O ESPELHO, O ARCABUZ E A CRUZ

O ESPELHO, O ARCABUZ E A CRUZ

Somos levados a acreditar que o Presidente Lula tem razão quando debita o passado por tudo de ruim que acontece ao Brasil. Ele, como sempre, não tem culpa de nada. Segue sua trajetória política, modelada no populismo de Chavez. Infelizmente, se alguém falar em Caramuru, ele vai dizer que é uma fábrica de fogos de artifícios. Pois para ele, importa o passado mais recente e a fábrica de fogos não é tão antiga, como não tão antigo também, é o governo FHC, espelho retrovisor do governo Lula.

O ESPELHO

Pelos idos de 1500, quando aqui chegaram os degredados filhos de Eva portugueses, sabemos nós, que a costa brasileira era habitada pelos nossos índios. Compunha a turma visitante, um grande número de prisioneiros. Delinqüentes que a coroa portuguesa imaginou punir com a viagem exploratória. E a tropa partiu para o tudo ou nada e excitada pelo jejum sexual imposto pela prisão e pelos longos dias da travessia.

“Com suas vergonhas descobertas”, as nossas incautas índias, quando não cederam à força, deixaram-se levar pela emoção primeira de se ver num espelho. Na certa, na sua língua, disseram: olha eu ali de novo. Imaginamos que nessa época aconteceu o famoso espetáculo do crescimento. Muita coisa cresceu despudoradamente, inclusive a barriga das nativas.

O ARCABUZ

Poucos anos depois, Diogo Álvares, o Caramuru, chegou por aqui. Além da sagacidade do espelho, usou também a força de seu arcabuz para impor o medo e dessa forma, engravidar centenas de índias gerando os mamelucos dos quais descendemos. Durante três décadas, Caramuru fez orgias na costa baiana, sendo homenageado por Padre Manuel da Nóbrega, em carta ao Rei de Portugal, somente por que falava a língua dos índios que facilitava a catequese.

O encantamento fútil marcou o início de nossa etnia de forma indelével. Se hoje a força perde sentido, a banalidade, a falta de compromissos, os ganhos fáceis e a leviandade assumem o comando da legião de miseráveis inocentes, que deixam-se levar, tal e qual as jovens índias do passado, encantada com apetrechos e bugigangas que solapam parte de nossa dignidade. Se o arcabuz perdeu força (?), o espelho ainda encanta.

A CRUZ

Na época do descobrimento, para nossos nativos, o trovão e outros fenômenos da natureza, eram os deuses cultuados. Por isso, foi difícil convertê-los ao cristianismo e a cruz desempenhou papel importante na consolidação dos ideais católicos. Para quem não conhecia o Deus bíblico, foi difícil impor a figura do diabo como protagonista do pecado. O que era pecado para os índios? Outra vez o medo marcou presença através da cruz. Qualquer ação contrária aos intentos dos visitantes, era repelida como obra do satanás e este corria e ainda corre com medo da cruz – esta, ainda perde para o arcabuz e mais ainda para o espelho.

Poucos se apercebem, mas nos dias atuais, o nosso presidente Lula assume uma postura de espelho junto a milhões de brasileiros – que votam. A maioria acredita que sendo ele um homem de poucas letras e chegou lá, qualquer um dos humildes pode chegar, ressalvada a luta do companheiro para chegar a ser presidente da república brasileira.

Para Lula, o espelho deve ser o companheiro máximo. Por isso, imaginamos seu monólogo: espelho, espelho meu, há no Brasil um operário mais importante do que eu?

O espelho deve massagear o ego do presidente e já engendrou uma resposta: não companheiro Lula, você é o máximo. Junte-se ao Chaves, converse com os congressistas e tente o terceiro mandato.

É bom não duvidar das ilações do espelho ou de quem escreve.

Rui Azevedo

www.ruiazevedo.com

Rui Azevedo
Enviado por Rui Azevedo em 18/06/2007
Código do texto: T531976