A DIFÍCIL TAREFA DE FORMAR LEITORES
Uma das principais visões para o sucesso do ensino básico é a dinâmica inteligente de levar aos alunos o hábito de ler tornando-o uma atividade cotidiana a partir de interessantes temas em livros que proporcionam imediatas leituras agradáveis, com vistas a direcioná-los rumo a literaturas voltadas para sua formação acadêmica.
É preciso espantar um dos maiores e mais preocupantes fantasmas que afetam o ensino básico: a falta do hábito da leitura. Ela constitui barreiras fundamentais para o entendimento de todo discente em sua trajetória de aprendizado. Constitui-se a leitura portanto na estrada pavimentada para a informação, um recurso de expressão e por isso, de grande importância.
A ciranda da leitura não perde seu giro: Bibliotecas, salas de leitura, aglutinações lúdicas com atividades didáticas, tendo o livro como protagonista, tudo ajuda a formar o leitor.
Até onde vai a distância de um bom livro? À reentrâncias inimagináveis com surpreendentes resultados possíveis apenas a partir do seu fascínio pelo que lê, em sintonia freqüente e agradável. Leitor algum abre mão dessa diegese,a narrativa será sua vida portanto e a partir daí nada mais interessa. Florestas, reinos distantes, templos faraônicos, cavalos alados, aviões, casinhas encantadas, cada livro é um encanto à parte, um mundo único onde todos estão e ninguém entra a não ser ele num folhear de páginas.
“Linguagem e realidade se prendem dinamicamente.” FREIRE, Paulo, 1982:
Conseguiríamos formar um leitor assim? A ponto de se transportá-lo para dentro de sua leitura? O intento é esse. Um livreto com teor simples e auxiliado por gravuras poderá representar uma portinhola para um salão do qual o leitor não se voltará para de onde veio, pois vai adentrando, adentrando e alcançará horizontes os quais julgava jamais existir, mas que, contudo passa a ser sua realidade. Para ler deixando fruir sem ser criterioso é preciso entender visões como a de Freire:
“A insistência na quantidade de leitura sem o devido adentramento dos textos a serem compreendidos e não mecanicamente memorizados revela uma visão mágica da palavra escrita” FREIRE, Paulo, 1982
O instante da leitura deve assim abraçar a realidade dos leitores já existentes e novos leitores para que o contato com a literatura, por exemplo, seja algo espontâneo e até uma busca constante, daí a necessidade de bons autores para que as laterais da estrada que tem de um lado o leitor e do outro o escritor permita que ao se cruzarem voltem-se para um destino único e caso estejam paralelos sigam até o km final de forma simétrica. Quando a sintonia é completa (leitura aficionada com o autor) onde o contexto aglutina-se com as formas constantes no discernimento do leitor, este traçará rumos diversificados que se tornarão cadeados para literaturas anteriores, que passarão a ser considerada aquém da sua nova visão crítica. É nesse sentido que Irande Antunes define a relação leitor/autor:
“A leitura é parte da interação verbal escrita, enquanto implica a participação cooperativa do leitor na interpretação e na reconstrução do sentido e das intenções pretendidas pelo autor.” ANTUNES, Irande2003.
Daí a dizer que nem sempre o processo é “simbiótico” (Bom para os dois em termos metafóricos) e mais: A peça chave de um livro interessante não é o autor, mas sim a sintonia entre ele e o leitor. Que, diga-se de passagem, podem ser eternos desconhecidos fisicamente, mas ter uma significativa identidade literária. Isso ajudará a formação do leitor que intimamente identificará no contexto lido fatores implícitos e fatores explícitos, a exemplo de autores já falecidos e lembrados como se vivos fossem na contra-mão de outros que em vida são esquecidos ou sequer lembrados.
Um professor além de ter afinidades com a leitura, deve saber discernir a capacidade do aluno em absorver o que lê, levando em conta que afinidade com a leitura deve ter no primeiro momento o entendimento daí que é preciso ver se estão lendo bem para saber se a leitura agrada. Uma lógica testada a partir da diversificação de livros e vejam que estes também devem ter uma qualidade à altura de quem quer ver bons leitores, nesse caso seria viável até a formação de grupos de leitura, buscando saber o nível de sedução de seus membros pelo habito de ler. A diversificação e o acesso são outros fatores que não devem ser limitados, pois poderão limitar o interesse no primeiro caso e a freqüência do habito no segundo.
