" - O TEATRO DÁ ALEGRIA A TODOS, EXCETO À QUEM O FAZ"
Essa frase foi dita por Isabella (Emanuelle Beart) ao jovem Barão de Sigognac (Vincent Perez) diante da cova rasa onde foi enterrado Matamouro (Jean François Perrier), personagens do melhor filme que já vi na minha vida, “A Viagem do Capitão Tornado”, do genial Ettore Scola. O filme foi rodado em 1990 na Itália e na França e é a quinta adaptação do romance de Théophile Gautier. Conta a odisséia de uma companhia de saltimbancos que atravessa a França do século 17 e leva um jovem barão decadente até Paris.
Vi o filme pela primeira vez, em 1993, no Cine SENAC, em Sorocaba. Após a sua exibição, lembro-me, como se fosse hoje, da minha crise de choro. Estava diante de um dilema: “será que vale a pena fazer teatro?”. Eu era muito jovem e tinha escolhido o teatro como profissão. E tanto o filme quanto a frase de Isabella, me balançou.
Eu estava no 1ª série do Curso Técnico de Processamento de Dados, no colégio Objetivo de Sorocaba. Estudava de manhã e passava às tardes e noites no Teatro, todos os dias, de segunda a segunda. Era a minha paixão e me dedicava muito. E no período da manhã, enquanto estava na sala de aula, em vez de prestar atenção na explicação dos professores, ficava debruçado sobre o texto. No final do bimestre, ao pegar o boletim, vinha o desespero. Notas baixas em todas as matérias. Eu não gostava do curso mesmo. E decidi abandona-lo definitivamente porque aquilo não era a minha praia. Onde eu me sentia feliz mesmo, onde me realizava, era no Teatro.
Hoje revi o filme pela 18ª vez. Fazia muito tempo que não o via. E pela 18ª vez, chorei. O Scola pega pesado. É um nocaute psicológico.
Sempre tive vontade de fazer como a “Companhia Viajante de Arte Cênica”, nome da trupe dos saltimbancos do filme. Comprar uma carroça, selecionar um pequeno elenco e viajar pelo mundo apresentando os espetáculos em vilarejos. Hoje não tenho mais esse desejo.
Concordo, em parte, com a frase de Isabella. O Teatro me dá alegria, sim. É muito bom estar no palco, seja como ator, dramaturgo ou diretor. Você fazer com que os espectadores reflitam sobre a sua existência, coisa rara de se ver hoje em dia. É uma pena que o Teatro, melhor dizendo, a Cultura em geral, não é valorizada como deveria, infelizmente.
Mas a maioria da população brasileira não está nem um pouco preocupada com a Cultura. Pra quê? Temos o futebol. O que se pode esperar de um país que pára durante a Copa do Mundo para ver 22 idiotas disputando uma bola durante 90 minutos?
Como gostaria de ter nascido na Grécia do século V a.C., no berço das artes, onde o Teatro era realmente valorizado. Mas como vivo no Brasil, um país descoberto em 1500, em pleno Renascimento, onde todas as coisas chegam tardiamente, terei que ter mais um pouco de paciência. Sonho em ver um estádio de futebol lotado (o Teatro de Arena grego nada mais era que um campo de futebol dividido ao meio), onde seriam realizados anualmente Concursos de Dramaturgia, como os grandes concursos gregos. É utopia, claro. Mas se isso realmente acontecesse, gostaria de estar vivo para presenciar esse momento.