VERSOS DE AUTORES DESCONHECIDOS
Vêm-me às vezes à lembrança versos de autores desconhecidos que me ficaram na memória, e que voltam de repente, sem que se saiba por que. São versos que vi ou ouvi em algum lugar, que às vezes ouvi de alguém que não lhes sabia a autoria. Certamente muitas pessoas se deparam com o mesmo problema, para o qual não encontram solução. Ou pelo menos solução imediata.
Este meio de comunicação, a Internet, talvez seja apropriado para descobrir a autoria de tais versos.
Vou, com essa esperança, reproduzir, de memória, alguns desses misteriosos poeminhas, dos quais eu nunca soube o autor. Direi também em que época ou circunstâncias os conheci.
O que vai em primeiro lugar ouvi-o de um colega, aluno como eu, em 1946 ou 47, da Escola Técnica de Aviação, situada em São Paulo. A informação que então recebi foi a de que o autor era um soldado da Força Expedicionária brasileira, participante da Segunda Guerra, que acabara em 1945. Teria lido, esse meu colega, os versos em algum jornal, em alguma reportagem? Não me disse, nem lhe perguntei.
São estes:
E ter na mente
(Eterna mente!)
Eternamente
Éter na mente.
Outro poemazinho nas mesmas condições de ignorar-se o autor (ou sou o único ignorante da autoria) é mais ou menos o seguinte:
Eu tenho um amigo chamado Lopes
Que faz envelopes.
E tenho um amigo chamado Lucas
Que faz arapucas.
Se o meu amigo chamado Lopes
Fizesse arapucas
E o meu amigo chamado Lucas
Fizesse envelopes,
Então o Lopes seria o Lucas,
E o Lucas seria o Lopes,
Ou envelopes seriam arapucas
E arapucas seriam envelopes.
Estes versos trocadilhescos conheci-os em Vitória, ES, quando lá estive entre 1948 e 1953. Aprendi-os não me recordo como, e às vezes o repetia para um funcionário do Aeroporto de Vitória, que se chamava Lopes.
Um terceiro caso que desejo mencionar eu o li num almanaque denominado “Enciclopediana”, publicado aí pela década de 1880. Meu avô (eu era ainda menino) o dizia de cor, e assim o decorei. Muitos anos depois li referência a essa publicação numa pagina de Agripino Grieco. O poema é assim:
O veneno que há no dente
Da serpente,
Que há na flecha ervada e má
Do antropófago impiedoso,
Ah, na pena do escritor
Também há.
A pena, o leitor consinta
Que eu a defina. É sucinta
A definição da pena:
É flecha d’aço pequena
Que com tinta
Se envenena.
Anos mais tarde, li-o na revista O Cruzeiro, nos “Arquivos Implacáveis” de João Condé, com a informação de que esse poeminha era uma tradução feita por Raimundo Correia. Pode ser que fosse. Mas como pesquisador da obra do poeta do “Mal Secreto”, vi muitas traduções deste em jornais e revistas, sempre com o nome do tradutor. Por isso, não incluí o poema entre os inéditos que apresentei em Poesia Completa e Prosa, edição que preparei para a José Aguilar, em 1960. Considero também este epigrama como um poema de autor desconhecido.