O QUE É A HUMILDADE?
Eu não sei se sei o que é ser humilde. Essa palavra já recebeu várias interpretações no decorrer da história da religião e da história da Filosofia. Vejamos o que alguns filósofos e teólogos pensaram a respeito da humildade. Eu não vou comentar. Desejo apenas, neste momento, fazer citações. Veja qual definição lhe é mais agradável.
Na religiosidade medieval, a humildade era “a atitude de abjeção voluntária diante da natureza miserável e pecaminosa do homem”. De acordo com Bernard de Clairvaux, “a humildade é a virtude graças à qual o homem se avilta com verdadeiro reconhecimento de si mesmo”. Para o apóstolo Paulo, como mostra o Dicionário de Filosofia (Nicola Abbagnano), a humildade é “a falta de espírito de competição e de vanglória”. Para Agostinho, tem a ver com o reconhecimento da encarnação do Verbo para a redenção dos homens. Tomás de Aquino dizia que a humildade é a parte da virtude “que tempera e freia o ânimo, a fim de que ele não tenda desmesuradamente às coisas mais altas” e encontre nelas o complemento da grandeza de coração que “fortalece o ânimo contra o desespero e impele-o a perseguir as grandes coisas, de acordo com a reta razão”.
Para o filósofo Espinosa, conforme se encontra no dicionário supracitado, a humildade não é uma virtude, mas uma emoção passiva, por nascer do fato de “o homem contemplar sua própria impotência”. No entanto, segundo as palavras desse mesmo dicionário, relatando o pensamento de Espinosa, se o homem pensa “nessa impotência em relação a um ser mais perfeito, esse pensamento favorece sua potência de ação e, por isso, não é humildade, mas virtude”. Obs.: Estas últimas palavras entre aspas não são do filósofo Espinosa, mas do dicionário mencionado neste texto.
Kant diferenciava a humildade moral da espúria. A humildade moral “é o sentimento da pequenez do nosso valor, comparado com a lei”; a segunda é “a pretensão de, por meio da renúncia, adquirir algum valor moral, valor moral oculto”. Agora, segundo as palavras do dicionário, na interpretação desse pensamento, “a pretensão de superar os outros rebaixando-se é uma ambição oposta ao dever para com os outros; utilizar esse meio para obter o favor dos outros (Deus ou homem que seja) é hipocrisia e adulação”. Segundo Hegel, pensador alemão, a humildade “é a consciência de Deus e da sua essência como amor”. Nietzsche, outro pensador alemão, via na humildade um aspecto da “moral dos escravos”; moral criticada e desprezada por este filósofo, que, segundo ele, é uma moral que teve início com Sócrates. Nietzsche foi um grande crítico da filosofia socrática. Acrescento: de acordo com o pensamento socrático, a humildade está relacionada com o reconhecimento do que não se sabe; com o reconhecimento da própria ignorância: do seu não saber. Nesse reconhecimento do que não se sabe é que se encontra a sabedoria do homem, segundo Sócrates.
André Comte-Sponville, em seu “Dicionário Filosófico”, registra: “Não se deve confundir, portanto, humildade com ódio a si, ainda menos com servilismo ou baixeza. O homem humilde não se crê inferior aos outros: ele deixou de se crer superior. Não ignora o que vale, ou pode valer...”
Espero ter mostrado alguns elementos importantes para a reflexão dos amigos e leitores a respeito da humildade.