A REFORMA, ATÉ LUTERO.
Martinho Lutero (1483-1546), Frade Agostiniano, Professor Doutor de Teologia pela Universidade de Wittgemberg, é considerado o pai da Reforma Religiosa, popularmente chamada de Reforma Protestante.
Porém, esse movimento iniciou-se um pouco antes, na Baixa Idade Média, com a multiplicação dos hereges (aqueles que negam algum ensinamento da doutrina da sua religião), tendo como hereges mais significativos, os albigenses ou cátaros (“puros” em grego). Oriundos do sul da França, os albigenses cresceram até assumirem o caráter de uma igreja organizada, em expansão, passando a falarem o provençal (idioma advindo do latim), com cultura própria, onde suas principais crenças eram: o bem e o mal eram eternos e Jesus era um anjo que veio para ensinar os homens a escaparem das tentações do mal. Eles não admitiam juramentos, nem sacramentos e não derramavam sangue nem em defesa própria (alusão bastante clara às relações de suserania e vassalagem existente no sistema feudal, onde havia o pacto de sangue entre os senhores e servos). O resultado dessa “insurreição” foi à condenação – por parte da Igreja Católica em 1184 – e a sua exterminação na guerra entre 1209 e 1229, acabando assim com a cultura provençal em definitivo. Detalhe: quem participasse da Cruzada Albigense (como ficou conhecida à matança) o Papa da época (Inocêncio III – 1160 a 1216), concedia perdão total dos seus pecados (a mesma indulgência dada aos participantes das Cruzadas da Terra Santa) e uma parte do espólio da guerra.
Outros, individualmente, foram considerados os precursores da “Reforma”, dentre eles, John Wycliffe (c. 1330-1384), professor em Oxford, Inglaterra, ao denunciar a corrupção do Clero, desafiando a autoridade da Igreja Católica. John Wycliffe atraiu a ira da igreja ao afirmar que, qualquer um que tivesse fé, se salvaria, sobrepondo-se à Doutrina Católica que, além da fé, era necessária também a prática das “boas ações”, como por exemplo, a compra de indulgências. Suas idéias serviram de inspiração para as 95 Teses de Lutero.
O Padre Jan Huss (c. 1370-1415) natural da Boêmia (hoje região da República Tcheca), profundo conhecedor dos Textos Bíblicos e do pensamento de Wycliffe, pregava a obediência às Escrituras e denunciou a corrupção e o luxo do Clero. Traduziu, para a sua língua natal, Textos Sagrados e, com a sua morte em 1415 – queimado em fogueira por ordem do imperador Segismundo (1368-1437) do Sacro Império Romano-Germânico, deu origem ao Hussismo, movimento de massa contra as autoridades – eclesiástica e imperial –, sendo que, cem anos depois, devido a sua importância nesse contexto, Huss foi admitido, pelo próprio Lutero, como o grande precursor da Reforma.
Em 1517, Martinho Lutero, revoltado com a desmoralização da Igreja Católica, fixa na porta da sua igreja as 95 Teses onde criticava ferozmente a Igreja Papal, tendo o Papa Leão X ordenado a sua retratação em 1520, sob pena de ser considerado herege. Lutero, porém, queimou em praça pública a ordem Papal, sendo excomungado em 1521.
Todo esse processo, aparentemente de cunho religioso, trazia embutido, em seu bojo, a clara insatisfação dos nobres (principalmente alemães) e dos camponeses, desejosos (os dois segmentos da sociedade) de escaparem do poder que a Igreja impunha sobre eles. Os nobres ambicionavam apoderarem-se das terras da Igreja – que outrora já lhes pertencera –, para com isso, ampliar seus poderes abalados com a decadência do Feudalismo e, os camponeses, da miséria em que viviam.
Em 1555, o imperador alemão Carlos V, que defendia o interesse da Igreja Católica, concede aos príncipes alemães o direito de escolher sua religião, através do acordo assinado e chamado de “Paz de Algsburgo”. Vale aí um dado interessante: a Igreja detinha, nessa época, 1/3 (um terço) das terras francesas e mais de 40% (quarenta por cento) das terras férteis alemãs.
