De coche a coaching
Um dia o homem descobriu que podia capturar, domesticar, adestrar e usar animais para transportar suas tralhas e bagagens por caminhos e trilhas, e por picadas abertas pelos desbravadores. Pode então a partir deste momento deslocar suas armas e suas bagagens para outras paragens, utilizando das montarias, chegando a formar enormes caravanas quando a quantidade de carga era volumosa. Agora podendo então se ocupar de observar a paisagem e o espaço que se descortinava em sua volta. Com a evolução dos transportes e aumento dos volumes de cargas a transportar, criou e passou a utilizar charretes, carroças e carruagens com animais atrelados em substituição ao uso individual de animais não atrelados.
A partir do uso de carroças e carruagens surge a figura do condutor destes veículos com tração animal, a figura do cocheiro (coachman), aquele que conduz a carga de maneira segura e adequada, na função de capataz e fiel depositário da carga, conduzindo-a ao local de destino. O termo coaching se refere originalmente a aquele que conduz o coche, uma antiga carruagem fechada. Hoje o motorista de caminhão, tal como o cocheiro, é o primeiro responsável pela carga transportada, e deve sempre conferir as condições de segurança das cargas antes de prosseguir viagem. O documento que descreve a carga conduzida por transporte tem o nome de conhecimento. Dois são os documentos importantes, nos deslocamentos de mercadorias via transporte rodoviário, a nota fiscal e o conhecimento rodoviário de carga.
Como gírias e modismos a palavra coaching entrou no circuito escolar, seguindo as trilhas do saber e do conhecimento, e surgiu no meio universitário americano (EUA), daí a razão de um nome importado e americanizado. Surgiu como uma gíria, adaptada por estudantes, para a definição de um orientador particular, preparando alunos para prestar exames e concursos. Com o passar do tempo o termo evoluiu e passou a designar um orientador na confecção de trabalhos universitários, TCCs, monografias, dissertações e teses. Orientando trabalhos monográficos traçando norteamentos e suleamentos (Paulo Freire), com recortes temporais e espaciais. O Coach (treinador) tal como um orientador conduz o orientando com conhecimento da carga, o saber.
Parodiando as palavras de Humberto Eco (2012), nascido em Alessandria (Piemonte - Itália) e formado em Torino (idem), quando diz que fazer uma tese significa divertir-se e a tese é como um porco: nada se desperdiça. Em um conceito mais local, cultural e regional é possível, onde ainda se usa o carro de boi, dizer que uma tese é como um gado que tudo se aproveita, e perde-se apenas o berro.
O escritor e semiólogo Humberto Eco escreveu um livro, um suspense erudito, sobre a época dos copistas (O nome da Rosa, 1980), quando os livros eram escritos e copiados um a um. Hoje na era da tecnologia, Eco defende o livro em papel e diz que a internet congestiona o cérebro pelo excesso de informação, sendo boa para o sábio, e péssima para o ignorante (Revista Época, 2011). Até nas trilhas e links da internet é preciso identificar perigos e desvios das informações infundadas e conturbadas. A internet não seleciona informação e quem não sabe o que procura, não identifica o que encontra.
Jornal de HOJE
Natal - Parnamirim/RN ─ 02/06/2013 Roberto Cardoso (Maracajá)
Cientista Social Jornalista Científico
Sócio Efetivo do IHGRN (Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte)