O ato de julgar e a incapacidade de reagir

O que leva o ser humano a julgar e ser julgado pelos outros, pergunto? Será real o questionamento que leva a intermináveis discussões, muitas vezes sem soluções e sem chegar a um dado comum. O fato que me levou a esse questionamento foi uma ocorrência ontem em meu trabalho. Chegou ontem pela manhã uma jovem senhora aflita com dois filhos menores, alegando estar vindo de outra cidade e desejosa de ir para a cidade de seus familiares em outro estado. Em face de sua situação financeira ser precária, adentra na nossa sala com a certeza ou tentativa de que o seu desejo será realizado. Não eram mendigos, necessitados sim, crianças limpas e humildes, mas bem vestidas, quanto a ela nem tanto, um mínimo de roupa, deixando a quem a visse o direito ou não de julgá-la. Questionamos a mãe o que tinha gerado a sua fuga para junto de sua família e onde estaria o pai das crianças. Deparamos-nos com uma situação corriqueira. Um filho era de um pai e já estava morto, o outro pai era viciado e desde o nascimento do pequeno tinha abandonado o lar, estava em casa de amigos e agora não tinha mais para onde ir porque a sua amiga havia falecido. Verdade ou não estes fatos nos foram despejados, como se fôssemos salvadores da pátria para recambiá-la para o estado de origem de seus pais. Pessoas com este tipo de problema já virou rotina, idosos abandonados pelos parentes ou por eles mesmos, desempregados, insanos, aflitos, astutos, andarilhos e por aí vai...A própria contingência destes aspectos que já viraram rotina faz com que desconfiemos de palavras e ações. Temos ajudado e em muitas destas situações surpreendidos com mentiras e ações difíceis. A nossa assistente social conversou com a jovem senhora e face a dificuldade em recambiá-la e em analisar o fato gerador da fuga ou não, resolveu prudentemente encaminhá-los ao Conselho Tutelar para os procedimentos necessários, face a situação de risco em que se encontrava os menores.

Estamos em uma sociedade onde a desintegração familiar, dificuldades financeiras e as ausências de projetos assistências reais não conseguem minimizar esta realidade. Fatos como este vemos por toda a parte, não é nem novidade... Hoje pela manhã me deparei com o jornal local televisivo e assisti a uma entrevista com um magistrado, imbuído de excelente propósito em tentar conscientizar o público da necessidade de se promover a adoção de crianças, principalmente das maiores que estão albergadas, alegando este que elas precisam não só de apoio financeiro, mas de uma família onde se sintam protegidas e amadas.

Em que momento aquela mãe e estes não estão na mesma situação? O que nos dá uma sensação de incapacidade para tentar ajudar ou minimizar este tipo de situação. Que tipo de política pública ajudaria em longo prazo resolver ou minimizar estes tipos de problemas? O Terminal Rodoviário da cidade em que resido e áreas circunvizinhas tem sido alvo de menores de todos os tamanhos a serviço da bandidagem, prostituição, drogas, vindos em sua maioria de cidades do interior e despejados por inconseqüentes nas ruas. Viramos reféns do medo, procuram-nos e ameaçam-nos. São muitos deles mortos e matam, aprendem cedo à arte de ser bandido para sobreviver... A quem deveríamos culpar?

Penso sinceramente e não discordo de quem não aceitar o meu parecer que a unica maneira a longo prazo que poderá resolver ou minimizar esta situação é fortalecer as famílias. Precisamos dar ênfase a esta célula, criada pelo Eterno para daí por diante, fortalecendo os pais, centrar os filhos dando-lhes valores, fortalecendo a sua auto-estima, fazendo-os crescer com serenidade e não atropelados pelas contingências da vida. Precisamos sim de políticas públicas que visem fortalecer o surgimento cada vez mais de empregos, moradias decentes e uma política ostensiva de banimento da sociedade de bandidos do colarinho branco que promovem a distribuição da miséria, fomentando os cartéis do tráfico, deixando estes a mercê deles, como salvadores de suas necessidades.

A crescente bandidagem e miséria, aliados aos desvios de conduta moral de homens que deveriam estar no topo como gestores públicos agindo para coibir estes desmandos e o abismo cada vez maior entre os que têm muito e os que não têm quase nada são fatores que levam a disseminação do que estamos vendo, ouvindo e participando.

Ishamendes
Enviado por Ishamendes em 21/06/2007
Reeditado em 21/06/2007
Código do texto: T535302