Múltipla Traição do Copiloto
Traiu a si mesmo ao renunciar à própria vida, deliberando sobre a destruição de seu corpo que, segundo a religião, é o templo de Deus. Traiu o companheiro de cabine ao impedir o seu retorno, travando a porta. Traiu os passageiros que confiaram no comando daquele voo. Traiu a sua empresa que confiou no seu funcionário. Traiu o seu país que se chocou com as manchetes internacionais sobre a atitude funesta de seu filho. Traiu toda a humanidade que ainda acredita que o transporte aéreo é o mais seguro. Traiu a mim, que prometi não escrever aqui sobre coisas ruins, mas não me contive em abordar essa tragédia que afetou o mundo inteiro. Cada um, na sua condição de ser humano, pode também sentir-se traído pela decisão daquele copiloto em destruir tantas vidas humanas, numa tragédia tão sinistra.
Mesmo na decisão de suicídio, poderia optar por outro meio, evitando tornar-se homicídio. As revelações da caixa-preta, segundo peritos da aviação, mostram a decisão deliberada de derrubar a aeronave, ao tempo em que desviou a rota para chocar-se contra as montanhas. Na visão doentia do copiloto teria de ser um “acidente fantástico”, algo mesmo impactante para o mundo.
E agora, José?
Empresas aéreas, de modo geral, terão de adotar outras maneiras de segurança em relação aos seus comandantes, de modo que, quando um precisar ir ao banheiro, ao menos um membro da tripulação possa ficar na cabine para evitar o travamento da porta, na eventual decisão suicida do outro ocupante. Em nenhum momento a confiança ficará restrita a uma só cabeça. Como dizem, “duas cabeças pensam mais”. Uma evitará a traição da outra. Nem mesmo Cristo evitou a traição. Assim, nada de confiança total. Confiar, desconfiando, em nome da segurança. Um terceiro precisa dizer: “Tô de olho no senhor!”.