PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES

Como sair à rua e ter a certeza de voltar? Pergunto-me e sinceramente não sei nem encontro a resposta. Está cada vez mais difícil andar tranqüilamente. Cada vez mais crescem as hostilidades e as pessoas caminham apressadas com flagrante receio do que possa acontecer a cada momento seguinte. Antigamente, podíamos sair de casa para as atividades rotineiras e seguir despreocupados pelas ruas sem a possibilidade de sermos vítimas de qualquer tipo de violência.
A sociedade está em pânico e desamparada. A violência caminha a passos largos e torna-se mais e mais uma chaga difícil de se curar. Pagamos altíssimos impostos e um dos nossos direitos que é o de ir e vir tranqüilamente não nos é assegurado pelas autoridades. A polícia que deveria proteger o cidadão não cumpre o seu dever constitucional. Cada vez mais inspira menos confiança nas pessoas pelas suas ações e ineficácia no cumprimento do dever. Agora, a mesma polícia encontra-se dividida: uma parte, a que se mantém correta, apesar de ineficaz, preocupa-se em defender a própria instituição e seus componentes porque passaram a ser o alvo de outros militares rebelados que a pretexto de combater e punir bandidos à sua maneira, agora lutam com a própria polícia. O caos tomou conta de tudo. Todos os dias policiais são mortos em serviço ou mesmo durante a folga pelo simples fato de serem militares.
As milícias, como se denominam grupos formados por militares insatisfeitos, tomaram para si as ações de combater o tráfico nos morros, mas impondo a população um preço alto, regido por extorções, intolerâncias e arbitrariedades. Expulsam os traficantes e passam a explorar os sofridos moradores de bem das comunidades que, sem outras opções, submetem-se aos caprichos destes bandidos fardados.
Enquanto isso a população fica a mercê da impunidade crescente, sendo cada vez mais atingida de alguma maneira, quer por violência gratuita, quer por balas perdidas disparadas durante conflitos de policiais despreparados e bandidos. O tempo passa e não vemos soluções que nos traga de volta a tranqüilidade e nossos direitos de cidadãos. E as flores que deveriam embelezar a vida e perfumar a natureza cada vez mais são utilizadas nas despedidas dos que sucumbem sob as ações criminosas. As flores em forma de coroas com mensagens do tipo “A fulano, com saudade dos amigos e parentes”. Pena. As flores não deveriam ser utilizadas assim.

* Esta crônica está no livro "Ponto de Vista" a ser lançado brevemente com artigos, contos e crônicas. É proibida a cópia ou a reprodução sem a minha autorização. Visite meu site: www.ramos.prosaeverso.net  
Valdir Barreto Ramos
Enviado por Valdir Barreto Ramos em 07/06/2007
Reeditado em 17/10/2009
Código do texto: T518054
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