O fim dos livros?
Por Rodrigo Capella*
Nunca se debateu tanto a questão da censura na criação, divulgação ou venda de algumas obras literárias, em sua grande maioria compostas por biografias. O caso envolvendo Roberto Carlos e Paulo Cesar Araújo é o mais recente capítulo desta névoa que incomoda, profundamente, os escritores: afinal, por que teimam em bloquear a nossa capacidade produtiva?
Todos deveriam saber que a biografia nada mais é do que um recorte de uma vida, recheada de elementos. O biógrafo, então, não tem como missão retratar a todos os momentos do biografado e sim ponderar e dar valor aos que julgar importante.
Esse é o ponto-chave. A biografia assume, logo nas primeiras páginas, um relativo e importante caráter opinativo e, talvez por isso, incomode algumas pessoas, principalmente os biografados. O pior ainda ocorre quando a obra recebe o famoso nome "biografia não autorizada", despertando uma antipatia, por parte do biografado, antes mesmo da biografia ser finalizada.
Os impedimentos e bloqueamentos literários lembram-me os tempos de ditadura. Naquela época, era preciso ter muita criatividade para compor, principalmente, músicas. Ivan Lins e Chico Buarque sabem muito bem disso e transformavam as letras em poemas, utilizando recursos lingüísticos para escapar dos cortes da censura.
Ora, se as censuras aos livros continuarem, teremos, então, apenas livros de poesias. Como as editoras detestam esse gênero e fazem de tudo para não publicá-lo, é natural que os livros deixem de existir. Mas, e os leitores? Eles rapidamente se adaptariam a essa nova tendência e o Brasil seria mais poético. Vale a pena? Não. A censura bloqueia a capacidade criativa e produtiva
Precisamos nos unir e protestar. Só dessa forma é que, realmente, vamos estimular o gosto pela leitura e o brasileiro vai conhecer os livros em detalhes!
(*) Rodrigo Capella é escritor e poeta. Autor de vários livros, entre eles "Transroca, o navio proibido", que vai ser adaptado para o cinema pelo diretor Ricardo Zimmer, e "Poesia não vende", que traz depoimentos de Ivan Lins, Moacyr Scliar e Barbara Paz, entre outros. Informações: www.rodrigocapella.com.br