A imaginação nas fases da vida
“A criança que eu era, teria orgulho do que sou hoje? ”. Eu sempre me faço essa pergunta. Penso todos os dias se o que faço foi o objetivo de minha infância. Parece até frase de quem nunca quis crescer, mas não penso assim. O tempo passa e a gente inevitavelmente cresce, o nosso corpo cresce a nossa mente amadurece. Mas há uma pequena parte que fica quieta num cantinho em nosso ser que, não importa a idade, sempre quer sair e mostrar que a vida não é tão dura quanto pensamos. Essa parte, muitos chamam de “a criança que existe dentro de nós” e que nunca devemos abandoná-la, mas que na primeira oportunidade, numa primeira “brincadeira”, se julgam infantis. Sabe, não acho certo julgar as babaquices de um homem como infantilidade. A infância é a fase mais gostosa da vida, não por não ter preocupações e muito o que fazer ou por ser bancado e cuidado por todos, mas pela sinceridade, amor e carinho expressos nessa fase. Uma criança consegue ser muito mais verdadeira que qualquer adulto maduro, ela consegue perdoar segundos depois seu próximo, não importa o que ele tenha feito, enquanto nós, os adultos, ficamos até anos remoendo tristezas e ódios, porque simplesmente não conseguimos perdoar ou aceitar um perdão. A criança possui uma habilidade incrível de ser feliz mesmo no meio de tanta dificuldade, tristeza e violência. Quantas vezes nós não vimos cenas de tragédia, violências brutas nas grandes cidades ou cenas e imagens de lugares consumidos pela fome e no meio delas crianças sorrindo e brincando? Pois então. É por isso que não acho certo julgar tolices e babaquices adultas como infantis.
Existe uma coisa no ser quando criança, que adoro e que prezo muito. Uma coisa fantástica, responsável por fazer essas crianças sorrirem em meio a tantas dificuldades da vida: A imaginação. Não existe algo tão impressionante quanto ela. Capaz de nos transportar a muitos lugares, de trazer a felicidade mais perto de nós, de mostra um lado da vida que só vendo para saber o quão maravilhoso é. E melhor é que se quisermos e acreditarmos podemos transformar as coisas imaginadas reais em nosso cotidiano. As crianças imaginam mundos fantásticos, seres poderosos, se imaginam com superpoderes, imaginam grandes aventuras e acreditam que um dia poderão se tornar realidade e isso faz com que imaginem muito mais. Para um adulto isso é uma tamanha tolice, por que para sua ciência avançada, para sua inteligência renomada e segundo seus jornais cotidianos, tudo isso é impossível. Parece que quanto mais velhos, perdemos essa habilidade de imaginar.
E sabe, a ideia de que quando envelhecemos voltamos a ser criança faz sentido, pois quando criança vivemos intensamente nossa habilidade de imaginar, ao chegarmos à adolescência nos deparamos com uma sociedade de “aparências”, onde se você não tem aquele sapato, aquela roupa não é “aceito” pelas pessoas, é tido como estranho, então nós deixamos de lado a imaginação para atender os pedidos do consumismo em um modelo de vida sem lógicas e desigual. Ao chegarmos próximos a vida adulta, nossa grande questão é “o que vou ser?”,” que profissão seguir?”, o que fazer?”, fase também da preocupação de “ficar sozinho”, característico também da adolescência, mas que ganha peso nessa fase. A família começa a questionar e a querer que você consiga alguém para casar e continuar a família, o nome da família, fase de preocupação com dinheiro, como se sustentar e sustentar essa tal futura família, ou seja, não temos tempo para imaginar, não queremos imaginar porque não gera dinheiro e se não gera dinheiro não é viável. Já mais adultos, já não nos preocupamos tanto com as correrias da juventude, procuramos manter um emprego estabilizado para sustentar a casa e também guardar dinheiro para a velhice, além de vivermos contando os anos para aposentar. Resumindo: ocupados demais para imaginar. O máximo que fazemos é inventar uma historinha aqui outra ali só para manter os filhos ocupados para poder continuar a contar os anos para a aposentadoria. O tempo passa e enfim chegamos a velhice. Uma fase um tanto sábia, embora existam muitos idosos por aí que ganham o troféu “turrão do ano”. Nada sábio. Porém, é nessa fase que olhamos para traz e vemos a importância da infância, como ela poderia nos ter ajudado em muitas coisas, o como poderíamos ter sido menos adultos fanáticos por ter dinheiro e mais crianças sinceras e carinhosas, é então que tentamos concertar os erros cometidos ou pelo menos se redimir de tais, sendo mais crianças, mais infantis. Dá-se então a lógica da ideia mencionada anteriormente: Na velhice voltamos a ser crianças. Porque só nesta idade que podemos entender, depois de tantos erros e tanto ter esquecido, a verdadeira essência de ser criança, que não é meramente não fazer nada e deixar que cuidem de nós, mas sim o sentimento, a sinceridade de cada gesto, de cada sorriso infantil, que o perdão dado e aceito por uma criança é mais verdadeiro que qualquer outro. Então, já velhos, tentamos resgatar tudo isso e em muitos casos tentamos transmitir essa mensagem a netos, bisnetos e tantos outros para que não cometam o mesmo erro: esquecer de ser criança, de ser infantil, de ser verdadeiro e sincero...de imaginar.