A 1ª ESCOLA A GENTE NUNCA ESQUECE
Vou aproveitar a semana do dia da escola para homenagear a minha primeira escola. Que neste ano de 2015 está completando 50 anos. Nos dias atuais quando se fala em escolas, logo se imagina as salas de informática. As bibliotecas recheadas de livros. Os professores acabam ficando em segundo plano.
Minha primeira escola nasceu ainda no comecinho da Ditadura Militar. Muitos só acreditariam quando vissem as fotos. No início a escola construída tinha apenas duas salas de aula. De alvenaria apenas só os pilares. O resto era toda de madeira.
No recreio dos dias de chuvas, os alunos se amontoavam numa varanda de um metro de largura, no comprimento das duas salas. E os banheiros. Sim, eles eram aqueles que quem tem mais de cinquenta anos conheceram bem. Tinha o buraco, ainda sem a fossa.
Minha primeira escola é uma boa lembrança, para dizer que em alguns aspectos o Brasil não mudou uma vírgula desde a ditadura. Conta-se que na época, o dinheiro liberado pelo governo era para construir sete salas de aula em alvenaria. Estranhamente, parece que muito desse dinheiro desviou-se e perdeu-se nos bolsos de alguns.
E todos sabem como são os moleques. Como ninguém sabia quando a escola funcionaria, fui matriculado numa escola grande e bonita. E mesmo precisando atravessar toda a cidade. Subir mais dois ou três morros, eu não estava a fim de trocar, e ir para uma escola feia. Fazia bullying com meu choro de “não quero ir nessa escola”.
Mesmo que ela estivesse a duzentos metros da minha casa. Menos ainda, porque poderia chegar lá pelos fundos do quintal. Um penau de madeira enfeitado de adesivos me convenceu. Nos dias atuais, convencer os moleques ficou mais difícil.
Acabamos esquecendo a aparência, quando vamos conhecendo as pessoas que fazem a escola. As professoras. Os novos colegas. As balas e os doces do dia das crianças.
Ou de se sentir todo “bobo”. O que hoje poderia ser chamado de ostentação quando ao fim do ano letivo, os melhores alunos das séries eram convidados a assinar o Livro de Honra da escola. Eu tive o prazer dessa ostentação muitas vezes.
Meio século depois, eu não sei onde ficou o meu penau de madeira com adesivos. Mas lembro da menina com a caligrafia mais bonita da escola. Que depois ficaria gravada em vários livros caixas de contabilidade no escritório que trabalhamos juntos.
E não tem como se esquecer do “Jornal da Sala”. Apelido dado por uma professora para a menina que antes da aula, e depois do recreio fofocava tudo o que tinha acontecido no dia. Só depois a aula começava, ou recomeçava. Tadinho de mim se ela lesse isso.