III
Os seres humanos podem mudar até o ambiente em que vivem. Por isso é importante entender o que significa, de fato, a lei do Karma. Essa lei diz que para todo evento que ocorre no mundo, obrigatoriamente seguirá outro evento, cuja existência foi causada pelo primeiro; e este segundo evento poderá ser bom ou ruim para a pessoa que o causou se a sua causa foi benéfica para o universo ou não.
Um evento útil e benéfico para o mundo (no conceito budista) é aquele que não foi produzido por cobiça, resistência ou ilusão. No conceito cabalista ele vai além dessas motivações. Os eventos que concorrem para o equilíbrio do universo são aqueles que, por livre escolha do ator, são produzidos com deliberada intenção de fazer o bem. Não é o bem que comumente chamamos de felicidade, porque se define como uma satisfação dos sentidos. Ao contrário é o bem que permite o aperfeiçoamento da pessoa individualmente considerada e da sociedade humana, tomada em sua coletividade. Nesse sentido, ás vezes o que consideramos como bondade, piedade, compaixão, pode ser prejudicial ao resultado. Assim, muitos eventos produzidos com essas causas (que na maçonaria chamamos de vícios, ou seja, um evento viciado), são chamados de eventos incorretos. São incorretos porque são produzidos por uma forma incorreta, ou viciada de pensar. Decorrem de uma forma equivocada de usar a mente. A melhor forma de explicar esse aparente paradoxo é o conselho dado por um eminente rabino: não se deve ajudar a perpetuar a pobreza e a ignorância oferecendo meios de sobrevivência ás pessoas pobres e ignorantes. Deve-se, ao contrário, oferecer a eles meios para que deixem de ser pobres e ignorantes. ´
É nesse sentido, por exemplo, que a doutrina da Cabala não admite a ideía da vinda de um Salvador, já que a questão do Messias, nessa doutrina, é tratada de uma forma bem diferente da que na teologia cristã. O Messias, na Cabala, é um dos arcanjos de hierarquia superior, identificado com o Arcanjo Michael (Miguel), cuja função é liderar as forças do bem no combate contra as forças do mal. Função essa, arquetípica, que em um contexto geral (jungiano, não cabalístico nem judaico-cristão) pode ser atribuida tanto a Jesus, quanto á Mitra, Maomé, Sidarta Gautama ou qualquer outro espírito de luz cuja vida foi dedicada a guiar os homens para a luz. Na Cabala, o Messias não se identifica com o Cristo, pois esta é uma tipicamente judaica enquanto o Cristo é uma concepção grega. Ambos, na verdade, são produtos do nosso ego. O Salvador, como acreditam os cabalistas cristãos, já veio, e disse: escolha. Deixe brilhar a sua luz. “Vós sois a luz do mundo. Uma cidade edificada sobre um monte não pode ser escondida. Igualmente não se acende uma candeia para colocá-la debaixo de um cesto. Ao contrário, coloca-se no velador e, assim, ilumina a todos os que estão na casa...”[1]
Assim, a lei do Karma atribui ao ser humano uma grande responsabilidade pela construção de um mundo justo e perfeito. É o correspondente cabalista da metáfora maçônica “levantar templos á virtude e cavar masmorras ao vício”. Diferente do Mak Tub, a responsabilidade pelo que virá no futuro é toda nossa. Não depende de uma divindade onisciente e onipotente que nos vigia noite e dia para ver o que estamos fazendo para depois premiar ou castigar a gente por isso.
Dessa forma, alguém que crê na lei do Karma jamais mataria alguém em razão de uma recompensa no céu, mas sim pelas suas próprias razões de viver. Nesse sentido os membros do Estado Islãmico que pensam estar matando os seus inimigos por causa de Alá estão muitos enganados. Os jihadistas e os radicais do Islã, na verdade, são tão idealistas e religiosos quanto os cruzados que invadiram o Oriente Médio no século XII com a desculpa de libertar Jerusalém do jugo dos muçulmanos. Eles lutam apenas pelo próprio ego. Alá, Jeová, Jesus, Maomé, ou qualquer outro nome que se dê ao motivo pelo qual cristãos, judeus e muçulmanos se matam há milênios, não têm nada a ver com o verdadeiro motivo dessa guerra insana entre Ocidente e Oriente Médio. O motivo dessa guerra é tão venal quanto as razões que levaram as potências europeias a procurar novas terras para colonizar no novo mundo e promover a chacina dos povos autóctenes. No caso da América o deus pelo qual os europeus lutavam chamava-se ouro e prata. O Deus pelo qual lutam agora os muçulmanos radicais chama-se petróleo. É pelo petróleo que Alá (na verdade, o ego) oferece aos valentes heróis dessa guerra santa a recompensa das setenta virgens que irão servi-los no paraíso. O Diabo, assim como Deus, tem muitos nomes, mas o principal deles se chama Ego.
