O Fator Paulista
O Fator Paulista
Domingo, 15 de março de 2015, cerca de 1 milhão de pessoas estiveram na Av. Paulista, São Paulo, capital, para manifestar o que cantou Gonzaguinha: nós não estamos com a bunda exposta na janela, pra alguém passar a mão nela.
Ontem recebi de um amigo o vídeo do programa de John Oliver veiculado no último final de semana nos EUA e Canadá. Humor colírio para uma situação geral que requer cautela e autocrítica. O apresentador fala sobre o governo Dilma e as propinas e explica para o público que quando ele está mencionando "propina", não se refere a algo como 5 mil dólares dentro de um envelope deixado debaixo de um móvel e sim 800 milhões de dólares. As pessoas riem. No humor de Oliver vem a inserção de que "deviam construir um banco para colocar todo esse dinheiro".
Para eles isso é surreal. Verdade seja dita, ninguém sabe dos números, fatos vem e vão e contam com nosso esquecimento, 2 ou 3 meses atrás falava-se em 20 bilhões de dólares, e conheço pessoas que aventam o montante em muito mais do que isso. Dá o que pensar quando um funcionário de baixo escalão devolve 100 milhões, do mesmo jeito que o cobrador me devolve 50 centavos quando pago a passagem com duas notas de 2 reais.
Perdemos a noção a faz tempo.
No final dos 80 o filho do dono de um grande jornal foi entrevistado (e cercado com uma quantidade de rapapés inimagináveis) em programa na minha opinião antológico , onde surgiu a seguinte indagação por parte de um dos entrevistadores: qual a primeira coisa que você vê quando o jornal está impresso, pronto para ir para as bancas? O sujeito responde: a seção de quadrinhos.
Ai, ai, a quem muito foi dado, muito será cobrado.
Se você teve a chance de prestar atenção nos manifestantes, o que fica evidente é que apesar da alegria dos afins ao se encontrarem para uma causa que vale a pena, paira no ar o velho slogan: chega uma hora que chega.
Oliver nos traz a realidade da qual não somos capazes de ainda enxergar por inteiro. Interessante o final do vídeo, quando entra em pauta a atribuição de culpa ao famigerado caso do petróleo.
Penso que alguns lugares funcionam graças a determinado pragmatismo aliado a não ultrapassagem de certos limites que dizem respeito a valores intrínsecos de conduta do ser humano, seja ele um funcionário graduado do estado, um prestador de serviços, um artista, etc.
O papel de parte da mídia sobre o evento em 15.03 eu não diria apenas criminoso, diria infantil, semelhante a contos tipo A Gata Borralheira, há o personagem perverso fazendo torpezas óbvias, a platéia exclama: cuidado! O protagonista não vê, tudo tão elementar e maldoso, sendo o alvo maior dessa narrativa aquele que por força das circunstâncias não consegue discernir.
No primeiro dia útil de fevereiro tive de ir ao banco para cumprir obrigações, os trâmites se dilataram um pouco, proseei a esmo com o gerente, veio algo sobre o dólar. Ele me deu uma aula detalhada acerca de oscilações e de que a moeda americana só chegaria em 3 reais no mês de dezembro. Nem sei porque fui abrir a boca, eu só estava puxando assunto, não entendo duas gramas de economia, apenas que, enquanto ele falava sem parar, dentro de mim fluía cristalino o inverso do exposto.
O Fator Paulista, título alusivo a avenida Paulista e a agremiação de pessoas em 15.03, encerra esta breve divagação me levando a crer que pouquíssimos manifestantes tem noção do rombo no qual estamos metidos. O SBT, por exemplo, mostrou venezuelanos exibindo faixas com dizeres "Seu governo apóia a ditadura na Venezuela".
Sei que ninguém estava lá para apoiar uma legenda. Sei que a sensação geral desta irmandade equivale a "há algo de errado". Tem alguém na platéia gritando: cuidado! Vê-se um personagem degenerado elucubrando malvadezas. O protagonista ainda não consegue divisar com clareza.
Ele depende de sinais, sinais estes que vem da generosidade e coragem de outros. Tudo para ele parece misterioso, exceto, talvez, a noção de quem seja o protagonista nessa trama galopante.
