O ministério da direção espiritual (Parte I)
Gostaria de começar esta nossa reflexão com um pensamento do Rabino Itschak Iaakov de Lublin: “É mais fácil encontrar um discípulo do que um rabino. Porque fazer crer é mais fácil do que crer. Dar é mais fácil do que receber. Enfim, ser aprendiz e mais humano do que ser mestre”.
A prática da direção espiritual se desenvolve a partir de duas figuras: do diretor ou diretora espiritual (mestre ou mestra) e do dirigido ou dirigida (discípulo ou discípula). A direção emerge daí: do diálogo estabelecido entre ambos.
No dia que ingressei no seminário, há vinte e três anos, logo no dia seguinte o reitor determinou que cada seminarista buscaria a direção espiritual com um dos três padres designados para tal ministério. Fiquei surpreso com aquela determinação, pois durante o período de preparação para o seminário não havia ficado claro para mim o que seria uma direção espiritual.
Após aquela conversa do reitor, na missa vespertina, nos apresentaram os três padres denominados de “espirituais” que iriam atender a direção espiritual de todos os seminaristas. O primeiro era gaúcho e de fala apressada e inquieto; o segundo um espanhol já de certa idade e de voz alta, já que era bastante surdo; por último, um padre novinho, com pouco mais de um ano de ministério e muito risonho. O reitor nos pediu que após quinze dias de convívio com a equipe de formação, incluídos aí os diretores espirituais, cada seminarista escolheria, entre os três, o seu orientador espiritual. Era preciso haver um mínimo de simpatia e afinidade.
Preocupado, procurei um seminarista veterano, com três anos de seminário e bem experiente, para me inteirar sobre o que era realmente a direção espiritual. Aquele prestativo seminarista, com quem conservo uma profunda amizade, por sinal um exemplar sacerdote, me pôs a par do que seria a direção espiritual. Foi uma bênção; escolhi o velho espanhol, de venerável memória, e me saí muito bem. Foi uma rica experiência para mim.
Na definição de William Barry, “a direção espiritual diz respeito a uma ajuda direta que se dá a alguém quanto ao seu relacionamento com Deus”. Não podemos confundir direção espiritual com ajuda pastoral ou existencial. Esta segunda se dá no nível mais imediato da vida da pessoa, segundo uma situação determinada. Aqui poderíamos aludir aos ministérios de oração de cura interior e de libertação, onde as pessoas com problemas de aflição, angústia, doenças e desespero recebem inestimáveis ajudas espirituais e conforto através da oração e da evangelização pessoal. Essas ajudas não podem ser consideradas, de antemão, direção espiritual.
Na direção espiritual o dirigido busca no orientador, de forma sistemática e profunda, indicativos para melhorar sua intimidade com Deus. Nesse caso, se supõe que o diretor espiritual deva ser um mestre de oração e de profunda união com Deus. Podemos lembrar aqui do episódio da conversão de Santo Agostinho. O seu mestre espiritual foi o bispo de Milão, Santo Ambrósio, com quem manteve longos colóquios para que sua fé fosse depurada do maniqueísmo e das experiências pagãs e se canalizasse para a vertente objetiva da fé no Deus único e verdadeiro.
A figura do mestre espiritual faz parte do acervo histórico da Igreja. Desde os primórdios da era cristã, os neófitos (novos na fé), procuraram aprofundar seu relacionamento com Deus através da direção espiritual. O amadurecimento na fé, geralmente, vem acompanhado desse processo e passa pela mediação deste ministério importante da orientação espiritual.
Na próxima oportunidade vamos falar um pouquinho de cada personagem do processo da direção espiritual.
Sei que você está com pressa para sanar muitas dúvidas relacionadas a este tema; aos poucos vamos tentar, muito sucintamente, descrever o mosaico que compõe o grande e importante quadro da direção espiritual.
Pe. Adair José Guimarães