Segunda mocidade

Segunda mocidade

Na última entrevista concedida a um canal de televisão pela escritora goiana Cora Coralina, ela defendia, com sabedoria, a tese de que temos duas mocidades. Uma primeira que se completa ao atingirmos 50 anos, outra, a partir deste marco e enfatizava com serenidade, a beleza em distribuir aos da primeira, os saberes conseguidos ao longo da vida e suas palavras denotavam uma paz interior que induziam uma vontade de ficar velho a quem a assistiu.

Lembrando as palavras daquela bela senhora, remetemo-nos para a convivência com alguns amigos da segunda mocidade que reclamam dessa condição como se ela fosse uma condenação, um castigo, outros, entretanto encaram a existência e o peso da idade como sendo um doce prazer.

Ao abordarmos este tema, sentimos quase que uma obrigação reverenciar um casal sexagenário que domingo p. p., almoçava em um dos restaurantes da Av. D. Severino. Causou-nos uma indescritível satisfação, observar aquele casal. Ele, sereno e com impecáveis gestos se esmerava em oferecer a sua companheira, o que na mesa estava posto. Ela, sempre com um sorriso franco e olhar singelo, agradecia as gentilezas de seu companheiro com toques e gestos carinhosos.

Ao observá-los, não nos fizemos notar, mas a boa impressão foi tanta, que desde aquele dia quedamo-nos a pensar sobre a imperiosa necessidade que temos de cultivar uma velhice tranqüila, a partir das relações com quem, conosco divide o tempo.

Muitos de nós, por razões pessoais ou por ignorância, relevamos momentos que numa reflexão, poderíamos complicar menos e amar muito mais do que achamos pleno.

Inexoráveis, os anos passam e encontrar novas formas de convivência que dignifiquem a segunda mocidade, é um desafio para aqueles que dela se aproxima. Esse desafio implica em começar de novo, em re-significar valores e, contemplar e admirar o novo, enxertando a sabedoria do velho.

Cuidemo-nos pois, para que nos dias que hão de vir, possamos olhar o passado com a certeza de que fizemos o melhor; com a convicção de que fomos dignos dos amigos que conquistamos, dos amores que tivemos; com a tranqüilidade de quem foi justo e bom na tomada de decisões que afetaram o outro, a fim de que o futuro seja apenas saudoso e não triste.

Rui Araújo de Azevedo

Economista e professor

Publicado no Diário do Povo – Teresina-PI

www.azevedo.com

Rui Azevedo
Enviado por Rui Azevedo em 18/06/2007
Código do texto: T531908