A Filosofia e a Felicidade
De acordo com o filósofo Epicuro (341- 270 a.C), “é vão o discurso daquele filósofo que não cure algum mal do espírito humano”. Para esse pensador e seus seguidores, a libertação e a cura acontecem mediante a Filosofia. Esta é a terapia das causas da infelicidade humana. Pertence, pois, ao filósofo a responsabilidade de cuidar das doenças e dos sofrimentos da alma. Veja um trecho de uma carta que ele enviou a seu aluno Meneceu, que ainda era jovem, falando sobre a importância da Filosofia para a conquista da felicidade e para a consecução de uma existência verdadeiramente bela.
“Epicuro deseja prazer ao seu caro Meneceu!
Devemos começar a filosofar desde a mocidade, porém sem deixarmos de fazê-lo, cansados, na velhice. Para realizar algo em prol da saúde espiritual, ninguém é demasiadamente moço nem muito velho; mas quem, porventura, supuser que, para filosofar, está moço ou velho, em demasia, dirá do mesmo modo que o instante exato da sua felicidade ainda não chegou ou já se foi. Portanto, ambos devem filosofar: o moço e o velho; este, para que permaneça jovem, no grato gozo do bem que lhe oferecera o passado; aquele, para que possa encarar sem receios o futuro, e com isso conseguir ser, a um tempo, moço e velho. Verdade é que é necessário praticar desde cedo aquilo que confere felicidade, pois com ela possuímos tudo, e a quem ela faltar, tudo fará para adquiri-la. Por isso, faze tu aquilo que te aconselhei constantemente, pratica-o e tem a certeza de que é a condição básica para uma existência realmente bela...” (Pensamentos: Epicuro. Martin Claret, 2005)
Todos, portanto, segundo Epicuro, devem filosofar. É a Filosofia que confere felicidade e proporciona uma vida verdadeiramente bela aos seres humanos. Conforme esse pensador, o verdadeiro prazer é a ausência de dor (aponia) e a falta de perturbação da alma (ataraxia). O sóbrio raciocinar expulsa as falsas opiniões que perturbam a alma. Os males da alma são produtos de falsas opiniões e dos erros da mente. Devemos buscar a autarquia, o bastar-se a si mesmo. Na autarquia se encontram a maior riqueza e felicidade. Epicuro dizia que o sábio pode ser feliz até sob as mais cruéis torturas, ou seja, o sábio é imperturbável. Esse pensador não apenas usava palavras ou ensinamentos admiráveis, mas, diante “dos espasmos do mal que o levava à morte, escreveu a um amigo que a vida é doce e feliz” (Vide História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média, volume I, de Giovanni Reale e Dario Antiseri).