007 não é mais ficção
Os filmes de James Bond, o agente secreto que podia matar, exibiam um herói fictício que combatia o mal pelo mundo frequentemente representado pela URSS nos tempos da guerra fria. Em seus vinte e três filmes, Bond acumulou admiradores porque representava a defesa do bem contra satânicos malfeitores.
No cenário atual com a cultura da violência, particularmente aqui no Brasil, os heróis dos jovens são os que não levam desaforo para casa, são os adolescentes nas escolas que se dirigem às meninas chamando-as de galinha e as meninas que se pegam aos socos e pontapés nos pátios e às vezes dentro das salas de aula. Os heróis de um segmento de adultos são os personagens dos reality shows; dos machões, são os que batem em suas mulheres para se afirmarem senhores em suas casas; dos iludidos, os craques de futebol; dos desassistidos, gente do tráfico que faz a parte que caberia ao estado.
Não bastassem os heróis, existe nesse país uns assassinos em série aos quais é conferido o direito de matar com requintes de crueldade tantas vezes quantas forem postos em liberdade por indultos ou outras decisões judiciais. Não são criminosos comuns que roubam, que se drogam, que matam em situação de sangue quente. Ao contrário de Bond no motivo, na maioria das vezes matam gente de bem sem motivo nenhum. São tão maus de índole e coração que se fossem atirados de um avião no meio do Atlântico, metade cairia já morta no mar assassinada em queda livre pela outra metade. Matam velhos, jovens, matam crianças. São reais, de carne e osso, que em comum com 007 tem o direito legal de repetir o ato. De semelhança com a raça humana, apenas o fato de andarem sobre dois pés e possuírem identidade civil.
As prisões estão lotadas, a pátria não educa e os poderes legislativo e judiciário completam a cena concedendo licenças para matar. Incoerência esta de um povo de bom coração constituir o país mais violento do mundo. Hipocrisia e dissimulação dos que cruzam os braços – poderes acima citados -, à medida que permitem a essa facção maldosa estrangular e tolher a liberdade da imensa porção bondosa sem, contudo indignarem-se com isso.