Sobre a repetição do Discurso Vazio
Quando a bocibilidade toma ares de racionalidade, tudo que vem junto, assume o triste caráter de quão o ser humano é imbecil. A esses beócios, não resta outra coisa, senão reproduzir o que determinado grupo de mídia e mesmo deputado, querem que se reproduza. E é nesse trilhar de bocibilidade que, como se fossem gados a caminho do matadouro, uma legião de paquidérmicas cabeças vão. Nada pensam, nada fazem, apenas ruminam seus preconceitos como se tudo se resolvesse nessa ladainha de insatisfação fabricada. E assim, sob gritos que nem sabem o querem dizer, lançam-se com ódio e rancor sob a pele daquele que lhe pareça inimigo. É nesse instante, que toda a verve de ódio e bocibilidade toma corpo e se cristaliza sob a falsa auréola de que lutar por um país melhor se consegue sob a triste vontade de que tudo é possível, mesmo que para isso o Outro terá que inexistir. Porém, essa mesma gente, que em dias comuns, ignora que no viaduto próximo dorme uma família. Não lhe apraz saber que logo ali, na próxima esquina, onde provavelmente, parará com seu carrão, uma criança, ainda sem ter ideia do que o futuro lhe reserva, ou mesmo o que significa futuro, talvez ela nem sobreviva para o tempo que não chegou. Mas essa gente tem pressa. Tem tanta pressa por fazer desse país um lugar sem cor preta, sem gente desdentada, sem gente sem moradia, que essa gente que tem pressa, não liga para essas coisas. A vida para elas se resume a um elemento tão próximo ao umbigo, que nada importa se aquele segundo, aquele micro segundo, significar alguma perda de sua atenção na vitrine em frente, ela, sem que isso lhe cause constrangimento, não titubeará; apressará seus passos para que seu precioso tempo adquira o valor necessário no universo do tempo-valor.
O instante imediato da mudança, só se configura importante, quando para essa gente, outra parte, que ela nem sabia da sua existência, passa a desfrutar dos mesmos bens que ela julgava serem intransferíveis. E é nesse instante imediato da mudança que a repetição do discurso vazio alcança e adere na pele, como se uma segunda fosse, e passa a fazer parte de todo seu vocabulário como ferramenta de eliminação do Outro. Eliminar o Outro, para que sua vida não seja contaminada. É, a partir desse instante, que o novo arcabouço, do qual ela lançará mão como uma granada a explodir no pé daquele que lhe pareça um perigo, surge eivado do mais rico vocabulário de impropérios. É nesse limiar de ódio e rancor que a ou o infeliz descarrega sobre o Outro todo seu vasto arsenal de frustração. Porém, como todo frustrado não se reconhece como tal, mesmo porque, reconhecer-se, obriga-o a se "inferiorizar", mas, ele, que sempre se julga superior e tudo e a todos, não é tão imbecil a ponto de cometer tamanha desfaçatez.
Amparadas por discursos que nem sabem o que escondem, essas ostras, como se fossem detentoras de um discurso racional, não sabem, mas, nada são senão marionetes de pequeno grupo que se diz representante de algo. Buscar referências, quase sempre, sem nenhum critério objetivo, mesmo porque objetividade não é o ferramental para os que só querem manter seus ganhos, dos mais variados e mesmo dos mais suspeitos que possam ser, garantir seus ganhos não tem limites. E é ai, nessa doentia gana de manter o que conseguiu ao custo de vidas e gerações inteiras, que entram aqueles dos mais beócios propagadores de ideias carregadas de ódio e preconceito. Tenho pena. Tenho profunda pena dessas cabeças, não porque elas se comportam como gados, mas porque, também tem a capacidade de gerar filhos. Nesse ponto, a natureza realmente não faz distinções; mesmo para os beócios, a natureza reserva seu direito de procriar. É isso.