Duas mulheres descobrem na sala de aula que são irmãs

Interessadas em se tornar escritoras, conheceram uma incrível história real: a delas próprias.

Foto: Katy Olson, esquerda, e Lizzie Valverde, que foram adotadas por famílias diferentes há trinta anos, na classe onde se conheceram. Autoria: Todd Heisler/The New York Times

COREY KILGANNON, para o site do New York Times

15/05/2015

Há alguns anos, quando iniciaram curso para escritores na Universidade de Columbia, Lizzie Valverde e Katy Olson não se conheciam. Lizzie é de New Jersey, Katy cresceu na Flórida e no Iowa.

Em Janeiro de 2013 elas tiveram o primeiro dia de aula. Durante uma atividade em que os alunos se apresentavam para a classe, elas descobriram algo surpreendente: que são irmãs.

As duas vieram até Columbia aprender técnicas de escrita e a não imaginavam que acabariam vivendo o que viveram.

Fotografias da infância de Katy (esquerda) e Lizzie (direita).

Os pontos em comum das vidas delas - a chance do encontro três décadas depois de nascer da mesma mãe problemática no estado da Flórida e serem criadas por famílias adotivas em diferentes partes do país - foram sendo identificados após anos de investigação feitas por elas mesmo sobre suas origens.

Na próxima segunda-feira, quando Valverde, 35 anos, concluir seu bacharelado em escrita criativa da Escola de Estudos Gerais, a irmã Olson, 34 anos, já formada e tentando um Mestrado na área na própria Columbia, comparecerá à formatura.

A mãe delas, Leslie Parker, de 54 anos, também estará presente. Ela teve as meninas ainda adolescente na cidade de Tampa, estado da Flórida. Depois de mais de trinta anos terá a chance de rever a filha Katy.

Falando publicamente de suas histórias pela primeira vez nesta semana, as irmãs contaram em detalhes como elas se mudaram para Nova York para estudar e decidiram por volta dos trinta anos se dedicar à prática da escrita em tempo integral.

Fotografia: as irmãs no campus da Universidade de Columbia. "Elas são jovens brilhantes e belas", disse a mãe. Autoria:Todd Heisler / The New York Times.

Na primeira de várias coincidências, que resultou no encontro das irmãs, ambas se inscreveram e conseguiram se matricular na Escola de Estudos Gerais, uma das poucas a oferecer cursos a pessoas que retomam os estudos, cujo conteúdo se aproxima ao dos cursos da graduação. Ambas escolheram tomar aulas de Oficina Literária.

Na classe, sentaram-se perto uma da outra. Com os alunos acomodados à uma mesa grande, o professor pediu que se apresentassem.

Lizzie, que se matriculou poucos minutos antes do curso começar, contou, entre outros detalhes de sua história pessoal, que foi adotada e que criava uma filha sozinha. Ela também mencionou sua curiosa obsessão pelas irmãs Olsen. Katy ficou surpresa ao escutar a história. "Ela pareceu estar sofrendo um ataque de pânico", comentou Lizzie.

A história de Valverde era semelhante à de Olson, que havia recentemente tomado ciência de que era adotada. Ela suspeitou, enfim, que a colega de classe pudesse ser sua irmã biológica.

"Várias informações bateram", revelou Katy, incluindo aquelas obtidas através de pesquisas online a respeito da identidade de sua mãe, assim como pistas de que ela tinha uma filha mais velha, que podia ser estudante da Columbia.

As tentativas de contato pela internet com a irmã mais velha fracassaram e ela parecia estar na mesma classe ."As peças foram se juntando", lembrou Katy que, apesar disso ainda hesitava.

"Minha preocupação é que ela fosse pensar que eu estava fazendo piada, importunando-a", contou. E eu não queria que ela se afastasse. Eu não podia simplesmente ir para casa e esperar uma semana para ter a resposta para esta questão.

