O QUE FAZER COM O VIDRO?
A invenção do vidro não encontra unanimidade de data e local, muito menos do responsável pela invenção. Contudo, estima-se que tenha cerca de seis mil anos. Por ser um material liso e impermeável, a aplicação dele é praticamente ilimitada. Nos dias atuais, a maior parte das embalagens para líquidos, menores de um litro, ainda são de vidro. Na construção civil vai desde esquadrias com todas suas variantes, divisórias, lustres e depois por eletrodomésticos, aparelhos eletrônicos etc. Na indústria automobilística não se encontra nenhum veículo que não o use em maior ou menor grau.
As tradicionais garrafas de cerveja de 600 ml são reaproveitadas pelas cervejarias somente quando estão em ótimo estado. As demais geram toneladas de lixo. Contudo, às vezes passa despercebido o grande número de embalagens de vidro que usamos no dia a dia. Seja em forma de potes para condimentos, copos, vinhos, sucos, cachaças, concentrados e principalmente uma tendência que veio para ficar que são as garrafas para cerveja long neck, que não são retornáveis e representam cinco por cento do volume total. Tudo que não retorna nem se deteriora precisa ir um lugar. Embora o vidro seja um material frágil, sua dureza é maior que o aço mais trabalhado e não tem limite para se deteriorar.
A reciclagem de vidro é uma atividade que está no início em Manaus. Há uma indústria de moagem do vidro, feito por uma máquina criada pelo inventor Walter Leite, que deixa o vidro triturado em “grãos” do tamanho dos de feijão. Enfim, pronto para ser usado na construção civil, misturado ao asfalto e outras aplicações. A Residue há dois anos faz as mais diversas experiências com o vidro reciclado. Apoiado pelo laboratório do Senai que avaliza a qualidade e coloca o produto final como de compressão mais densa e mais difícil ruptura. Embora sem os testes específicos, estima que possa ser utilizado em concretos que exijam grande resistência, como pistas de pouso e pátios de movimentação de cargas pesadas.
As fontes de abastecimento do reciclador ainda são fábricas de cerveja e bares, como o Porão do Alemão que comemora a solução oferecida. Os catadores de vidro ainda não se beneficiam porque a indústria tem altos custos de logística e não pode remunerá-los. Acredita-se que em curto prazo isso possa ser resolvido com o aumento do preço final do vidro triturado porque os usuários estão vendo as grandes vantagens que ele traz. Para se ter uma ideia, na fabricação do bloco de concreto, a utilização do cimento diminui. A grande vantagem é ambiental: o vidro reciclado substitui o seixo e a pedra britada, filtros naturais das águas da natureza, que assim continuam onde devem estar. Walter leite garante que o bloco fabricado com vidro granulado é isolante acústico. Quem mora em um prédio que usa esse material não precisa se preocupar com os barulhos da cidade grande.
O pioneirismo de um empreendimento exige muita persistência e grande dose de obstinação. Obstinação que não falta ao sócio proprietário da Resídue, o pernambucano Pedro Ivo de Arruda Coelho, de 35 anos. Um empreendimento a ser festejado porque evita que o vidro seja jogado em qualquer lugar ou que tenha de ser transportado para outro centro reciclador. Ainda há um longo caminho a percorrer até formar a cultura da coleta seletiva. O vidro é apenas um item entre centenas de outros. Contudo, a reciclagem deste merece todos os aplausos e toda a colaboração da sociedade. Quando houver remuneração da atividade industrial, também haverá para os catadores que ajudarão a manter o planeta mais habitável para todos.