Visita ao Berço Imortal da Poesia
Nesta Páscoa tive o privilégio de conhecer o Berço Imortal da Poesia, em São José do Egito, no sertão do Pernambuco. Foi uma experiência incrível para mim e minha família, porque pudemos conhecer de perto um pouco da cultura daquela gente maravilhosa, como também vivenciar uma parte muito pequena, mas significativa para nós, das dificuldades que as famílias daquela região enfrentam devido à seca.
Conhecemos pessoalmente o missionário Jader Medeiros, que gentilmente nos recebeu e guiou pelos sítios circunvizinhos, bem como pelos pontos turísticos da cidade. Jader é casado, pai de duas crianças, pastor evangélico, que aceitou o desafio de renunciar aos sonhos da juventude para não somente pregar a Palavra de Deus, como também saciar a sede e outras necessidades básicas que os sertanejos enfrentam. Ele e a esposa lideram um ministério chamado Conexão Ide, responsável por evangelismos Brasil afora e obras sociais pelo Nordeste do país.
No que se refere à poesia, ficamos entusiasmados passeando pelos becos da cidade, onde, em seus muros, lemos os poetas locais expressando com maestria sua paixão por sua terra e outros amores. Em muitos casos, as poesias registradas denunciam o descaso das autoridades para com o povo do sertão, que sofre a escassez de recursos hídricos e de alimentos, somada a problemas como falta de transporte, educação de péssima qualidade (quando há escolas), saúde defasada, violência e criminalidade (acreditem!) e tantas outras lutas que quem vive nas grandes metrópoles mal pode supor que existem.
O que mais nos emocionou em meio a tantas descobertas foi algo que não é novidade, mas que quando acompanhado de perto tem uma carga maior de significado, que é justamente a falta de água. Vimos alguns vídeos viabilizados pelo Ministério Ide, em que as pessoas eram agraciadas com a perfuração de poços artesianos para atender suas demandas primárias, como beber e manter a agricultura e alguns animais, que garantem um sustento longe de certas regalias que nós, da cidade grande, conhecemos tão bem, tais quais comprar sapato novo direto na loja e comer em um bom restaurante.
Segundo o Pastor Jader Medeiros, contar com um poço artesiano é o sonho de muitos sertanejos, contudo encontrar parceiros que o apoiem nessa empreitada, que ele encabeça, é o maior desafio. O custo para perfuração varia de cinco a dez mil reais, valor incalculável para a realidade do sertão. Mas o que não se pode medir de fato, é a emoção dos moradores quando veem jorrar quantidades de água doce com as quais eles não estavam acostumados, quando as máquinas retiram das profundezas o líquido precioso. O sal das lágrimas, o sol escaldante e as primeiras duas horas de água sendo "desperdiçada", com o objetivo de limpar o novo poço, é uma imagem que não sai da minha mente, embora eu só tenho ouvido a história, que o missionário contava enquanto olhávamos as plantas que não suportaram os quase sete anos sem chuva de verdade naquela região.
"Não podemos conter o choro ao ver a maneira como essas pessoas se comportam ao verem a água doce escorrendo sobre a terra, quando um poço é perfurado", afirmou Jader, que por iniciativa própria, sempre que consegue, reúne doações voluntárias e viabiliza os poços.
Diante dessas revelações, o trajeto de volta para casa foi um misto de euforia com reflexão. Ao menos por aqui, de agora em diante, ninguém mais precisa alertar o outro acerca do desperdício de água. Essa consciência é tão viva dentro de nós quanto a necessidade que [agora] sentimos de fazer alguma coisa para ajudar a matar a sede dos nossos irmãos nordestinos.
Se você, leitor, quiser saber mais sobre o trabalho do missionário Jader Medeiros, sua esposa Chelli Medeiros e o Ministério Conexão Ide, acesse o site www.conexaoide.com.br. Seja um doador, caso tenha interesse. Mais do que poemas, ainda que profundamente inspiradores, o sertão precisa da nossa ajuda.
Obrigada por ler até aqui.
Abraços