Os Inimigos do Professor

“Quando todos os cinco tipos de espiões

estiverem atuando, ninguém poderá

descobrir todas as ramifi cações

do sistema secreto de espionagem.”

Sun Tzu, A Arte da Guerra

A incerteza e a insegurança são, a princípio, desafios

a serem vencidos primeiramente pelo professor. Aquele que

não sabe que decisão tomar e não se sente seguro ao agir,

já está derrotado. Sun Tzu assegura que são as informações

oportunas que permitem ao soberano esclarecido e ao bom

general atacar e vencer, e obter feitos fora do alcance dos

homens comuns. O professor, portanto, deve se encontrar

acima do homem comum. E como obter tais informações

oportunas? Elas não podem ser obtidas indutivamente da

experiência, nem por meio de qualquer cálculo dedutivo.

O professor não pode viver de inferências, uma vez que na

vida em sala de aula não existe verdade universal e nem

proposições gerais baseadas em dados no que tange a disciplina,

comportamento de alunos e estratégias de ensino.

Cada turma é uma diferente da outra e em cada aula há uma

realidade a ser vivida. Ele também não pode fi car fazendo

ilações, pois na prática da sala de aula não há conseqüências

lógicas para que se possam tirar conclusões de fatos e

estabelecer princípios.

É óbvio que o professor pode interpretar as informações

disponíveis, tanto as relevantes quanto as irrelevantes,

desde que não incorra no erro de exacerbar o

problema. A experiência é válida, mas não é tudo. Ele

necessita "ter capacidade de adaptar-se, ou seja, de viver

em ambientes com grandes variações comportamentais,

em um mundo que também varia enormemente" (Mussak, 2003: 44). "Antes de tudo, as atitudes dos empregados" (professores) "e a motivação dos clientes" (alunos) "para uma consciência de serviços" (a aula, incluindo técnicas de ensino, dinâmicas, disciplina, gerenciamento de conflitos, aprendizado, resultados, etc.) "têm que ser gerenciadas" (Grönroos, 1995: 281). E é justamente sobre esse

gerenciamento que tratarei neste capítulo.

Em primeiro lugar, é bom que se tenha a consciência

de que o professor “nada contra a correnteza”. Animador,

não? Para isso, precisa ter um bom preparo físico e mental.

De nada adiante ter abundância de informações, mas muito

pouco encorajamento mental. Não pode faltar no professor

"a mudança necessária das atitudes e uma ênfase na motivação

por bons serviços e pela consciência acerca" dos alunos

(Silva, 1999: 33). Em segundo lugar, o professor não atua

sozinho na escola; é necessário que tenha um espírito de

equipe. Em terceiro lugar, o professor deve discernir e ter

bem defi nido em sua mente quem é seu verdadeiro inimigo

nessa arte da guerra na Educação, e atacar as suas estratégias.

O professor, conforme ensina Sun Tzu, impõe sua

vontade ao inimigo e não permite que a vontade do inimigo

lhe seja imposta. Mas é preciso que fi que bem claro que o

inimigo do professor não é o aluno, e nem o aluno deve ter

o professor como seu inimigo. Também não o é o diretor ou

o coordenador da escola.

É importante listar aqui alguns inimigos em potencial

do professor, que lhe são nocivos e prejudiciais, e muitas

vezes destrutivos, para que possa vencer as batalhas sem

cometer enganos, pois, segundo os ensinamentos de Sun

Tzu, quem conhecer o inimigo e a si próprio não precisará

temer o resultado de cem batalhas. Os sete principais inimigos

do professor são: a falta de vocação, a descontinuidade

administrativa, as políticas educacionais impostas, os extremismos teóricos da Pedagogia e da Psicologia, a rotina, o estresse e o vestibular. O meu leitor pode retrucar e perguntar: “E o baixo salário?”, “E a indisciplina, a rebeldia e agressividade dos alunos?”, “E isso e aquilo outro?”

Calma! Ao descrever cada um dos listados acima,

você vai entender melhor. Discorramos sobre os nossos

principais inimigos.

1) A falta de vocação: No capítulo primeiro falei sobre

o fato de a vocação ser de vital importância para o

Professor, um problema de vida ou morte, caminho para

a sobrevivência ou para a destruição. “Estar” professor é

uma coisa; “ser” professor é outra bem diferente. Sem vocação

para o magistério, o professor já está fadado ao fracasso

na sala de aula. Não basta ter licenciatura para exercer

a profissão.

2) A descontinuidade administrativa: Aqui entra a irresponsabilidade de muitos políticos e administradores que,

por serem de um partido político adversário ao anterior, não

dão prosseguimento a trabalhos já iniciados e que estão funcionando.

Esses políticos precisam aprender que "nós nunca devemos cometer o erro de jogar fora o bebê junto com a água suja" (Walker, 1996: 180).

