As Brechas de Lei

Certa vez, utilizei o argumento de que “até os ministros do STF divergem na interpretação da lei”, objetivando barrar as insinuações de um cliente que se apresentou com seu advogado a tiracolo, imaginando que poderia influenciar na minha decisão. Acrescentei que o negócio poderia ser resolvido mais ágil e facilmente, se no campo administrativo, onde eu tinha autonomia para decidir. Se no âmbito jurídico, fugiria à minha alçada e eu teria de submeter o processo ao departamento jurídico da empresa. Diante desse argumento, o próprio advogado aconselhou seu cliente a tratar o assunto no nível administrativo. Naquela mesma semana, o STF acabara de julgar um tema polêmico de repercussão nacional, resultando num empate de 5 a 5, em razão da ausência do 11º ministro. Ora, o número de sua composição é ímpar exatamente para evitar o empate.

O cliente, antes muito arrogante por estar acompanhado do seu advogado, logo baixou a bola. No início, disse que estava trazendo apenas um, mas seu sindicato tinha cinco. De pronto, respondi-lhe que a minha empresa tinha quinhentos. Eis aí mais uma razão para que seu advogado o aconselhasse a não ajuizar a ação. O caminho da justiça é sempre mais tortuoso, exatamente pelo emaranhado de leis que dificultam a sua interpretação até no mais alto escalão de suas instâncias.

Para não ir muito além, lembro agora o mais recente julgamento dos envolvidos na Operação Lava-Jato, em que três ministros votaram a favor da soltura de nove presos, enquanto apenas dois votaram pela manutenção da prisão. Não é à toa que os advogados vivem em função das “brechas da lei”. Se assim não fosse, tudo seria resolvido muito facilmente no campo administrativo.

Irineu Gomes
Enviado por Irineu Gomes em 04/05/2015
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