O IMERGIR NO EMERGIR DO ÓBVIO

A matemática, considerada por alguns a mãe de todas as ciências, nos brinda com o entendimento do óbvio em algumas situações, na geometria, por exemplo, quando falamos dos postulados ou axiomas os quais definem situações tão claras e até elementares que não precisam de comprovações do seu entendimento por meio de demonstrações, como é o caso do postulado a seguir muito conhecido que diz: “por um único ponto traçam-se infinitas retas”; ou ainda, “a reta é a menor distância entre dois pontos não coincidentes”, certamente teríamos um leque bem maior, contudo, vamos parar por aqui.

Consultando os diversos dicionários de língua portuguesa, encontramos definições para o verbete “óbvio”, como sendo: adj. Cujo teor é de fácil entendimento; que salta aos olhos; claro e evidente. Que não é suscetível de dúvidas; em que não há incerteza; evidente ou incontestável.

Na prática, o entendimento da palavra óbvio, se torna um verdadeiro massacre a tudo que se possa imaginar de coerente e sincronizado com os padrões mínimos aceitáveis de paz, de amor, de respeito mútuo, enfim de regras ínfimas de convivência.

Assim sendo, a incorreta compreensão do conceito e mau uso da palavra óbvio, nos proporciona uma avalanche imensurável de prejuízos de toda ordem, transformando o que é óbvio num paredão intransponível de arrogância, de soberba, de ideias preconcebidas e forjadas na têmpera da autocrítica monocrática e prepotente.

A partir dessa dificuldade de aceitação simplista do óbvio, nos deparamos com um sem número de situações que, talvez por serem tão simples, complicamos e obtemos como produto a incongruência e a agudez do conflito, da desavença, do desamor, do despropósito divino.

No seio de nossa família, acontecimentos desagradáveis afloram a toda hora, o motivo? O incompreensível ardor pela disputa de coisas que o óbvio medeia com maestria, mas a despeito dessa clareza de fatos, surgem demônios enfurecidos como: a inveja, a cobiça, o isolamento e a falta de Deus no coração.

No trabalho o drama aumenta, pois o óbvio recebe toda a carga desobediente de seu entendimento, armazenada e oriunda do seio familiar mais os distúrbios de convivência, consequência: os demônios são reforçados com a traição, a falta de competência profissional e por padrões obscuros de procedimentos.

No cotidiano competitivo e desleal moderno, vivemos caos múltiplos, tudo resultado desse descompasso com o óbvio, vejamos: trânsito infernal, onde as regras tão bem definidas pelo código de trânsito são acaçapadas, são sistematicamente desrespeitadas, transformando-o numa competição ininteligível, de resultado muitas vezes fúnebre, macabro; uma violência urbana gratuita que gera uma insegurança generalizada, tendo como regra a impunidade garantida pelo poder do mais forte e pela leniência velada de nossas autoridades, governantes e Poderes Instituídos.

Nas relações interpessoais aí chegamos ao ápice do descalabro, à odisseia do que representa o enterro do óbvio, onde sociedades inteiras vivem em batalhas contínuas alimentadas pela intolerância, pelo ódio, pela ira; povos em luta eterna por territórios, por imposição de ideologias pretensamente perfeitas.

Como epílogo, chegamos ao momento político vivido em nosso país, principalmente após o pleito eleitoral de 2014, quanta falta de obviedade observamos no contexto geral, no entanto, como num estalar de dedos o país passou a viver um emergir de situações do óbvio, outrora jamais vista, reivindicações do tipo: fim do voto obrigatório; financiamento de campanha eleitoral com dinheiro público; diminuição da quantidade de parlamentares; fora o ParTido majoritário da Presidenta juntamente com ela; aliado a arroubos de sentimento pátrio; surgimento de candidatos a líder neste país, tão escasso; repugnância aos elevados níveis de corrupção, que sabidamente e obviamente não advém do momento presente, se estende quem sabe Deus, de quando? Uma sensação confortante de que o brasileiro resolveu se importar com o seu país, com o seu rumo, com a sua dignidade, com o seu gentílico.

Por fim, nesse emergir de obviedades surgidas, aproveitemos para imergirmos profundamente nesse oceano infinito de coisas boas, que saibamos usufruir com sabedoria das tempestades que assolam o nosso povo, esperando pelas calmarias; que possamos ser pais melhores, maridos justos; filhos afinados com a família; que olhemos para o nosso vizinho e o chamemos de irmão; que no nosso trabalho a sinergia, a empatia, a voluntariedade sejam marcos visíveis; que tudo isso que está acontecendo em nosso país, sirva de desejo de um porvir vitorioso, sincronizado com o “obvio” e não com o infortúnio de querer não compreendê-lo, tudo isso sob o Manto Sagrado, Protetor e Misericordioso de nosso Deus Pai Todo-Poderoso.

Rematando, pois, não esqueçamos que: “o somatório da arrogância, da soberba e da presunção, inviabiliza efetivamente o exercício da humildade, do perdão e da misericórdia”; rogando a Deus que sejamos perenes, firmes e probos “nesse imergir nos mares profundos da sabedoria do emergir do óbvio”.