3) As políticas educacionais impostas: Cada partido

político que entra, cada Ministro, cada Secretário de Educação

tem suas preferências teórico-pedagógicas e seus modismos,

não raras vezes fanáticos. Assim, quando assumem

o poder, impõem, sem consulta prévia aos professores, uma

nova política educacional. As conseqüências têm sido desastrosas

para a Educação no Brasil.

4) Os extremismos teóricos da Pedagogia e da Psicologia:

Um tanto relacionados às políticas educacionais,

estão tais extremismos. A radicalização do não a tudo que

cheira a “tradicional”, a ênfase exacerbada e irresponsável

ao construtivismo, a não-punição para evitar traumas (1) e a

permissividade educacional, encabeçadas pela Psicologia (2),

como todo e qualquer extremismo, mais têm prejudicado

do que contribuído para com nossa Educação. Prova disso

são os dados do Inep e do Pisa, já mencionados neste trabalho.

Há de se ter bom senso, de se estabelecer parâmetros,

de não se ovacionar irresponsável e fanaticamente esta ou

aquela corrente teórica, e que, na prática, acaba saindo de

uma forma totalmente deturpada.

5) A rotina: A mesmice e o marasmo das aulas também

fazem com que o trabalho do professor seja prejudicado.

A ausência de variedade, a inalterabilidade, a estagnação

das aulas acarretam sérias conseqüências, inclusive a

indisciplina. E o desgaste maior é do próprio professor.

6) O estresse: O professor deve evitar o estresse.

"Quando o estresse é episódico e o indivíduo consegue administrá-

lo, tudo volta à ordem" (Hirigoyen, 2003: 173). E é

justamente aprender a administrar o estresse que o professor

precisa aprender no seu dia-a-dia. "Mesmo com a vida cada

vez mais difícil, é possível não cair num mar de desânimo

e administrar bem o estresse. Na medida certa, acredite,

essa reação do organismo é necessária para ajudar você a

enfrentar situações de desafi o ou emoções muito fortes. Em

excesso, no entanto, pode tirar todo o seu pique e abrir as

portas do organismo para doenças" (Bencini, s/d).

7) O vestibular (3): A maioria dos professores dá aulas em

função do vestibular, haja vista que a escola deseja que seus

alunos sejam aprovados, de preferência em Universidades

Federais (4), os pais querem ver seus fi lhos ingressando em um

bom curso nas Universidades, e os alunos, em sua maioria,

já entram para o Ensino Médio programados e condicionados

para este fi m último. Não poucos professores também vivem e

trabalham em função do mesmo (comem, respiram e dormem

vestibular), e não conseguem escapar da rotina de suas aulas e

escancarar as portas das salas de aula para inovações.

Vejam que, dos sete eventuais inimigos do professor

descritos acima, é que decorrem outros tantos problemas

por ele enfrentado em seu dia-a-dia. Contra tais inimigos é

que o professor necessita lutar.

Notas:

(1) Para mim, é piada perder tempo com teorias sobre não usar tinta

vermelha ao corrigir provas, para não criar traumas nos alunos. Temos

coisas mais importantes para nos preocupar em termos de Educação.

(2) Interessante notar que Freud jamais levantou a bandeira da permissividade educacional (Souza, 2006: 48).

(3) É preciso estudar uma maneira de acabar com esse “mal necessário”. Proponho, a título de experiência, em uma Universidade, a sugestão de Rubem Alves (1995: 29).

(4) Com raras exceções, nas faculdades particulares a vaga já está

garantida.

Referências Bibliográficas:

BENCINI, Roberta. "Estresse: o (ex) inimigo número 1 do professor".

Revista Escola. Disponível em: < http://

revistaescola.abril.com.br/edicoes/0181/aberto/mt_64304.shtml.

Acessado em 03/10/2006 >. Acesso em: 03 out. 2006.

GRÖNROOS, Christian. "Marketing: gerenciamento e Serviços". Rio de

Janeiro: Campus, 1995.

HIRIGOYEN, Marie-France. "Assédio moral". Rio de Janeiro: Bertrand

Brasil, 2003.

MUSSAK, Eugenio. "Metacompetência: uma nova visão do trabalho e

da realização pessoal". São Paulo: Editora Gente, 2003.

SILVA, Luís Carlos Carvalho da. "Análise da relação existente entre as

ações de endomarketing e a imagem corporativa". Dissertação de

Mestrado. João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba, 1999.

WALKER, John & Outros. "A Igreja do Século XX: A história que não foi

contada". Americana, SP: Worship Produções, 1996.

Maurício Apolinário
Enviado por Maurício Apolinário em 08/06/2007
Reeditado em 05/07/2007
Código do texto: T518731
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