A REALIDADE E A FICÇÃO
Depois da derrota humilhante para a Alemanha, dentro do Brasil criou-se um novo país. O do futebol. A mídia desse país voltou ainda mais ferrenha, depois de outra humilhação no Chile. E exigem mudanças de cabo a rabo.
Chegou a hora de um técnico estrangeiro. Alguns dirigentes deveriam ser presos. Outros precisam ser substituídos. De preferência por ex-jogadores de futebol. Leis de responsabilidades dos clubes precisam ser aprovadas, e tantas outras bobagens.
Desta turma vou citar Juca Kfouri e José Trajano. Estranhamente, enquanto para os dois no futebol tudo está errado, o país de Dilma Rousseff é uma maravilha. E se você criticar a presidente perto deles, corre um sério risco de apanhar.
É neste ponto que incorremos num grande erro. Na tentativa de dissociar o “País do futebol” do Brasil real. Autoproclamado “Pátria Educadora”.
No passado fugia-se da escola para jogar bola, ser craque e campeão. Hoje se foge da escola, para jogar bola, ser estrela “pop star” e ganhar dinheiro. Ser um líder saiu de moda. E torcem por um Hino Nacional em ritmo de Rap.
O Chile tem dois ganhadores do Prêmio Nobel de literatura. O Brasil sonha com o dia que o jogador Neymar seja escolhido o melhor do mundo. Certamente desfilará em carro aberto. E nós temos José Sarney e Fernando Henrique Cardoso na Academia Brasileira de Letras. Que inveja eu tenho dos chilenos.
Certa vez, o papa Francisco bradou aos jovens: “Sejam revolucionários”. Infelizmente o Brasil ainda precisa ensinar a sua juventude o que é ser revolucionário. Nosso país é tão confuso que confundimos revolucionar com “se perder”.
Além de entender o porquê de 51 milhões de jovens, 21 milhões não terminarem o ensino médio. Segundo dados do TCU. A maioria massacrante não será um “pop star”. Na ânsia de ser, entrará no campo do crime. Sabemos que o crime está se especializando em fazer golaços com os jovens no ataque.
Na ficção global “Verdades Secretas”, um dos cenários é uma escola particular. No meio de um bando de personagens adolescentes e babacas, eu ainda não vi ninguém com um livro na mão. Já com drogas e bebidas... Um revolucionário não pode ter seus heróis fabricados na mídia ou pelo crime. Nem morrendo de overdose.
Enquanto a sociedade conservadora arregala os olhos negativamente para a ficção, esquece que a realidade é ainda pior. Estamos muito mais próximos de finalmente descobrir se Capitu traiu Bentinho, do que de encontrar caminhos revolucionários para nossa juventude. Nem a nossa ficção sabe como se forja um revolucionário.