Os seres humanos podem mudar até o ambiente em que vivem. Por isso é importante entender o que significa, de fato, a lei do Karma. Essa lei diz que para todo evento que ocorre no mundo, obrigatoriamente seguirá outro evento, cuja existência foi causada pelo primeiro; e este segundo evento poderá ser bom ou ruim para a pessoa que o causou se a sua causa foi benéfica para o universo ou não.
Um evento útil e benéfico para o mundo (no conceito budista) é aquele que não foi produzido por cobiça, resistência ou ilusão. No conceito cabalista ele vai além dessas motivações. Os eventos que concorrem para o equilíbrio do universo são aqueles que, por livre escolha do ator, são produzidos com deliberada intenção de fazer o bem. Não é o bem que comumente chamamos de felicidade, porque se define como uma satisfação dos sentidos. Ao contrário é o bem que permite o aperfeiçoamento da pessoa individualmente considerada e da sociedade humana, tomada em sua coletividade. Nesse sentido, ás vezes o que consideramos como bondade, piedade, compaixão, pode ser prejudicial ao resultado. Assim, muitos eventos produzidos com essas causas (que na maçonaria chamamos de vícios, ou seja, um evento viciado), são chamados de eventos incorretos. São incorretos porque são produzidos por uma forma incorreta, ou viciada de pensar. Decorrem de uma forma equivocada de usar a mente. A melhor forma de explicar esse aparente paradoxo é o conselho dado por um eminente rabino: não se deve ajudar a perpetuar a pobreza e a ignorância oferecendo meios de sobrevivência ás pessoas pobres e ignorantes. Deve-se, ao contrário, oferecer a eles meios para que deixem de ser pobres e ignorantes. ´
É nesse sentido, por exemplo, que a doutrina da Cabala não admite a ideía da vinda de um Salvador, já que a questão do Messias, nessa doutrina, é tratada de uma forma bem diferente da que na teologia cristã. O Messias, na Cabala, é um dos arcanjos de hierarquia superior, identificado com o Arcanjo Michael (Miguel), cuja função é liderar as forças do bem no combate contra as forças do mal. Função essa, arquetípica, que em um contexto geral (jungiano, não cabalístico nem judaico-cristão) pode ser atribuida tanto a Jesus, quanto á Mitra, Maomé, Sidarta Gautama ou qualquer outro espírito de luz cuja vida foi dedicada a guiar os homens para a luz. Na Cabala, o Messias não se identifica com o Cristo, pois esta é uma tipicamente judaica enquanto o Cristo é uma concepção grega. Ambos, na verdade, são produtos do nosso ego. O Salvador, como acreditam os cabalistas cristãos, já veio, e disse: escolha. Deixe brilhar a sua luz. “Vós sois a luz do mundo. Uma cidade edificada sobre um monte não pode ser escondida. Igualmente não se acende uma candeia para colocá-la debaixo de um cesto. Ao contrário, coloca-se no velador e, assim, ilumina a todos os que estão na casa...”[1]
Assim, a lei do Karma atribui ao ser humano uma grande responsabilidade pela construção de um mundo justo e perfeito. É o correspondente cabalista da metáfora maçônica “levantar templos á virtude e cavar masmorras ao vício”. Diferente do Mak Tub, a responsabilidade pelo que virá no futuro é toda nossa. Não depende de uma divindade onisciente e onipotente que nos vigia noite e dia para ver o que estamos fazendo para depois premiar ou castigar a gente por isso.
Dessa forma, alguém que crê na lei do Karma jamais mataria alguém em razão de uma recompensa no céu, mas sim pelas suas próprias razões de viver. Nesse sentido os membros do Estado Islãmico que pensam estar matando os seus inimigos por causa de Alá estão muitos enganados. Os jihadistas e os radicais do Islã, na verdade, são tão idealistas e religiosos quanto os cruzados que invadiram o Oriente Médio no século XII com a desculpa de libertar Jerusalém do jugo dos muçulmanos. Eles lutam apenas pelo próprio ego. Alá, Jeová, Jesus, Maomé, ou qualquer outro nome que se dê ao motivo pelo qual cristãos, judeus e muçulmanos se matam há milênios, não têm nada a ver com o verdadeiro motivo dessa guerra insana entre Ocidente e Oriente Médio. O motivo dessa guerra é tão venal quanto as razões que levaram as potências europeias a procurar novas terras para colonizar no novo mundo e promover a chacina dos povos autóctenes. No caso da América o deus pelo qual os europeus lutavam chamava-se ouro e prata. O Deus pelo qual lutam agora os muçulmanos radicais chama-se petróleo. É pelo petróleo que Alá (na verdade, o ego) oferece aos valentes heróis dessa guerra santa a recompensa das setenta virgens que irão servi-los no paraíso. O Diabo, assim como Deus, tem muitos nomes, mas o principal deles se chama Ego.
(continua)
[1] Mateus, 5:14- Versão Soares