GUERRILHA URBANA

Lembram? Assim era a Colômbia: diante da ineficácia do poder político e a mercê do narcotráfico, surgiram forças milicianas formadas por ex-militares revolucionários e jovens recrutados entre a população e camponeses cujo objetivo a princípio seria combater os traficantes que oprimiam o povo do campo e os obrigavam com violência ao cultivo da coca a fim de se produzir a matéria prima para a cocaína.
Com o passar do tempo o poder político percebendo a popularidade dos milicianos entre a população e os camponeses, decidiu combater as forças para-militares e os traficantes. O governo tentava dominar a situação combatendo as milícias e estas, como necessitavam de poderio bélico para agir contra os traficantes e defender-se das tropas federais, passaram a utilizar-se dos recursos subtraídos do narcotráfico como forma de adquirir munições e armamentos. Com isto a situação foi-se alterando e as milícias passaram a agir não só como forças revolucionárias em defesa dos ideais do povo, como também atuando diretamente no narcotráfico de onde tiravam seus recursos.
Quem nunca ouviu falar nas FARC, a famosa Força Armada Revolucionária da Colômbia, que com seu poderio chegava a ser mais forte que as tropas federais do país. O tempo passou e hoje as cidades de Cáli e Medellín estão mudadas graças a ação planejada dos governantes com importante ajuda externa, investindo em melhorias e assistências às populações de baixa renda onde atuavam estas milícias reduzindo de forma considerável o seu poderio.
Vivemos situação semelhante. O tráfico é o flagelo de cidades como Rio de Janeiro. Cada morro, cada favela funciona como verdadeiros feudos dominados por diferentes facções criminosas que a pretexto de defender seus pontos de tráficos estabelecem fortalezas e “tropas” de homens e jovens fortemente armados, muitas vezes sem sequer nenhum conhecimento sobre as armas que portam, expondo de maneira irresponsável os moradores quando em combate com outras facções que tentam dominar seus pontos ou com a polícia. Agora são as milícias formadas por ex-militares e militares de diversas forças que a pretexto de atuar em defesa das comunidades, combatem os traficantes de maneira violenta e arbitrária e quando os expulsam passam a explorar a população com extorsões em alegadas justificativas de que necessitam de recursos para manter o morro livre de bandidos. Assim o povo sem opção submete-se à vontade dessas milícias que mandam e desmandam desafiando as autoridades. E o que se vê é todo dia cidadãos feridos ou mortos por balas perdidas e militares assassinados, enquanto a violência predomina diante da impotência do poder público que nada faz ou quando faz, preocupa-se antes na divulgação de suas atitudes alardeando nos meios de comunicação as medidas que serão tomadas. Imaginem se bandidos ou milicianos teriam a audácia de permanecerem nos morros que previamente são anunciados pela imprensa da invasão de tropas federais e estaduais. Claro que estrategicamente e provisoriamente abandonam as comunidades para retornarem posteriormente pois todos sabem como funcionam as ações dos militares que tomam os pontos de tráfico, divulgam suas ações e depois somem deixando de novo a população à própria sorte.
Tudo tem limite, então onde iremos parar? A Colômbia chegou a um nível extremo de violência sendo exemplo negativo a nível mundial e conseguiu dar a volta por cima. Por que então não podemos dar um basta, a exemplo da Colômbia e contornarmos também esta terrível situação? Somos um povo bonito temos um país lindo e não merecemos tudo isto. Basta um pouco de boa vontade e atitudes de nossos governantes.

* Esta crônica está no livro "Ponto de Vista" a ser lançado brevemente com artigos, contos e crônicas. É proibida a cópia ou a reprodução sem a minha autorização. Visite meu site: www.ramos.prosaeverso.net  
Valdir Barreto Ramos
Enviado por Valdir Barreto Ramos em 07/06/2007
Reeditado em 17/10/2009
Código do texto: T518060
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