A senda das boninas
Eu sabia, descobri por mim mesmo, quase a esmo. Nunca era de passar daquele outro lado da rua e, muito menos, deixar de quebrar aquela esquina obrigatória, pois a partir dali a rua virava um beco sem saída, com 3 ou 4 casas de um lado e o campinho do outro. E mais pra frente, o matagal, pedregal, cobras e a pirambeira.
Mas mudei de curso e lá cheguei, como se instintivamente estivesse impelido a fazer algo. E justamente sob a janela de dona Saturna, naquela terra batida, umedecida pelas enxurradas lá os vi: pés de bonina, da branca, da vermelha e até da roxa. Intocados, florescendo. E aos bocados.
E contudo, não era nas flores que residia meu interesse. Eu, menino, colher florzinha? Me corava só de pensar. O que eu queria eram as contas, aqueles grãozinhos duros, cinzentos, feito pérolas que sucediam à floração. E fazer o quê delas?
Ora, terços, tecer terços. Cada grãozinho era uma conta, que deveria ser perfurada para uma agulha, para que ali se passasse o araminho. Entendia que como a Virgem nos mandava as contas rezar ainda dizia que o terço nos há de salvar, por quê não terçar, ao invés de um colar?