a sensação que tenho ao ouvir a faixa 14 da trilha sonora de A Sociedade do Anel. Esta canção nos fala sobre Lothlórien, o reino élfico da senhora Galadriel, a Dama Branca de Lórien;

- The Riders of Rohan: Faixa 3 da trilha sonora de As Duas Torres, esta canção nos leva à história de um povo. A partir de seu minuto segundo, somos transportados na história até as origens dos Senhores dos Cavalos, dos Eorlingas, do Povo de Eorl. Terra de bravos guerreiros, a canção com seus arranjos em violino nos transportam à tristeza inerente às tantas dores já sofridas pelos Rohirrim, ao mesmo tempo em que nos mostra sua força e honra;

- Evenstar: Faixa 8 da trilha sonora de As Duas Torres, que outro tema nos remeteria melhor à beleza, sabedoria antiga, profundidade e tristeza inerentes à Estrela Vespertina, Arwen Undómiel, Princesa de Rivendell? A canção é como um canto suave, um sussurro da alma, sobre as tristezas e esperanças do coração que ama e espera;

- Minas Tirith: Faixa 3 da trilha sonora de O Retorno do Rei, esta canção aparentemente simples é perfeita na apresentação do maior reino livre da Terra-Média: Gondor. Ela remete-se à linhagem do sul, e seu explendor. Minas Tirith, a Cidade Branca, cidade de reis;

- Twilight and Shadow: Quem já leu e meditou sobre a história de Aragorn e Arwen, vai encontrar nessa música a perfeição de seus sentimentos. Acho que em toda a trilha sonora não há qualquer canção que se remeta tanto a determinados personagens, como esta. A história deles é bela e triste, assim como esta canção. Nos arrebata como a paixão, e trás mistérios como todo amor;

- The End of All Things: O Fim de Todas as Coisas. A faixa 16 da trilha sonora de O Retorno do Rei traz toda a dramaticidade do ponto crítico da história: tropas diante dos Portões de Morannon numa luta desesperada contra um inimigo invencível por estes meios, enquanto dois jovens e debilitados hobbits vivem um drama entre si, associado à indefinível figura de Smeágol, quanto a finalmente lançar ou não o Um Anel nas chamas ardentes de Orodruin. A canção começa alta e tensa, e depois remete-se aos momentos de dor e solidão dos que se aventuram ao extremo em busca de realizar tarefas das quais entendem que jamais retornarão. A profundidade dá o tom da queda do grande mal que há tanto tempo aflige os povos livres da Terra-Média;

- The Grey Havens: Os Portos Cinzentos. A faixa 18 da trilha sonora de O Retorno do Rei é, para mim, a melhor canção relativa aos elfos de toda a trilogia. De uma suavidade ímpar, ela retrata bem este tão importante local para os Eldar: Mithlond. Em dado momento a canção torna-se um pouco triste, como é próprio daqueles que estão partindo para nunca mais voltar, como os elfos. Os últimos senhores do Belo Povo estavam indo embora, e a natureza dos elfos da Terra-Média é profunda, sábia, triste e serena, assim como o tema. Uma canção para chorar, afinal, nem todas as lágrimas são ruins;

- Into The West: Aqui talvez muitos discordem de mim, mas muito mais do que pensar naqueles que estão indo para o ponente, essa canção trás a mim a lembrança na linhagem de Elendil e a consagração dos antigos reinos de Arnor e Gondor novamente na figura do Rei Elessar. Lembro dos Dunedains e das tantas dores presentes em sua história, tudo consumando-se na coroação daquele que seria o Último Rei dos Dias Antigos. De longe, é minha canção favorita.

Muitos de vocês talvez não sejam tão aficionados por trilhas sonoras, música erudita, etc, mas como último ato gostaria de lançar esse pedido: escutem essa trilha, cada um dos três álbuns, não apenas as canções que destaquei aqui, mas todas as outras, na ordem em que estão dispostas. Façam isso num local confortável e calmo, de preferência sozinhos. Garanto que, em suas mentes, vocês serão arrebatados e transportados para a Terra-Média.