Reformando o Mundo
Reformando o Mundo
O governo Getúlio Vargas, cujo titular tinha a alcunha de “Pai dos Pobres”, trouxe ao Brasil a Legislação Trabalhista. Cópia da Carta de Lavoro da Itália, embasada nas conquistas trabalhistas dos mineiros da Inglaterra nos séculos XXVIII e XIX pela primeira vez estabeleceu, por aqui, regras para gerenciamento das relações entre trabalhadores que empregam e trabalhadores empregados. Isso em meados do século passado. Como toda a lei imposta de cima para baixo levou mais de vinte anos para ser assimilada por um e outro lado. Há quem afirme que até hoje ela não é suficientemente difundida.
A lei, entre outras coisas, instituiu o salário mínimo cujo valor estava alicerçado nas necessidades básicas do trabalhador (cesta de alimentos, aluguel, vestuário e lazer).
Alguns itens curiosos compunham a cesta básica mensal tal como 2 kg de banha de porco, item indispensável à mesa do brasileiro, na época.
Não sabemos em que altura do campeonato começou o jogo do esconde-esconde. Esconde-se do trabalhador o quanto ele custa para quem o emprega e esconde-se para o mundo o valor real do salário mínimo no Brasil. O valor registrado na carteira do trabalhador é apenas um referencial. Muitas vezes este referencial não chega a um terço do custo total do trabalhador. A apresentação das contas para o trabalhador assalariado é demagógica, falsa e anti-didática.
Parece vergonhoso afirmar publicamente que, o que se quer, em última análise, é ganhar dinheiro. Porém, e, infelizmente, o jogo de esconde-esconde (ou do faz de conta) não são os únicos hábitos ruins do brasileiro. Por conta disso, o termo Empresário virou sinônimo de ganância, de usura e de muitas outras coisas menos nobres. Quando, na verdade, ser Empresário significa criar produtos, inovar em cima do que já existe, gerar empregos, gerar renda e ganhar dinheiro.
A economia brasileira mudou de cara durante esses mais de sessenta anos em que a lei existe. Nesse tempo as mulheres conquistaram postos de trabalho. O automóvel começou a ser fabricado no Brasil, a agroindústria a esmagar grãos, substituindo a banha pelo óleo. Ainda na agricultura, o porco, que levava mais de um ano para ser abatido, teve seu tempo de vida reduzido para pouco mais de quatro meses. O frango de 6 meses para 45 dias. Tudo isso com redução de custos e ganhos de peso e qualidade, melhorando e barateando a cesta do trabalhador.
O Brasil fez sua parte, a legislação não.
Estamos em 2004, ano em que a tecnologia digital chegou a locais nunca antes sonhados. Se a legislação trabalhista tivesse acompanhado esta evolução teríamos um Brasil muito diferente do de hoje. Por outro lado se a economia tivesse andado com a velocidade da lei, nossos operários ainda estariam criando porcos no quintal de suas casas para extrair-lhes a banha, para que sua companheira pudesse preparar a vianda que ele levaria ao trabalho, no dia seguinte.
Luiz Lauschner