Por este motivo, ela se aproximou de Lizzie depois da aula e fez várias perguntas sobre a vida pessoal dela: seu nome de solteira, se ela tinha sido adotada na Flórida, se morou em Nova Jersey. Lizzie, que não sabia da existência da irmã biológica, ficou chocada.

"Acho que somos irmãs", Katy revelou. Para a irmã somente responder murmurando: "isso é real?".

Desta forma, duas mulheres que antes não se conheciam se tornaram familiares. Foram juntas para um bar e dispararam perguntas uma para a outra. "Você gosta de carne com cerveja? Gosta de comida apimentada? Tem os dedos do pé estranhos? Ama abacates?

Em um momento mais sério da conversa, Lizzie contou à irmã que já conhecia a mãe pessoalmente. Explicou que descobriu o nome de solteira dela através de um certificado de adoção quase apagado. Pesquisas na internet revelaram a ficha criminal com foto da sra. Parker, e detalhes chocantes de uma vida sofrida, incluindo o ataque de Gary Ray Bowles, famoso serial-killer condenado à morte na Flórida após a confissão do assassinato de seis homossexuais.

Valverde convenceu a irmã a entrar em contato com a mãe. Elas já se falaram pela internet, mas não ainda por telefone. Durante entrevista, sra. Parker afirmou que o reencontro com as filhas foi uma resposta a trinta anos de orações. "Meu mundo finalmente estava completo", comentou. Na época em que levou as meninas para adoção, ela já criava três meninos e a família sobrevivia em condições precárias.

Ela sempre quis ser escritora, sonho interrompido por uma vida difícil, cercada de pobreza, vício em drogas e problemas emocionais. Foi mãe ainda na adolescência e separou-se das meninas por não ter condições de criá-las. "Se ficassem comigo, jamais teriam tido os privilégios que tiveram como crianças adotadas. Elas são jovens belas e brilhantes", afirmou. "Vejo nelas o mesmo potencial que eu tinha no passado. Vão poder realizar o que eu tinha sonhado para mim".

As irmãs cresceram de formas bastante distintas. Lizzie teve vida confortável em Bergen County, no norte de New Jersey, onde o pai era editor de jornal televisivo. Katy, que sofre de um leve problema cerebral, passou maior parte da infância encarando desafios físicos, inclusive vários tratamentos médicos. Porém, desde tenra idade, ambas tinham interesse em escrever e se dedicavam a esta paixão, apesar de terem abandonado os estudos ainda no ensino médio e não terem seguido o passo tradicional: faculdade e depois carreira.

Valverde fez bicos em duas faculdades, trabalhando como atendente de bar e foi assistente pessoal de um artista de Hip Hop. Olson se tornou atriz e comediante. Ela atua regularmente em clubes de Nova York. Assim como a irmã, mudou-se para a cidade muito jovem.

Foi exatamente o fato de ambas voltarem a se dedicar à escrita e estudar que as fez reencontrarem-se. Desde a mencionada primeira aula, elas se veem com frequência, conheceram as famílias adotivas uma da outra e passam feriados juntas.

Lizzie está ajudando a irmã com a viagem e preparativos da formatura. Enquanto isso, cuida para que tudo saia bem no primeiro encontro de Katy com a mãe.

Para sra. Parker, a chance de se reaproximar das filhas a estimulou a resolver antigos problemas de relacionamento com a mãe e irmãs dela. "Estou feliz por ter dado a vida às minhas filhas. Não sou religiosa, tenho espiritualidade. Mas quem não acredita em uma força superior vai passar a acreditar quando souber desta história".

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(Tradução: Gabriel L. Trizoglio)

- Confira este texto com imagens no blog "Gabriel Traduções"

http://gabrieltraducoes.blogspot.com.br/2015/05/duas-mulheres-descobrem-na-sala-de-aula.html

- Link para texto original (Jornal New York Times)

http://mobile.nytimes.com/2015/05/16/nyregion/adopted-sisters-find-each-in-columbia-university-writing-class-after-30-years.html?ref=nyregion&_r=0&referrer=