E os camponeses? Bem, os camponeses, juntamente com o seu líder Thomas Muntzer (seguidor de Lutero, de estilo radical, que reivindicava a divisão das terras da Igreja entre os pobres), foi criticado pelo próprio Lutero por apoiar o movimento dos camponeses (conhecidos por anabatistas). Muntzer revidou chamando Lutero de “Doutor Mentiroso” – rompendo assim com o monge – sofrendo, juntamente com os anabatistas, violenta repressão por parte da nobreza (vale salientar que foi com total apoio de Lutero), tendo como resultado final à morte de mais de cem mil camponeses – dentre eles – Thomaz Muntzer, que morreu decapitado.
Seria correto afirmar – como forma de aprofundamento – que a Reforma de Lutero, apesar do seu cunho religioso, foi também uma reforma político-financeiro, devendo o seu sucesso à nobreza e à burguesia, com a participação da classe menos privilegiada, de massa, que foram os camponeses? E que, por motivos distintos e ao mesmo tempo comuns (já que fica clara a intenção pela posse da terra e do capital), esses segmentos ambicionavam o poder e a riqueza que Roma possuía? E que dentre as etapas da Reforma, a construção da Catedral de São Pedro, em Roma, promulgando uma das mais notáveis vendas de indulgências já vista na Europa, acelerou a crise? E que a burguesia emergente não aceitava o Tomismo adotado pela Igreja Católica, onde o “preço justo” deveria ser praticado, não havendo – para a prática do comércio – o lucro? A venda dessas indulgências foi um acordo firmado entre o Papa Leão X (1475-1521), a França, a Inglaterra e também com a participação dos banqueiros alemães, que dividiram com Roma os lucros obtidos na arrecadação de, por exemplo, o perdão total – por Deus – dos pecados; a venda de cargos eclesiásticos e, até, “relíquias sagradas”, tipo milhares de lascas da cruz de Jesus Cristo ou os ossos do burrico de São José.
Enfim, são reflexões, estudos, polêmicas, aprofundamentos, etc.
Martinho Lutero (1483-1546), Frade Agostiniano, Professor Doutor de Teologia pela Universidade de Wittgemberg, é considerado o pai da Reforma Religiosa, popularmente chamada de Reforma Protestante.
Porém, esse movimento iniciou-se um pouco antes, na Baixa Idade Média, com a multiplicação dos hereges (aqueles que negam algum ensinamento da doutrina da sua religião), tendo como hereges mais significativos, os albigenses ou cátaros (“puros” em grego). Oriundos do sul da França, os albigenses cresceram até assumirem o caráter de uma igreja organizada, em expansão, passando a falarem o provençal (idioma advindo do latim), com cultura própria, onde suas principais crenças eram: o bem e o mal eram eternos e Jesus era um anjo que veio para ensinar os homens a escaparem das tentações do mal. Eles não admitiam juramentos, nem sacramentos e não derramavam sangue nem em defesa própria (alusão bastante clara às relações de suserania e vassalagem existente no sistema feudal, onde havia o pacto de sangue entre os senhores e servos). O resultado dessa “insurreição” foi à condenação – por parte da Igreja Católica em 1184 – e a sua exterminação na guerra entre 1209 e 1229, acabando assim com a cultura provençal em definitivo. Detalhe: quem participasse da Cruzada Albigense (como ficou conhecida à matança) o Papa da época (Inocêncio III – 1160 a 1216), concedia perdão total dos seus pecados (a mesma indulgência dada aos participantes das Cruzadas da Terra Santa) e uma parte do espólio da guerra.
Outros, individualmente, foram considerados os precursores da “Reforma”, dentre eles, John Wycliffe (c. 1330-1384), professor em Oxford, Inglaterra, ao denunciar a corrupção do Clero, desafiando a autoridade da Igreja Católica. John Wycliffe atraiu a ira da igreja ao afirmar que, qualquer um que tivesse fé, se salvaria, sobrepondo-se à Doutrina Católica que, além da fé, era necessária também a prática das “boas ações”, como por exemplo, a compra de indulgências. Suas idéias serviram de inspiração para as 95 Teses de Lutero.
