Queda livre

A cada instante, a queda no abismo da falta de cidadania torna-se inevitável. Cada um de nós está perdendo o que ainda resta de esperança na tentativa da recuperação em pouco tempo, de um nível razoável de vida digna. Os acontecimentos que ocorrem em série veloz, não nos dão tempo de retomar o fôlego para enfrentar o próximo fato negativo.

Repentinamente fomos jogados na arena de luta, sem sabermos exatamente o quanto de culpa temos neste processo de degradação de nossas vidas. No momento do incêndio na floresta, todos em volta correm altos riscos, mesmo não tendo participado da origem do mesmo. A salvação de cada um depende da ação desprendida de todos. Mas aí está o grande entrave. Ao invés de nos unirmos para enfrentarmos o problema de frente, vamos nos afastando, alegando que não temos culpa pelo que está acontecendo. E com isto, a área queimada aumentará e nos empurrará pelo espaço negro onde não enxergamos o fundo. Mesmo que seja viável, custará um alto preço: milhares de vidas inocentes.

Nosso grande incêndio nacional é alimentado pela corrupção e pela impunidade. Não sabemos exatamente onde começou (alguns indícios apontam para o ano 1500), mas temos noção de que cada dia aumenta, na razão inversa de nossa acomodação. Há mais de 15 anos existem fortes focos permanentes de corrupção dentro dos vários escalões do governo. Começaram tímidos e espalhados. Fingimos que não nos traziam maior perigo, pois não pretendíamos abrir mão de tempos destinados às novelas, às praias, ao futebol, ao “paredão” e ao samba. O nosso bem estar (e de nossos filhos e netos) e nossos direitos que esperassem uma folga em nossa agenda entupida por futilidades.

Agora que os focos cresceram e multiplicaram, nossos recursos para combate estão escassos. Quando somos lesados descaradamente em qualquer área e recorremos à Justiça, descobrimos (?) tardiamente que neste fórum também a Lei não atende aos desprovidos de prestígio ou dinheiro. Quando denunciamos os fatos à imprensa, observamos que ela não dá destaque nem faz pressão constante para não correr riscos de desagradar atuais ou potenciais patrocinadores.

E nos resignamos e nos conformamos como disciplinada boiada, desde que ainda sobrem algumas migalhas para disputarmos com outros miseráveis. Eventualmente surgem abnegados que possuem visão do futuro e desprendimento e se entregam à luta de tentar esclarecer as mentes anestesiadas durante décadas pelas novelas sem valores morais. Mas isto não tem sido suficiente para contaminar nossa população no sentido de se unir em busca de uma melhor qualidade de vida. Nos falta a garra e a bravura que se desenvolvem em situação de desgraça coletiva, que ensinam a valorizar as conquistas obtidas às custas de dor e sangue. Aqueles que jamais sofreram terremotos, ondas de vulcões, rigores das guerras ou epidemias em grande escala, não aprenderam a valorizar seus semelhantes que lutaram irmanados em busca da cidadania profundamente ferida. E assim, se tornam indolentes fáceis de serem enganados pelos inescrupulosos que ditam as leis em benefício próprio. Mas o que esperar de um país onde o grito de independência não passou de um arroto à beira de um riacho que não foi manchado por nenhuma gota de sangue?

Este cenário faz com que o povo iludido embarque e ajude a conduzir a nau para o olho do furacão da corrupção que nos manterá colônia a ser explorada por mais 500 anos pelos abutres que já sugaram as esperanças de outras nações do planeta. E o pior é que fazemos isto dando "autenticidade" ao fato, pois através do voto irresponsável, passamos procuração aos ratos de gravata para sugarem nossas esperanças de uma vida digna. Voto este agora dispensado com o advento das urnas-E passíveis de várias sabotagens para eternizar os pilantras no podre poder.

Haroldo P. Barboza/RJ – Recreação educativa (idosos e infantil)

Autor do livro: Brinque e cresça feliz

Haroldo
Enviado por Haroldo em 07/06/2007
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