COITADO DE NÓS

COITADOS DE NÓS. De um modo geral, nós brasileiros comuns, somos todos uns coitados, principalmente no âmbito da política nacional, onde jamais havíamos visto tantos desmandos, com as autoridades constituídas se amesquinhando de tal modo a nos envergonhar. Mas, esporadicamente nos tornamos coitados por circunstancias variadas, senão vejamos:

Primeiramente falo de um cunhado meu que é homem honrado e trabalhador, além de muito agradável, pois todas as vezes que vou a sua casa, volto com sacoladas de verduras fresquinhas e sem agrotóxico colhidas em seu quintal, e às vezes vem até um franguinho ou galinha caipira, quase sempre matada, sapecada, picada, lavada, e se desejar até temperada. É muita bondade mesmo não é? Claro que sim, pois o criador o dotou de um bom coração, porém deixou a desejar, com relação a sua aparência. Na intimidade nós brincamos com ele, dizendo que ele parece um apartamento chique, isto é, ele está bem acabado.

Um dia ele embarcou naturalmente em um ônibus coletivo, e o motorista não o conhecendo e julgando-o bem mais velho, falou bondosamente com ele: “Olha, o Senhor não precisa pagar passaginha não, pode entrar pela porta da frente viu”. Ele agradeceu mas falou secamente: “Posso não, eu não tenho este direito ainda não”. O motorista envergonhado avermelhou-se e deixou por isto mesmo, desconversando. Gostamos muito dele, e o consideramos bom demais, porém sua na aparência, tenho pena dele. Coitado!

De outra feita, aconteceu com minha saudosa mãe, que sofria de artrite reumatóide, doença deformante que a obrigou a passar longos anos em uma cadeira de rodas, e a tratamentos médicos constantes. Certa vez estando internada em um hospital, fora levada por uma enfermeira para uma seção de fisioterapia, tendo sido deixada em uma ante-sala dotada de um grande espelho. Tendo ela visto sua imagem refletida no referido espelho e não se identificando de pronto, julgando se tratar de outra paciente pensou consigo mesma: É, está ali outra coitada também esperando. Ficou ali por um bom tempo esperando ser levada para o interior, olhando a outra de vez em quando, e em um momento ela coçou o nariz e percebeu que a outra repetiu o gesto, coçou de novo e a outra também e foi ai que ela se deu conta, que a outra, era ela mesma refletida no espelho. Ela contava esta história, ria e mesmo sofrendo, nos divertia. Coitada!

É, o bicho pegou mesmo, falei de meu cunhado, de minha mãe, e chegou a minha vez, tenho de falar de mim mesmo. Feliz ou infelizmente já tenho idade para não pagar passaginha de ônibus coletivo, más tenho lutado para não usufruir deste direito, não sei se por vergonha, orgulho ou preconceito, e quando não estou de carro, ando a pé mesmo. Certo dia precisando ir a um Banco no centro da cidade caprichei no visual: Tomei um bom banho, usei desodorante, fiz a barba, passei gel no cabelo, vesti uma bermuda incrementada, camisa vermelha de seda, boné azul, e só faltando óculos escuro e sai , todo, todo, aprumadinho, achando que eu estava um gato, e abafando.

Tão logo entrei no banco, observei a fila do caixa para idosos, gestantes e deficientes, e notei que havia seis pessoas, porém um só caixa atendendo, e esta fila é sempre demorada, em face dos limites da idade, muitos têm dificuldades para digitar senhas ou entender certos pormenores etc. Já na fila geral ou única, contava umas vinte pessoas, porém com quatro caixas atendendo, certamente seria mais rápido. Além da matemática favorável, nesta fila ainda se podia notar a presença de muitas moças bonitas, e claro que optei por esta, e entrando na fila logo perto de uma gata morena toda siliconada, que para meu espanto foi logo dizendo: “Olha aqui senhor, aquela fila ali, é para idosos, é bem melhor para o senhor, porque o senhor não vai para lá? Meio sem graça agradeci, e pensei comigo mesmo: É ta danado, eu não estou com nada no balaio, coitado de mim”.

necota
Enviado por necota em 22/09/2015
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