O DOUTOR E AS FACADAS

E se a pessoa morta a facadas num assalto no Rio de Janeiro não fosse um médico, será que a mídia estaria fazendo todo esse barulho? A resposta é simples. Talvez, em algumas mídias, o assalto e a morte nem seriam notícias. Com toda certeza, não houve apenas esse assalto seguido de morte naquele dia.

Infelizmente foi só desse que a mídia falou e continua falando. De repente, sugiram especialistas em segurança pública de todos os lados comentando o assunto. Sem exceção, todos tinham as soluções na ponta da língua, e apontavam o dedo para os culpados.

Entendam isso como uma ironia. Faltou pouco para esses “especialistas” me convencerem que também sou culpado por um menino de dezesseis anos sair esfaqueando pessoas para roubar. Fui convidado até a passar a mão na cabeça dele. A visão é de que ele não é um assassino. O “coitadinho“ é uma vítima do sistema.

Estranhamente a punição sempre esteve fora das soluções apresentadas por esses especialistas. Diante dessas pessoas falando, ficamos com a sensação que a tragédia terminou com duas vítimas. Uma foi o médico assassinado durante um passeio de bicicleta. A outra, o “menininho” que matou por uma bicicleta.

Enquanto essa visão simplista de crime e vítima prevalecer, o Brasil estará longe de dar um passo adiante quando o assunto é a segurança pública. Ainda não se conseguiu enxergar o quanto a sociedade está refém dos criminosos.

É uma pena que isso só seja notícia na mídia quando a vítima é uma pessoa importante. Engraçado que a mídia adora apontar o dedo para os corruptos e exigir que eles sejam presos. O mesmo não acontece com outros tipos de crimes.

Esse “esquecimento” seria o receio da conotação com a mídia de “segunda classe”? Eu temo que sim. Uma parte da mídia brasileira conseguiu inventar “padrão” até para certos tipos de crimes. Os únicos que interessam, são aqueles que acontecem no andar superior da pirâmide social.

Entrevistada pelo jornal “A Folha de São Paulo”, a educadora Yvonne Bezerra de Mello disparou para todos os lados. Disse que os culpados pelo crime da Lagoa são a família, a escola e o estado. Em alguns aspectos eu concordo com essa senhora.

Só que quando a família, a escola, e o estado perdem o limite entre o certo e o errado, a punição não pode deixar de existir. A lei não pode ter pesos e medidas diferentes.

Mais trágico do que não punir nossos criminosos, é se valer das péssimas condições dos nossos presídios, para deixá-los soltos. Um convite e tanto para novos crimes e mortes.