Quando tornamos a leitura para o aluno um universo do qual ele passa a vivenciar, temos nele alguém que arregimenta o livro de forma peculiar na lida de seu cotidiano e não raro arrasta adeptos que formarão de modo continuado uma legião de leitores habituais como ele ou quem sabe, novos. E nessa linha, desfiando o novelo tecerão o interesse pelos livros clássicos que são considerados em grande parte o bicho-papão da quase totalidade dos alunos da rede de ensino e por isso apregoado como, pelo menos de início, algo evitável ou momentaneamente substituível em nome da aceitação da leitura espontânea e do fruir, por Freire que não deixa de ressaltar sua importância e devemos entender também, na circunstância em que for exigível ou chamada ao contexto didático:
Parece importante, contudo, para evitar uma compreensão errônea a do que estou afirmando sublinhar que minha crítica O (sic) magicização da palavra não significa, de maneira alguma, uma posição pouco responsável de minha parte com relação à necessidade que temos, educadores e educandos, de ler, sempre e seriamente os clássicos neste ou naquele campo do saber, de nos adentrarmos nos textos,de criar uma disciplina intelectual, sem a qual inviabilizamos nossa prática enquanto professores e estudantes. FREIRE, Paulo, 1982:
Fica patente no parágrafo acima que Paulo Freire não desestimula o trânsito Por livros Clássicos, mas sim pavimenta uma estrada para se chegar até eles. Lembrando que a leitura mais simples é o passo inicial para a leitura mais complexa e devemos por isso seguir nesse rumo. Alimentando a idéia de que toda obra lida é interessante ou didática. E mais, deve atender a cada objetivo específico com ao considerarmos o que rege leituras necessárias no curso de cada leitor, já que estamos sempre tendo como foco a formação de leitores.
Bem sabemos que muito mais do que o benefício didático e da corrente do conhecimento a leitura nos remete sempre a valores sociais que reforçam nossas idéias de alguém inseridos neles com não raras coincidências mais diversas por sinal contidas nos textos ora lidos e nos contextos analisados e em alguns casos revivenciados como bem referencia Paulo Freire em situações por certo vivenciadas pelo autor :
“Daquele contexto – o do meu mundo imediato – fazia parte por outro lado, o universo da linguagem dos mais velhos, expressando as suas crenças, os seus gostos, os seus receios, os seus valores, tudo isso ligado a contextos mas amplos do que o do meu mundo imediato e de cuja existência eu não podia sequer suspeitar.” FREIRE, Paulo, 1982:
Assim entendemos que tudo que se lê pode em parte se direcionar a tudo que se vive. Daí a visão de mundo que o autor nos remete.
“Porém , podemos ir mais longe e dizer que a leitura da palavra não é apenas precedida pela leitura do mundo mas por uma certa forma de “escrevê-lo” ou de “re-escreve-lo”, quer dizer de “transformá-lo” através de nossa prática consciente.” FREIRE, Paulo, 1982:
Devemos ficar vigilantes para não deixar o projeto minguar seus ventos de veleiro parando nas calmarias do desinteresse, e impedir que ele caia nas raias do abandono. É nesse as horas que nos ocupamos em ser timoneiros, uma metafórica comparação que instigará o entusiasmo pelo leitor ora formado levando-o a tomar com espontaneidade o leme e com resultados vermos que o costume de ler segue firme, vai adiante sem parar. Daí a idéia de que enquanto formadores de leitor mantenhamos a prática na prática mesmo que ela não faça coro às determinações do sistema que sabemos ser fator de modelos nem sempre pragmáticos, mas obedecendo a critérios didáticos passíveis de mudanças embora vistas com olhos de mercador por gestores irredutíveis, mencionados que bem poderiam ser por Freire como os responsáveis pela “opção programada,” à qual se não for implicitamente entendida como lamentável equivoco corrigível, viria pelos termos gramaticais complexos, em detrimento à compreensão na formação de novos leitores, daí que facilitar seria flexibilizar:
“A questão da coerência entre a opção proclamada e a prática, é uma das opções que educadores críticos se fazem a si mesmos. É que sabem muito bem que não é o discurso que ajuíza a prática, mas sim a prática que ajuíza o discurso.” FREIRE, Paulo, 1982:
De forma simples, ao citar a prática Paulo Freire nos passa que a facilidade não comunga com a obrigatoriedade e acrescentamos que esta se tornará uma postura responsável do leitor certamente não adotará exclusivamente a última em detrimento da primeira, pois na medida em que ele dominar o enfoque no próprio fruir passará a ler com teor de livreto grandes Best Sellers e irá com isso ascender obviamente aos clássicos. O alcance é individualizado, mas intenção tem que ter tal ousadia na formação de novos leitores e é isso que se busca nessa proposta.
NOTA: Embora constantes como referência de pesquisa Paulo Freire e Irande Antunes, são vários autores que poderíamos buscar para o tema os quais as explanatória teses dão uma direção com resultados coerentes e uma excelente base ao projeto sem rejeitar insondável número de fontes que só tem a acrescentar, tendo em conta que o objetivo é a busca incansável por métodos para a formação de leitores.
ANTUNES, Irande. Aula de português. Encontro e interação. São Paulo. Parábola editora. Ed 2003.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. Em três artigos que se completam 51 ed. São Paulo Cortez, 2011