(Imagem: decorridos 5 anos e depois de inúmeras e vultuosas manifestações a PM faz Continência para o povo na Av. Paulista em 24.05.20)
O Fator Paulista
Domingo, 15 de março de 2015, cerca de 1 milhão de pessoas estiveram na Av. Paulista, São Paulo, capital, para manifestar o que cantou Gonzaguinha: nós não estamos com a bunda exposta na janela, pra alguém passar a mão nela.
Ontem recebi de um amigo o vídeo do programa de John Oliver veiculado no último final de semana nos EUA e Canadá. Humor colírio para uma situação geral que requer cautela e autocrítica. O apresentador fala sobre o governo Dilma e as propinas e explica para o público que quando ele está mencionando "propina", não se refere a algo como 5 mil dólares dentro de um envelope deixado debaixo de um móvel e sim 800 milhões de dólares. As pessoas riem. No humor de Oliver vem a inserção de que "deviam construir um banco para colocar todo esse dinheiro".
Para eles isso é surreal. Verdade seja dita, ninguém sabe dos números, fatos vem e vão e contam com nosso esquecimento, 2 ou 3 meses atrás falava-se em 20 bilhões de dólares, e conheço pessoas que aventam o montante em muito mais do que isso. Dá o que pensar quando um funcionário de baixo escalão devolve 100 milhões, do mesmo jeito que o cobrador me devolve 50 centavos quando pago a passagem com duas notas de 2 reais.
Perdemos a noção a faz tempo.
No final dos 80 o filho do dono de um grande jornal foi entrevistado (e cercado com uma quantidade de rapapés inimagináveis) em programa na minha opinião antológico , onde surgiu a seguinte indagação por parte de um dos entrevistadores: qual a primeira coisa que você vê quando o jornal está impresso, pronto para ir para as bancas? O sujeito responde: a seção de quadrinhos.
Ai, ai, a quem muito foi dado, muito será cobrado.
Se você teve a chance de prestar atenção nos manifestantes, o que fica evidente é que apesar da alegria dos afins ao se encontrarem para uma causa que vale a pena, paira no ar o velho slogan: chega uma hora que chega.
Oliver nos traz a realidade da qual não somos capazes de ainda enxergar por inteiro. Interessante o final do vídeo, quando entra em pauta a atribuição de culpa ao famigerado caso do petróleo.
Penso que alguns lugares funcionam graças a determinado pragmatismo aliado a não ultrapassagem de certos limites que dizem respeito a valores intrínsecos de conduta do ser humano, seja ele um funcionário graduado do estado, um prestador de serviços, um artista, etc.
O papel de parte da mídia sobre o evento em 15.03 eu não diria apenas criminoso, diria infantil, semelhante a contos tipo A Gata Borralheira, há o personagem perverso fazendo torpezas óbvias, a platéia exclama: cuidado! O protagonista não vê, tudo tão elementar e maldoso, sendo o alvo maior dessa narrativa aquele que por força das circunstâncias não consegue discernir.
No primeiro dia útil de fevereiro tive de ir ao banco para cumprir obrigações, os trâmites se dilataram um pouco, proseei a esmo com o gerente, veio algo sobre o dólar. Ele me deu uma aula detalhada acerca de oscilações e de que a moeda americana só chegaria em 3 reais no mês de dezembro. Nem sei porque fui abrir a boca, eu só estava puxando assunto, não entendo duas gramas de economia, apenas que, enquanto ele falava sem parar, dentro de mim fluía cristalino o inverso do exposto.
O Fator Paulista, título alusivo a avenida Paulista e a agremiação de pessoas em 15.03, encerra esta breve divagação me levando a crer que pouquíssimos manifestantes tem noção do rombo no qual estamos metidos. O SBT, por exemplo, mostrou venezuelanos exibindo faixas com dizeres "Seu governo apóia a ditadura na Venezuela".
Sei que ninguém estava lá para apoiar uma legenda. Sei que a sensação geral desta irmandade equivale a "há algo de errado". Tem alguém na platéia gritando: cuidado! Vê-se um personagem degenerado elucubrando malvadezas. O protagonista ainda não consegue divisar com clareza.
Ele depende de sinais, sinais estes que vem da generosidade e coragem de outros. Tudo para ele parece misterioso, exceto, talvez, a noção de quem seja o protagonista nessa trama galopante.
(Imagem: decorridos 5 anos e depois de inúmeras e vultuosas manifestações a PM faz Continência para o povo na Av. Paulista em 24.05.20)