O Beco do Fanha

A origem do Beco do Fanha nos remonta à figura de Inácio Manuel Vieira que, em torno de 1800, teria comprado um pedaço de terra entre a Rua da Praia (a partir da Praça da Alfândega) e a Rua do Cotovelo (atual Riachuelo). Nesta área, ele construiu uma casa de muitas portas e janelas e abriu um atalho que da Rua da Praia conduzia os visitantes até um dos lados da sua nova residência. Em pouco tempo, o lugar ficou conhecido por Beco de Inácio Manuel Vieira.

Passado alguns anos, outro personagem se estabeleceu no lugar, cuja alcunha se tornou famoso no imaginário citadino: Francisco José de Azevedo, o Fanha. Ligado ao comércio, o novo morador abriu um armazém de secos & molhados, na esquina do Beco, em frente à Rua da Praia. Com o convívio diário, a clientela começou a comentar acerca da voz do proprietário, muitas vezes, difícil de ser compreendida. Em pouco tempo, o local passou a ser chamado de Beco do Fanhã.

Em 1834, atas da Câmara Municipal já se referiam ao Beco, associando-o à alcunha do famoso comerciante. Ao longo do tempo, outras casas foram construídas, e o lugar se transformou num logradouro público. Em 1884, O fiscal honorário mais popular da cidade, à época, Felicíssimo Manuel de Azevedo (1823 -1905), em uma das suas crônicas, louva a iniciativa do pioneiro morador Inácio Manuel Vieira, que antecedeu ao Fanha, em ter aberto uma nova rua na cidade.

De acordo com Sérgio da Costa Franco, em 1873, a Câmara Municipal trocou o nome do local por Travessa Paysandu. O nome foi uma homenagem à batalha vencida, em 1865, no Uruguai, pelo Exército brasileiro, na Guerra contra Aguirre. Fato curioso é que o nome, em Guarani, significa gagueira cortando o fio da palavra. Embora tenha sido mudada a nomenclatura do local, o nosso personagem, o Fanha, de alguma forma continuava presente. Já Ary Veiga Sanhudo (1915-1997) registra que a troca se deu no ano de 1895, inclusive, com a demolição das casas do velho Beco, determinada pelo intendente Alfredo Augusto de Azevedo.

Na administração do intendente José Montaury de Aguiar Leitão (1858-1939), o Beco foi alargado em 07 metros do lado da numeração ímpar, ficando com a largura de 13 metros. Na época, esta obra foi bastante importante, pois modernizou o local em relação a várias ruas centrais consideradas nobres.

O primeiro prédio da Caixa Econômica Federal, localizado na esquina da Rua 7 de setembro, a sede do jornal A Federação *(1884-1937) e o Grande Hotel ,na esquina da Rua dos Andradas, deram uma nova configuração à Travessa Paysandu, cujos transeuntes mais velhos insistiam em chamá-la pelo antigo nome: Beco do Fanha.

Em dezembro de 1944, o decreto-lei nº 213, assinado pelo prefeito Brochado da Rocha (1910-1962), determinava que a Travessa Paysandu fosse denominada de Rua Caldas Júnior numa deferência ao jornalista sergipano, que inaugurou o período empresarial da imprensa gaúcha, em 1º de outubro de 1895, ao fundar o Correio do Povo.

Nesta área, desde 10 de setembro de 1974, no prédio que foi sede d’A Federação, do Jornal do Estado e do Diário Oficial, encontra-se instalado o Museu da Comunicação Hipólito José da Costa que, neste ano, completará 41 anos de importantes atividades culturais junto à sociedade gaúcha.

As gerações mais recentes sequer imaginam que o local onde transitam, em seu dia a dia, havia um Beco com buracos e valetas, onde circulavam jovens, idosos, escravos e mulheres de vida “airada”, em busca de sobrevivência, como registrou o nosso primeiro cronista da cidade Antônio Alvares Pereira Coruja (1806-1889). Eram outros tempos....

Bibliografia:

FRANCO, Sérgio da Costa. Porto Alegre / Guia Histórico. Porto Alegre: Ed. da Universidade (UFRGS), 1988.

OLIVEIRA, Clovis Silveira de. Porto Alegre / A Cidade E Sua Formação. Porto Alegre: Gáfica e Editora Norma, 1985.

SANHUDO, Ary Veiga. Porto Alegre / Crônicas da Minha Cidade. Porto Alegre: Ed. Movimento / IEL, 1975