O que há de errado com os filósofos?

Os verdadeiros filósofos nunca foram bem-vistos pela sociedade de seu tempo. Muitos foram perseguidos e mortos. Sócrates, por exemplo, mestre de Platão, foi condenado a beber cicuta, um veneno. As acusações contra ele: desrespeitar os deuses da cidade (não acreditava neles), “porque acreditava num Deus superior” e corrompia a juventude. Sócrates preferiu não fugir, mesmo tendo a oportunidade de fazê-lo. Uma pergunta: como um homem que aconselhava as pessoas a praticarem a virtude e a cuidarem mais da alma do que do corpo poderia corromper alguém?

Ele era um incômodo para a sociedade ateniense. Diante da afirmação de que ele era sábio, Sócrates, no entanto, dizia: “Só sei que nada sei”. Essa frase se tornou norteadora de sua filosofia. Talvez fosse a humildade desse homem que tanto incomodava os atenienses. Por ser tão destoante da maioria, ele era malvisto por aqueles que eram incapazes de reconhecer a própria ignorância, o desconhecimento do que imaginavam saber. Esse pensador buscava a verdade e uma vida virtuosa. O que havia de errado nisso? Muitos não faziam a mesma coisa e não gostavam dessa atitude do seu concidadão.

Aristóteles, discípulo de Platão, fugiu quando começou a ser perseguido. Dizia que desejava evitar que Atenas errasse outra vez contra a Filosofia. A primeira vez foi contra Sócrates.

O filósofo Giordano Bruno foi condenado à morte na fogueira. A “sentença foi executada no Campo dei Fiori, em 17 de fevereiro de 1600”. Esse pensador “não renegou o seu credo filosófico-religioso, morrendo para testemunhá-lo”. Mesmo morto, a sua filosofia viveu, pois o julgamento foi reaberto, “a consciência italiana recorreu do processo e, antes de mais nada, incriminou os que o haviam matado”.

O filósofo Spinoza, em virtude de seus dotes intelectuais, atraiu a atenção sobre si; os dirigentes da comunidade judaica desejaram que ele se tornasse rabino. O pensador não aceitou; um fanático tentou matá-lo. “Por sua presteza de reflexos e a sua agilidade”, Spinoza se livrou da morte, “mas guardou, como lembrança, o manto cortado pela punhalada”. Em 1656, o filósofo foi excomungado e banido da Sinagoga. Foi abandonado pelos amigos judeus e pelos parentes. A sua “irmã contestou-lhe até mesmo a herança paterna. Ele entrou com um processo para resolver a questão e venceu. Depois, porém, recusou tudo”, porque esse filósofo desejava lutar apenas pelo direito em si, e não pelos benefícios que viriam desse seu direito. Aqui, se vê, pois, um pouco do ideal de Spinoza.

Ainda escuto alguns intelectuais afirmando que Voltaire, filósofo francês, era ateu; o que não é verdade. Segundo Voltaire (pronuncia-se Vôlté, com a ênfase em “té”), “não há dúvida de que Deus existe. Para ele, como para Newton, Deus é o grande engenheiro ou mecânico que idealizou, criou e regulou o sistema do mundo. A existência de Deus é atestada pelas simples e sublimes leis em virtude das quais os mundos celestes correm no abismo dos espaços”. Quem quiser saber mais sobre esse pensador, basta ler o “Dicionário Filosófico” e o “Tratado Sobre a Tolerância”, que são algumas de suas obras. Uma de suas famosas frases é esta: “Morro adorando a Deus, amando meus amigos, não odiando meus inimigos, mas detestando a superstição”. Como, então, um homem desses poderia ser ateu? Em Paris, porém, não lhe deram sepultura cristã.

Analisando esses poucos casos, pode-se ver o que há de errado com os filósofos: eles são amantes e defensores implacáveis da liberdade de pensamento e expressão. Não é difícil saber qual a razão da Filosofia ter sido retirada das escolas no período da Ditadura Militar no Brasil, só voltando ao currículo escolar há pouco tempo, assim como a Sociologia. Não é difícil saber qual a razão da Dilma Rousseff ter sugerido, em uma entrevista de campanha em 2014, que a Filosofia não colabora para o bom currículo do Ensino Médio; não atrai. Não é difícil saber por que razão Dilma Rousseff não simpatiza com a Filosofia. Não é difícil saber por que razão a Filosofia nunca foi um saber e uma postura da maioria das pessoas do mundo. Não é difícil saber como sempre será a postura de um filósofo.

Obs.: Foram consultados dois volumes da obra “História da Filosofia”, de Giovanni Reale e Dario Antiseri. Consultei os volumes 1 e 2. As frases aspeadas foram extraídas desses dois volumes, com exceção da última frase de Voltaire, presente neste texto, que foi retirada de outro livro sobre esse poeta dramático e filósofo francês.

Domingos Ivan Barbosa
Enviado por Domingos Ivan Barbosa em 09/02/2015
Código do texto: T5131158
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