O Padre Jan Huss (c. 1370-1415) natural da Boêmia (hoje região da República Tcheca), profundo conhecedor dos Textos Bíblicos e do pensamento de Wycliffe, pregava a obediência às Escrituras e denunciou a corrupção e o luxo do Clero. Traduziu, para a sua língua natal, Textos Sagrados e, com a sua morte em 1415 – queimado em fogueira por ordem do imperador Segismundo (1368-1437) do Sacro Império Romano-Germânico, deu origem ao Hussismo, movimento de massa contra as autoridades – eclesiástica e imperial –, sendo que, cem anos depois, devido a sua importância nesse contexto, Huss foi admitido, pelo próprio Lutero, como o grande precursor da Reforma.
Em 1517, Martinho Lutero, revoltado com a desmoralização da Igreja Católica, fixa na porta da sua igreja as 95 Teses onde criticava ferozmente a Igreja Papal, tendo o Papa Leão X ordenado a sua retratação em 1520, sob pena de ser considerado herege. Lutero, porém, queimou em praça pública a ordem Papal, sendo excomungado em 1521.
Todo esse processo, aparentemente de cunho religioso, trazia embutido, em seu bojo, a clara insatisfação dos nobres (principalmente alemães) e dos camponeses, desejosos (os dois segmentos da sociedade) de escaparem do poder que a Igreja impunha sobre eles. Os nobres ambicionavam apoderarem-se das terras da Igreja – que outrora já lhes pertencera –, para com isso, ampliar seus poderes abalados com a decadência do Feudalismo e, os camponeses, da miséria em que viviam.
Em 1555, o imperador alemão Carlos V, que defendia o interesse da Igreja Católica, concede aos príncipes alemães o direito de escolher sua religião, através do acordo assinado e chamado de “Paz de Algsburgo”. Vale aí um dado interessante: a Igreja detinha, nessa época, 1/3 (um terço) das terras francesas e mais de 40% (quarenta por cento) das terras férteis alemãs.
E os camponeses? Bem, os camponeses, juntamente com o seu líder Thomas Muntzer (seguidor de Lutero, de estilo radical, que reivindicava a divisão das terras da Igreja entre os pobres), foi criticado pelo próprio Lutero por apoiar o movimento dos camponeses (conhecidos por anabatistas). Muntzer revidou chamando Lutero de “Doutor Mentiroso” – rompendo assim com o monge – sofrendo, juntamente com os anabatistas, violenta repressão por parte da nobreza (vale salientar que foi com total apoio de Lutero), tendo como resultado final à morte de mais de cem mil camponeses – dentre eles – Thomaz Muntzer, que morreu decapitado.
Seria correto afirmar – como forma de aprofundamento – que a Reforma de Lutero, apesar do seu cunho religioso, foi também uma reforma político-financeiro, devendo o seu sucesso à nobreza e à burguesia, com a participação da classe menos privilegiada, de massa, que foram os camponeses? E que, por motivos distintos e ao mesmo tempo comuns (já que fica clara a intenção pela posse da terra e do capital), esses segmentos ambicionavam o poder e a riqueza que Roma possuía? E que dentre as etapas da Reforma, a construção da Catedral de São Pedro, em Roma, promulgando uma das mais notáveis vendas de indulgências já vista na Europa, acelerou a crise? E que a burguesia emergente não aceitava o Tomismo adotado pela Igreja Católica, onde o “preço justo” deveria ser praticado, não havendo – para a prática do comércio – o lucro? A venda dessas indulgências foi um acordo firmado entre o Papa Leão X (1475-1521), a França, a Inglaterra e também com a participação dos banqueiros alemães, que dividiram com Roma os lucros obtidos na arrecadação de, por exemplo, o perdão total – por Deus – dos pecados; a venda de cargos eclesiásticos e, até, “relíquias sagradas”, tipo milhares de lascas da cruz de Jesus Cristo ou os ossos do burrico de São José.
Enfim, são reflexões, estudos, polêmicas, aprofundamentos, etc.
Obs. Imagem da internet
20/11/05.