A Virgem de Itapiranga II
Visitando Itapiranga
A primeira visita não pode nem ser assim chamada porque foi, praticamente, uma voltinha. Naquela vez fomos a Itapiranga por pura vaidade, só para poder dizer: “Eu estive em Itapiranga, no Amazonas” A intenção era demorar pelo menos um dia. Chegamos às 15;30h e antes mesmo de procurarmos um lugar para ficar, atravessamos a cidade. Nenhuma grande façanha, uma vez que a cidade é muito pequena. Aproximadamente quatro vezes menor que a antiga Porto Novo. Talvez a rua mais curta seja justamente a que faz frente para o rio. Só que não é chamado de rio e sim de paraná. Paraná de Itapiranga.
Paraná
Vamos fazer um pequeno intervalo para explicar o que é um paraná. Pela etnia da palavra indígena significa algo parecido com rio que corre. Contudo na Amazônia recebe este nome todo o rio que sai do rio principal – chamado também de mãe do rio – abre um novo leito e numa certa altura volta ao rio principal. Por vezes o paraná não volta diretamente ao principal e sim deságua num afluente deste ou, até mesmo, em um outro paraná do mesmo rio. Assim, na bacia amazônica existem algumas centenas de paranás. Complicado, não. Nada é tão complicado que não possa ser explicado, nem tão simples que não mereça nossa admiração. Contudo a imensidão tem a capacidade de remeter-nos sempre à nossa insignificância.
E o Natal?
Lá estávamos, minha esposa e eu, em frente a cidade, em pleno Natal, numa cidade desconhecida que tinha o mesmo nome da cidade em que nasci. As semelhanças não paravam por aí. Também estávamos em fim de linha, tendo um rio pela frente. Procuramos por alguns enfeites natalinos, alguma semelhança, em menor escala, com a Itapiranga de Santa Catarina com seus enfeites ostentatórios, que parecem fazer parte de uma competição. Não Havia.
Apenas um caminhão de som anunciava uma festa com distribuição de brinquedos, obra de algum político vitorioso na última campanha. O som que saia do Trio Elétrico era audível em qualquer parte da cidade, de tão alto. Não pensem que tocava músicas natalinas. Nada disso. Era forró, entremeado com toadas de boi bumbá. Nada que fizesse lembrar o nascimento de Jesus. Perguntamos sobre a procissão de Nossa Senhora. Naquele dia não haveria procissão. Talvez não fosse educado incomodar uma mãe no dia do nascimento do seu Filho.
Pouco a ver
Entristecidos, vendo que daquele mato não sairia coelho, fizemos a volta e retornamos. Dezoito quilômetros depois dobramos na estrada para Silves. A única informação que tínhamos era que havia um grande hotel para turistas lá. Rodamos mais vinte quilômetros e chegamos a um rio. A cidade era do outro lado. Por quinze reais atravessamos. Detalhe: pagava-se uma única taxa que dava, também, direito ao retorno. Lógica inteligente: para onde se poderia ir, se não de volta?
Fizemos uma promessa de voltar no dia seguinte a Itapiranga para conhecer melhor a cidade. O “dia seguinte” foi acontecer dois anos e meio depois. Um “pequeno” atraso. Sabíamos que tínhamos escolhido o dia errado. Sem aviso, sem programação, não poderíamos encontrar um comitê de boas vindas.
Ainda não faeli do motivo que me levou de volta a Itapiranga: As aparições de Nossa Senhora. No próximo, eu conto.