NÃO BASTA IR ÀS RUAS

Outra vez, o povo deu uma espreguiçada. Alguns vestiram vermelho, outros amarelo e foram às ruas. Uma grande maioria foi porque todos foram. Boa parte procurava uma câmera de televisão para aparecer. Só uns poucos sabiam o que faziam lá.

Ficou claro desde 2013, que protestos não incomodam o governo, nem os políticos. Basta eles aparecerem na TV. Jogar um pouco de conversa fiada. E tudo ficará como está. Os políticos vivem de uma certeza. Não existe moleza maior do que prometer e enganar o povo. É a marca registrada deles. Até os de Rio Negrinho sabem disso.

Diante dos protestos e do panelaço o script se repetiu. O Brasil precisa de uma reforma política. Então vem a velha discussão que não tem interesse nenhum para o povo. O financiamento de campanha. A criminalização do caixa dois. Daí cria-se o “três”. Novamente a reforma política vai obedecer estritamente os interesses dos políticos.

Um dos grandes erros dos protestos atuais é centrar na figura de Dilma Rousseff. A presidente não governa e nem fecha os olhos para a corrupção sozinha. Tem um Congresso Nacional inteiro colaborando. Na mesma semana dos protestos, as verbas do fundo partidário elevaram-se para oitocentos milhões de reais. Fora os desvios.

Então não basta o povo ir às ruas. É preciso apresentar reivindicações para a reforma política. A primeira deveria ser o fim do voto obrigatório. Querendo ou não, somos todos corresponsáveis pelo que vem acontecendo no Brasil na nova república.

Eu tenho as minhas reivindicações próprias. A primeira seria diminuir em um terço o número de senadores. De deputados federais e estaduais. E de vereadores. Diminuir também o número de partidos políticos para cinco. Extirpar o vírus dos caça-cargos.

Depois de dois mandatos consecutivos, os políticos não poderiam assumir nenhum cargo eletivo, ou de ministro, por exemplo, por mais oito anos. Assim o Brasil deixaria de fabricar algumas figuras nefastas da política nacional, que se perpetuaram ou se perpetuam de alguma forma no poder. Hora apoiando o governo. Hora na oposição.

Eu tiraria dos políticos, o poder de legislarem em causa própria. E incluindo os ex-presidentes, só poderiam se aposentar pelo regime normal de aposentaria. Teto máximo de dez salários mínimos. Afinal, ninguém pediu para ele ser presidente ou político.

Se a corrupção é revoltante. “Fedorenta como um bicho morto”, nas palavras do Papa Francisco, saber dos altos valores das aposentadorias dos políticos, não seria muito diferente. No fim, ainda são os políticos e o setor público, os culpados por uma previdência falida. Nunca o pobre salário-mínimo do trabalhador.