SONHAR ALÉM
A cada vez que lanço o desafio à mente, para que seja capaz de buscar se situar no espaço-tempo de forma consciente e audaz, ela me responde como incapaz de criar, de imaginar algo do qual não tenha conhecimento prévio.
Desse fator limitante foi necessário extrair uma visão fortemente excitante ao consciente criador, que consiste na constatação seguinte: sonhar é superar a razão, pois sonhos nos permitem transpor os limites da imaginação.
O sonho permite que sejamos capazes de vivenciar tridimensionalmente uma imagem. Assim, estão presentes as sensações de calor, de tato, do olfato, de prazer ou dor, etc.
Podemos, no sonho, vislumbrar a revoada das garças, a estender suas asas na imensidão do céu ou vê-las engolindo peixes no banhado.
É possível que nos impressionemos com o porte majestoso e altaneiro do tuiuiú pantaneiro e seus passos compassados, a andar por entre os alagados à procura de alimentação, tendo-se a impressão de que podemos perceber suas cores dentro de uma realidade inquestionável.
Podemos ainda, sentir o movimento do ar a nos tocar, bem como a velocidade da água do rio na correnteza e, despencando na cachoeira, construir nuvens que tocam o solo num eterno murmurar, como se fosse uma canção que o rio está sempre a cantar.
Tudo isso nos permite o sonhar. Pois, sonhos imitam o mundo, ou melhor, recriam o mundo de tal forma que sofremos emocional e fisicamente a ação de algo que só existe na criação mental.
A imaginação não consegue atingir o mesmo grau de interação, por ser o fruto de um desejo proposto à razão, que simplesmente organiza peças da memória para formar e montar a tela que precisa ser visualizada.
E assim se apresenta como uma realidade morta, bidimensional.
Assim, sonhar é recriar mundos, é ser capaz de olhar além do que nossos olhos podem ver e perceber; é usar a percepção da compreensão em oposição aos limites impostos pelo entendimento.