Aventurar a Felicidade!
O tremor da crina do cavalo, afugentava indesejáveis insetos que o assediavam para dele extrair nutrientes necessários à sua subsistência.
Estar em Jerusalém, é viver arrepiado as 24 horas do dia. Pelo menos, é o que acontece com a maioria dos judeus que visitam essa inesquecível cidade.
A brandura sobrenatural do lugar, torna possível ocupar os cinco sentidos com prazeres espirituais indescritíveis. Bem disse o rei David: Apegue-se-me a língua ao paladar, se me não lembrar de ti, se não preferir eu Jerusalém à minha maior alegria. (Salmo 137:6).
Allain Kaerbero, empresário carioca, arquiteto especializado na restauração de patrimônios históricos, foi convidado para o aniversário do amigo Albano, dos velhos tempos da faculdade.
-- E ai? Debbie ta boa? – perguntou Allain, pela esposa do amigo.
-- Só um instantinho. Vou pegar seu refrigerante Zero e já volto.
-- Eu fui convidado para trabalhar em Israel. A gente passou três anos morando em Haifa, mas eu, Debbie e as crianças íamos sempre a Jerusalém.
-- Você já viajou muitas vezes a Jerusalém e sabe o tanto quanto eu, como é aquele lugar. Houve uma tarde, que parecia ser minha despedida. O vento perfumado ensinava passos de dança às cortinas do hotel.
-- Cara! Isso é que é felicidade. Ah! se pintasse uma oportunidade para eu trabalhar lá! – disse emocionado Allain.
-- Pena que tenha sido passageira. Enquanto eu olhava a vista e me enchia de um temendo gozo na alma, Debbie disse estar com muita saudade do Rio e não ser possível morar em Israel. Após desfazer o contrato e chegar ao Brasil desempregado, minha esposa pediu o divórcio. Agora estou refazendo minha vida. Casei de novo e finalmente consegui trabalho na firma do Abrão.
Allain, retirou-se muito penalizado da casa de Albano, desejando mesmo, que tivesse diferente sorte com o novo cônjuge. Decidiu ir imediatamente para sua casa no Jardim Botânico, Rio de Janeiro.
Dia seguinte, na parte da tarde, Allain, levantando os olhos para ver uma grande quantidade de folhas amarelas que se desprendiam da árvore de seu quintal, desistiu de abaixar a cabeça, para apreciar a leveza e desenvoltura de um lindo esquilo, que acrescentava ainda mais vida ao pé de jasmim.
-- Allain. Estou tão feliz. Quando você souber da última notícia, não haverá nada melhor. É a realização de um antigo sonho. Posso falar? Perguntou sua alegre, festiva e linda esposa Grace.
--- Fala, Bonitona!
-- Prepare o coração. Fomos convidados para trabalhar em Israel. Já providenciaram até escola para as crianças. Não era tudo o que você mais queria?
-- Grace. Eu não pretendo mais ir para Jerusalém. Aqui no Rio, eu sou muito bem sucedido nos negócios; as crianças estão com notas ótimas na escola; você se encaixou como luva, sendo minha sócia na empresa.
Allain lembrou do divórcio de seu amigo Albano. Percebeu também que sua mulher não ansiava tanto quanto ele por viver em Israel.
Enquanto uma fragrância gostosa de jasmim, muito desejável, sem precisar pedir permissão invadia a casa, os olhos de Allain derramaram duas lágrimas. Uma por Jerusalém e outra pelo Rio de Janeiro.
-- Sua inteligente esposa Grace. Após surpreendê-lo com o mais gostoso de todos os beijos, revestiu-se de sabedoria e disse:
-- Não vamos aventurar a felicidade!