A MÍDIA ADORA AS TRAGÉDIAS

Talvez, Freud explicasse os motivos das tragédias hipnotizarem tanto as pessoas. A mídia adora quando uma acontece. Não importa o lugar. E quanto pior, melhor. São longas horas de cobertura, mantendo as pessoas ouvindo a TV, e olhando as redes sociais.

Com as informações e as imagens chegando cada vez mais rápidas, essas coberturas são como as novelas de ficção. O objetivo é focar o lado emocional dos atores envolvidos. Quanto maior a comoção, maior será o ibope. Muitos esquecem que aquilo é real.

De repente, o mundo estarreceu-se ainda mais com os desdobramentos da tragédia do avião da Germanwings. Agora a tarefa de todos é entrar na cabeça do copiloto, e tentar entender o que se passava lá.

Nesses momentos devemos ter um cuidado especial. Nem tudo o que a mídia noticia é verdade absoluta. Do dia para a noite, a vida do copiloto transformou-se em um livro aberto. Uma caça as bruxas em tempos de globalização. Notarem que agora choveu gente contando algum detalhe? O Ser Humano não me causa espanto há muito tempo já.

Uma ex-namorada que veio se molhar, contou que o copiloto queria fazer uma coisa para nunca ser esquecido. Neste caso, ele ainda era um visionário. E fica a pergunta que não quer calar: O quanto a mídia ainda estaria falando da sua vida, se ele tivesse salvado 149 pessoas de morrerem numa montanha?

O que nos remete de volta ao hipnotismo. As redes sociais são um bom exemplo. Quando uma tragédia acontece, existe uma corrida vampiresca para ver quem posta às fotos antes. Geralmente os melhores ângulos dos mortos ensanguentados e mutilados.

Como raça dominante no planeta, estamos deixando muitas interrogações. A questão já nem é no que estamos nos transformando. É saber quem realmente sempre fomos.

Eu nunca vi, por exemplo, postagem de uma pessoa ajudando um deficiente visual, ou idoso atravessar uma faixa de segurança. Atitudes simples e boas não seduzem nossos diabinhos interiores. E devem apertar ainda mais as correntes que os mantêm presos.

O que reforça a minha convicção. Esse fascínio é a chave dos cadeados que desacorrentam nossos diabinhos. Depois de desacorrentados e no comando, já não importa quem você seja. Copiloto, presidente da república ou um criminoso. Religioso ou ateu. Você literalmente “já era”.

Fato é que o acidente do avião jogado contra os Alpes franceses mostrou que não existe dia, hora e nem lugar para os diabinhos se desacorrentarem. Os do copiloto da Germanwings gostavam de montanhas. E se eles gostassem de cidades cheias de gente?