O BRASIL TEÓRICO E O REAL
Assistindo ao Programa do Jô, a entrevistada única foi a presidente Dilma Rousseff na biblioteca, uau, em muitos momentos me senti ouvindo a Rádio Rio Negrinho AM. Aqui, quando os políticos querem ou precisam aparecer dão entrevistas.
Usando o futebol como metáfora, funciona mais ou menos assim. O entrevistador faz uma pergunta como se estivesse dando um passe de trinta metros perfeito. O entrevistado só tem o trabalho de matar a bola no peito e empurrar para as redes sem goleiro. Mesmo sabendo que ninguém ouvindo ou vendo está acreditando.
Durante uma hora de programa, o espírito de Gérson parece ter baixado em Jô Soares. Foram incontáveis passes perfeitos. A presidente Dilma que de boba não tem nada, fez gols de placa de todas as maneiras que quis. E se não tinha torcida para ovacionar batendo panelas a cada golaço, tinha um comediante baba ovo massageando o seu ego.
Na sexta-feira, horas antes do programa ir ao ar, vários sites já divulgavam muito do que a presidente diria. Claro que não fiquei esperando todas essas horas. Só três coisas me fazem ir dormir tarde. O time e a pessoa que moram no meu coração, e Novak Djokovic jogando tênis. Se um dia essa lista aumentar, certamente não incluirá Jô Soares ou Dilma Rousseff.
Assisti no sábado pela manhã na internet. Nem precisei me autenticar no Globo.com. O vídeo estava liberado para todos. E fiquei com uma dúvida danada.
Com tantos gols de placa, será que a presidente concordaria com uma entrevista no mesmo modelo e tempo, se o entrevistador fosse o jornalista Ricardo Boechat? Um cara perna de pau, que não acertaria um passe de dois metros.
Em nenhum momento Jô Soares colocou a presidente contra a parede. A corrupção, o partido corrupto ou as greves na educação, nem chegaram perto do portão da entrevista. Mesmo assim a presidente deu desculpas interessantes. Nenhuma foi novidade.
Culpou os americanos e a seca pela crise. O fim da CPMF pela saúde. Disse que com o ajuste fiscal a crise será passageira. No lugar do comediante, um entrevistador perguntaria o porquê de até antes das eleições não existir crise o Brasil. E por que o bicho-papão do ajuste fiscal que estava agarrado com a oposição agora encarnou nela.
Eu tirei algumas conclusões depois da entrevista. Dilma Rousseff e toda a classe política brasileira acreditam de verdade que o mundo teórico perfeito criado por eles dentro de uma redoma, é igual ao mundo real que a população vive fora.
Hoje eu tenho uma convicção. Dilma Rousseff vive atormentada. Ela não está à altura do povo que governa. Também tenho lucidez para perguntar: Quem estaria?